Azevêdo: governos precisam decidir agora se OMC deve continuar
Em apelo aos membros, o presidente da Organização Mundial do Comércio disse que o órgão vive seu momento mais delicado da história
Faz pouco mais de um ano que o brasileiro Roberto Azevêdo assumiu a direção da Organização Mundial do Comércio (OMC) com a promessa de dar novo fôlego às negociações que, até então, caminhavam lentamente. Ele sabia que os desafios seriam grandes, mas não esperava uma resistência tão forte por parte da Índia na implementação do pacote aprovado em Bali, Indonésia, no ano passado, cujo objetivo é reduzir a burocracia no comércio global. Diante do impasse com os indianos – que batem de frente com os americanos – o diretor-geral da organização disse que este é o momento mais delicado da história da OMC e chegou a hora de governos dizerem se ainda querem manter a instituição.
Ao dizer que a atual situação da entidade é de paralisia, ele comentou que nem mesmo conseguiram chegar a um consenso sobre o cronograma do programa até o fim do ano. “Essa pode ser a situação mais séria que essa organização já enfrentou”, afirmou na quinta-feira. “Eu já havia alertado antes sobre a situação potencialmente perigosa e pedi que governos tomassem medidas para evitá-la”, completou, referindo-se a uma “situação perigosa” que o órgão já vive hoje e não algo que possa acontecer.
Nova Délhi quer garantias de que seus agricultores serão protegidos, mas os Estados Unidos recusam-se a aceitar as exigências. Assim, na opinião de Azevêdo, chegou a hora de os governos pensarem o que querem para o futuro da entidade. “Chegou o momento de encarar os problemas e ter uma discussão aberta”, defendeu. Há ainda o risco de membros da OMC começarem a firmar mais acordos bilaterais e desistirem da entidade.
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Brasil – Na quinta-feira, o Brasil recorreu à OMC para pedir o julgamento, pela entidade, das barreiras impostas pela Indonésia contra o frango nacional. Em Genebra, o Itamaraty solicitou oficialmente que a disputa, que já dura cinco anos, seja levada aos tribunais da entidade. A tentativa de acordo será negociada nos próximos 60 dias.
O entrave para as exportações brasileiras na Indonésia não vem de tarifas de importação, mas de barreiras técnicas. O país asiático estabeleceu regras mais rígidas no método do abate halal – que segue os preceitos islâmicos – que as regras que estão reconhecidas pelo Codex Alimentarius, código internacional de padrão dos alimentos. Além disso, os indonésios não aceitam os certificados sanitários produzidos no Brasil.
(Com Estadão Conteúdo)