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Mudança no teto e alta da Selic mudam a regra do jogo nos investimentos

Com mais oportunidades na renda fixa, analistas diminuem exposição na bolsa brasileira e indicam alocações no exterior que fogem da volatilidade doméstica

Por Luana Zanobia, Luisa Purchio Atualizado em 26 out 2021, 17h30 - Publicado em 26 out 2021, 10h24

A bolsa brasileira, B3, que registrou seu melhor momento no ano passado com a Selic em 2%, menor patamar da história, acumulou na semana passada perda de 7,38% após as notícias sobre o rompimento do teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família. O desrespeito à principal âncora fiscal do país deve pressionar ainda mais a inflação, elevando também as projeções da Selic para conter a alta dos preços. Se o cenário cria a tempestade perfeita para amargar ainda mais as perspectivas na renda variável, por outro lado, os investimentos em renda fixa voltam a ser atrativos. 

As perspectivas de alta na Selic para controlar a inflação, que acumula alta de 10,34%, em doze meses até outubro, segundo a prévia do indicador, vem alterando durante todo este ano a regra do jogo nos investimentos. A procura pelos ativos do Tesouro Direto continuam aumentando e em setembro tiveram alta de 2,8% em relação ao mês anterior. Os títulos atrelados à inflação predominaram a preferência dos investidores, com 55,2% do total, seguidos pelos títulos indexados à Selic, correspondendo a 25,6% do total. Por fim, aparecem os títulos prefixados, com 19,2%.

Os fundos de investimento na classe de renda fixa, por sua vez, registraram captação líquida de 237,2 bilhões de reais no acumulado do ano até setembro. O mês apresentou a maior captação mensal entre as classes, de 34,9 bilhões de reais, crescimento de 30% no ano. Para efeito de comparação, em janeiro, a captação líquida desses fundos era de 30,5 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Esses movimentos confirmam uma alocação para carteiras de perfil mais conservador”, diz a Anbima em relatório. Além disso, 15 das 16 subcategorias dos fundos de renda fixa mostraram resultado positivo no mês passado.

Na avaliação dos especialistas ouvidos por VEJA, a alta na Selic muda até mesmo as regras do jogo para os ativos da renda fixa. De acordo com a plataforma de análise da RB Investimentos, a demanda por produtos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) voltaram a se equilibrar com os atrelados à inflação. “Anteriormente, havia uma demanda menor por este produto porque a aposta era que taxa de juros ia ficar baixa no médio e longo prazo”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. O valor do CDI acompanha a taxa Selic, com as perspectivas de aumento na taxa, a demanda observada por investimentos em CDI também aumentaram. O conselho de Cruz para os investidores de perfil mais arrojado, que gostam de alocar em ações, é continuar realizando os aportes no mercado acionário, mas agora com foco nas bolsas do exterior.

Rafael Panonko, chefe de análise da Toro Investimentos, concorda com essa estratégia e aumentou de 10% para 12% a recomendação de exposição em ativos internacionais para o investidor de perfil balanceado. “Aumentamos o peso em ativos no mercado internacional tendo em vista a nossa crise em relação à situação fiscal, a volatilidade da bolsa e do dólar”, diz ele. “Mais de 70% das empresas que compõem o S&P 500 estão vindo com o resultado no terceiro trimestre acima das expectativas, então, ter investimentos atrelados a ETFs, BDRs e outros fundos multimercados com exposição ao exterior faz mais sentido”.

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Porém, a renda fixa pós-fixada continua predominando com 35% do portfólio, seguida por 20% de multimercados e 18% em ações. “Temos na carteira ações recomendadas baseadas principalmente em commodities como petróleo, além de proteína animal. Apesar de a arroba do boi ter caído recentemente, a gente acredita que é um mercado promissor. A mesma coisa para shoppings centers, que têm bons e baratos ativos neste momento”, diz Panonko.

Já Daniel de Paula, fundador da Nexgen Capital, agente autônomo credenciado à XP Investimentos, recomendou aos investidores manter uma posição relevante nas ações americanas, com base em uma previsão da XP Investimentos de que o S&P 500, principal índice da bolsa americana, crescerá 5% até o fim do ano. Ainda assim, achou melhor baixar de 35% para 25% esta exposição para apostar um pouco mais em ativos de renda fixa brasileiros.

“Nossa principal recomendação é se proteger da inflação e de um ambiente de aversão ao risco global, até porque lá fora a inflação está elevada. O aumento do teto de gastos na semana passada trouxe muita oportunidade para a renda fixa”, diz ele. “Os títulos de dívidas brasileiras estão com uma rentabilidade forte, de 6%, e não há mais tanta necessidade de correr riscos, como no passado, para alcançar este tipo de rentabilidade”, diz ele. Entre eles, estão ativos de crédito privado com rating alto pelas agências de crédito que devem pagar aproximadamente IPCA mais 6%, como as debêntures da concessão rodoviária Litorânea Sul e da Rede D’Or.

Aumento da Selic

O mercado espera que o Banco Central eleve de 1,25 a 1,50 pontos percentuais a Selic na penúltima reunião do ano, que acontece nesta quarta-feira, 27. Segundo especialistas, as perspectivas para inflação que anteriormente eram vistas como temporárias, agora assumem um caráter de permanência, assim como a taxa de juros que agora deve permanecer alta por um período de tempo maior que o previsto. A mudança no cenário fez com que os juros futuros (contratos DI) chegassem a 12% em 2031.

Nos últimos trinta dias, o IPCA+ para 2035, categoria de investimento recomendada pelos especialistas por estar atrelada à inflação, registrou salto na taxa de rentabilidade de 4,87% para 5,31%. Os títulos de renda fixa mais recomendados pelos especialistas com as altas consecutivas na inflação são os pós-fixados, aqueles em que o rendimento acompanha a variação do IPCA ou da Selic, no caso do Tesouro Selic.

Enquanto os ventos sopram a favor dos investimentos de renda fixa, os ativos de renda variável amargam perdas consideráveis com a maior aversão ao risco. A classe das ações registrou resgate líquido de 7,8 bilhões de reais no ano, sendo 3 bilhões de reais apenas no mês de setembro. Segundo a Anbima, o resultado é atribuído ao aumento do risco do índice Ibovespa, medido pela volatilidade anualizada, de 26,7% em setembro, a quarta maior máxima do ano, ficando atrás somente dos três primeiros meses do 2021, que foram marcados pela piora da pandemia. “O mercado acionário tem sido bastante prejudicado com todo o cenário fiscal, mas é importante lembrar que isso também abriu muitas oportunidades para o investimento em ações”, diz Yuri Veras Cavalcante, sócio da Aplix Investimentos em relação a oportunidades de preço geradas em momentos de fuga da Bolsa.

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