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O marasmo da rua 25 de Março em plena Black Friday

Endereço que é considerado o maior centro de comércio popular do país passou a sexta-feira com lojas vazias; cheio, só o McDonald's na hora do almoço

Por Teo Cury Atualizado em 25 nov 2016, 19h33 - Publicado em 25 nov 2016, 17h58

A lógica diria que, em um dos dias de mais intenso movimento do varejo brasileiro, o maior centro de comércio popular do país estaria inescapavelmente abarrotado. Pessoas dando e recebendo cotoveladas por uma pechincha, profusão de sacolas, vozerio. Mas, nesta sexta-feira, a lógica tirou folga. Na rua 25 de Março, centro nervoso de sacoleiros e caçadores de liquidações, a grande aglomeração de gente ocorreu no horário do almoço – na unidade do McDonald’s que funciona ali.

Ainda não há números fechados sobre o movimento de pessoas e o resultado das vendas na 25, que costuma atrair gente de todo o país nesta época do ano. A resignação, no entanto, foi a marca em comum de quase todos os depoimentos de empresários, vendedores, consumidores ou meros passantes colhidos pelo site de VEJA ao longo de quatro horas no local.

A maioria das lojas abriu a partir das 8h, mas o fluxo de consumidores só começou de fato a ser percebido no fim da manhã. Por volta das 11h20, as ruas que integram o complexo de compras estavam vazias. Havia mais carros passando do que pessoas andando, o contrário do que se vê em dias de forte movimento. “Não era para estar dando para andar aqui”, diz Fábio Chaves, fiscal de piso do Shopping 25 de Março. “Tem uns espaços danados nos corredores.”

“Bom que hoje não está lotado de gente”

Consumidora na 25 de Março

Talita Dantas, vendedora de uma loja de bijuterias, procura uma razão psicológica para o sumiço da clientela: “Os clientes estão com medo de gastar.” Com a experiência de quem trabalha ao menos uma vez por semana na rua, o soldado Teixeira, da Polícia Militar, teoriza: “A Black Friday afasta o consumidor da 25. Quem procura eletrodomésticos vai a outras lojas em datas como hoje.” Sem elucubrações, Regis Garibaldo, que tem um estande na Galeria Pagé, vai direto ao ponto: “As pessoas estão sem dinheiro.”

A Galeria Pagé, um dos mais tradicionais shoppings de São Paulo, fica a poucas quadras da 25 de Março. Lá estava a vendedora Daiane mexendo em seu smartphone, à espera de algum interessado por acessórios. As capinhas de celular abriram o dia a 15 reais, baixaram para 10 e, depois, para 5 – e nada de aparecer comprador. “Olha como está vazio”, disse. Uma cliente se aproxima e pergunta o preço de um protetor de cabo carregador de celular. “Está 10 reais”, responde a vendedora. A cliente agradece e vai pechinchar em outros estandes. “Viu só?”, diz ela. “As pessoas pesquisam, pesquisam e não compram.”

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Veteranos de Galeria Pagé, os libaneses Haidar e Hassan – que não quiseram informar seus sobrenomes – não pareciam decepcionados apenas com as vendas desta sexta: eles estão pessimistas em relação ao futuro. “Estou aqui há 18 anos e nunca vi igual”, reclama Haidar. “Quando chegava outubro, novembro e dezembro, não dava para andar aqui. Você era arrastado”.

Com um sotaque bastante carregado, Hassan conta que no último ano teve de demitir três funcionários para enxugar despesas. “No ano passado, eu não tinha tempo nem para jantar”, afirma. A carestia é tanta que o comerciante já pensa em voltar para o Líbano natal. Ele já despachou seus dois filhos para lá.

“A 25 está vazia. Dá até para desfilar na rua”

Funcionária de loja da 25 de Março

Exceções

O clima geral era de decepção, mas o complexo da 25 de Março – formado não apenas por essa rua, mas também por outras em seu entorno – tinha também quem celebrasse, ainda que em menor número. Ondamar, de sobrenome não informado, gerente de uma unidade do Armarinhos Fernando, acredita que, na verdade, “a crise favorece a 25 de Março” por causa de seus preços sempre convidativos. Doural João Carlos, gerente de vendas, apostava em crescimento de 20% nas vendas da Black Friday deste ano em relação às de 2015.

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“O movimento está ótimo para nós, maravilhoso”, exulta Samara Nascimento, vendedora da Le Charm Bijoux. “Temos clientes novos todos os dias e atendemos por WhatsApp gente de todo o Brasil.” Bijuterias que custavam 49 reais foram vendidas por 10 reais nesta sexta-feira, para a aparente alegria da comerciária.

“Cadê a promoção?”

“Nada barato, vergonha”, anunciava em voz alta um cliente insatisfeito fazendo o sinal de negativo com o polegar pela Casas Bahia da Praça Ramos, no centro de São Paulo, ponto a cerca de dez minutos de caminhada da 25 de Março.

“Que Deus ajude a gente hoje nas vendas, amém”

Funcionária da Casas Bahia, no início da manhã

A loja abriu pouco antes das 7h da manhã. Para contrariar a teoria do soldado Teixeira, para quem os consumidores correram para lojas de eletrodomésticos, mais de duas horas depois, o movimento continuava fraco no local. Não por falta de esforço da voz gravada que saía de uma caixa de som. “A maior Black Friday de todos os tempos”, bradava a voz. Andando apressada para a saída da loja, Dona Nalva de Almeida resmungava: “Eles anunciam um micro-ondas de 400 reais que não cabe nem um prato dentro.”

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Aparentemente uma das poucas clientes animadas na loja, a técnica de enfermagem Rita de Cássia informou que ia comprar uma geladeira por 2.199 reais, para a qual está juntando dinheiro desde janeiro. “Vou dividir com o meu marido, 1.000 reais meus e 1.000 reais dele.” Ainda à procura de uma substituta para sua atual, que tem respeitáveis 28 anos de serviços prestados – “ela está capengando” -, Rita já tem metade do valor total em dinheiro. Mas não seria ela a engordar as estatísticas da Black Friday deste ano. “Vamos comprar no dia 30 de novembro.”

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