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Argentina e Venezuela ‘queimam’ imagem do Brasil, diz professor

Para Arturo Porzecanski , da American University, foco do Brasil no Mercosul dificulta desenvolvimento do comércio exterior do país e afasta investidores

Por Talita Fernandes
12 jun 2013, 08h17

Em tempos de mercados cada vez mais fechados e turbulências econômicas que não cessam, chegou a hora de o Brasil se afastar da Argentina e da Venezuela para evitar mais problemas, diz o economista e professor da American University (Washington, EUA), Arturo Porzecanski. De acordo com o estudioso da economia da América Latina, os dois países não têm os mesmos valores democráticos que o Brasil e a insistência do governo na proximidade com ambos arranha a imagem do país na percepção dos investidores internacionais. Para explicar seu raciocínio, o professor, que é uruguaio, mas radicado nos Estados Unidos, usa o ditado popular “Diga-me com quem andas que direi quem és”.

Em evento realizado nesta terça-feira em São Paulo, Porzecanski disse que, enquanto o Brasil resiste em participar de alianças de livre comércio, movimento que vem sendo adotado por outros países, e insiste no Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente, pela Venezuela – ele passa uma imagem aos possíveis investidores de que compartilha do mesmo pensamento econômico desses países.

Argentina e Venezuela se destacam por políticas econômicas desastrosas. Os dois países têm forte controle cambial e maquiam dados sobre inflação, que atinge patamares muito elevados nos dois casos. Na Argentina, por exemplo, o dado oficial é de inflação na casa dos 10% ao ano, mas cálculos extraoficiais apontam para um patamar inflacionário entre 20% e 30%. Na Venezuela, a inflação ultrapassa a casa dos 20%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

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O Mercosul foi criado em 1991, com o tratado de Assunção, com o objetivo de criar uma união tarifária, ou seja, a isenção de tarifas de importação entre os países membros e a uniformização das tarifas cobradas sobre produtos importados dos demais países. Mais de 20 anos se passaram e, até agora, o Mercosul está muito longe de ser um bloco livre de tarifas de importação. Brasil e Argentina, que são as maiores economias que compõem o bloco, têm cada vez mais dificuldades nas relações comerciais. O episódio mais recente foi a estatização de ferrovias que estavam sobre concessão da gigante brasileira América Latina Logística (ALL), decisão que pegou a empresa de surpresa.

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Outros problemas envolvem duas importantes companhias brasileiras: Vale e Petrobras. Em março, o Conselho Administrativo da Vale decidiu suspender o projeto de potássio Rio Colorado, na Argentina. A suspensão originou uma série de embates e o país chegou a ameaçar a tirar a concessão da mineradora. A Casa Rosada considerou a medida como falta de apoio do Palácio do Planalto. A mesma avaliação foi feita em relação à decisão da Petrobras de não vender seus ativos no país. Há duas semanas, a Petrobras recuou de uma negociação com o grupo Indalo, de Cristóbal López.

Apesar do cenário, o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola afirmou, no mesmo evento, que o país não vai se afastar de seus vizinhos latino-americanos e que a relação econômica com eles é importante. Contudo, Loyola compartilha do pensamento de Porzecanski de que o Brasil não deve deixar o Mercosul restringir sua política de comércio exterior. Ele reforça que o cenário atual para as relações econômicas bilaterais entre Brasil e Argentina é negativo. “Mas isso não quer dizer que o Brasil tenha de desistir.”

O ex-dirigente do BC explica que o Mercosul passa por momentos difíceis – e que se pode falar até em crise. “Tem várias questões que pioraram o Mercosul nos últimos anos. Politicamente, o erro grosseiro foi a suspensão do Paraguai e o ingresso da Venezuela”, comenta. Para Loyola, o bloco não deveria fechar as portas a novos membros, mas acha crítico que os países tenham permitido o ingresso da Venezuela que, na prática, não é um país democrático, e “não tem economia de mercado”.

O Paraguai foi suspenso do bloco em junho do ano passado por questões políticas, quando o Congresso decidiu pelo impeachment do presidente Fernando Lugo. No momento da suspensão, os países membros usaram como justificativa a saída de Lugo e aproveitaram a oportunidade para chancelar a inclusão da Venezuela. O Paraguai era o único membro contrário à entrada do país então comandado por Hugo Chávez – e que hoje está sob o comando de seu sucessor, Nicolás Maduro. A decisão sobre a volta ou não do Paraguai ao Mercosul só será tomada após a posse do novo presidente eleito, Horacio Cartes, marcada para 15 de agosto.

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Para os economistas, o cenário faz com que o empresariado tenha pouca confiança nos países do Mercosul e o sentimento de insegurança jurídica cresça. “Isso está provocando um distanciamento. Afasta o investimento e provoca o desinvestimento”, comenta Loyola.

Alianças – Em meio às críticas ao Mercosul, Porzecanski usa o exemplo que vem sendo adotado por outros países latino-americanos. Ele cita a Aliança do Pacífico, firmada no ano passado por México, Colômbia, Peru, Chile, que recentemente anunciaram a retirada de 90% das tarifas de importação. Devem aderir ao bloco também Costa Rica e Panamá. O professor destaca que esses países têm também firmado uma série de acordos com os Estados Unidos, União Europeia e com algumas economias asiáticas.

Outro exemplo é a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que envolve 11 países no total, entre eles Japão e Estados Unidos. Porzecanski diz que não vislumbra nenhum caminho para o Mercosul nesse cenário. “O Brasil corre o risco de ficar isolado”, comenta. “Não acho estratégia inteligente, pois esse foi o caminho seguido por países que viraram líderes”.

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Multilateralismo falho – A estratégia de multilateralismo e poucos acordos bilaterais por parte do Brasil também é alvo de críticas. Segundo o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), as alianças comerciais bilaterais de países latino-americanos ajudaram na expansão de suas economias, como o México, por exemplo. “Enquanto isso, o Brasil ficou só nos acordos multilaterais. Por isso nós ficamos com uma economia mais fechada.”

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Nesta terça, a Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês), divulgou um ranking feito com base no nível de abertura econômica dos países. O Brasil aparece na 67ª posição em uma lista de 75 economias. É o que ostenta a pior posição entre as 20 maiores economias mundiais, o G-20, e entre os Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Com a perda da competitividade, sobretudo da indústria, nós ficamos apelando para coisas como a salvaguarda. Nesse ponto, há um risco muito grande para a competitividade no curto e no médio prazo. Mantemos um distanciamento dos polos mais avançados, onde são desenvolvidas as tecnologias mais de ponta e nós ficamos com as produções mais básicas apenas”, comenta Grisi.

Ele avalia que o país tem perdido a oportunidade de negociar alianças comerciais com a Europa, por exemplo, e lembra que os EUA e a zona do euro discutem acordos enquanto isso. “Precisamos fazer acordos e liberalizá-los. E, assim, buscar por ganhos de competitividade”, comenta.

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