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Amadurecimento do mercado impulsiona IPOs para recorde histórico no Brasil

Há mais de 40 empresas na fila para abrir capital e número pode passar dos três dígitos: fortalecimento local traz prioridade à B3 em relação ao exterior

Por Felipe Mendes, Diego Gimenes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jan 2021, 11h57 - Publicado em 21 jan 2021, 16h00

Ainda que o cenário seja do novo coronavírus, que se instaurou ceifando vidas mundo afora e causando pânico no mercado de ações em dado momento de 2020, o volume de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) se fortaleceu. Com a taxa básica de juros ao menor nível histórico, 2% ao ano, mais empresas buscaram a bolsa de valores brasileira, a B3, como forma de levantar capital sem ter de recorrer a bancos públicos ou privados. Em alguns casos, o objetivo foi captar recursos para passar pela pandemia sem grandes apertos, em outros foi adquirir concorrentes ou investir em tecnologia para modernizar seus processos. Não à toa, 28 IPOs foram realizados em 2020, recorde histórico para o Ibovespa desde 2007. Hoje, há 41 processos para abertura de capital na B3 em andamento. Acredita-se que o volume de IPOs para o ano possa chegar perto da marca dos três dígitos em 2021, algo histórico. A XP, por exemplo, calcula até 100 IPOs e follow-ons (emissão secundária de ações) na bolsa brasileira este ano. Com o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro, esse caminho deve ser cada vez mais natural.

Nos últimos anos, algumas companhias brasileiras priorizaram o mercado de capitais americano. Dentre os motivos para tal, pode se destacar a maior liquidez das bolsas nos EUA e facilidades no processo, além, claro, da maior robustez do mercado – no Brasil, por exemplo, a bolsa é mais volátil e suscetível a solavancos provenientes do noticiário político. “Aqui, qualquer soluço político, corrupção ou coisas do gênero, impacta diretamente na bolsa. A volatilidade é muito grande aqui. Por isso que alguns preferem abrir lá fora. O mercado financeiro, no mundo, não oscila tanto em função de coisas não tão profundas”, explica Ricardo Vasconcellos, chefe de mercado de capitais da Easynvest.

Até por isso, duas empresas brasileiras, a Arco Educação e a Stone, aproveitaram o período turbulento das eleições de 2018 para captar recursos fora do país, na Nasdaq, levantando 218 milhões de dólares e 1,5 bilhão de dólares, respectivamente. Além delas, empresas como Netshoes, Linx, Afya, PagSeguro, Nexa Resources, Azul e XP Investimentos abriram capital nos Estados Unidos nos últimos anos — a XP, inclusive, levantou 2,24 bilhões de dólares em sua emissão na Nasdaq, em 2019. Hoje, a Netshoes, comprada pelo Magazine Luiza, não faz mais parte dessa lista. Em suma, as brasileiras que optam pela abertura em solo americano têm forte emprego de tecnologia. Todo o movimento, passou  a exigir modernização do mercado local, para que a abertura de capital seja feita dentro do próprio Brasil.

“Os americanos precificam melhor as empresas de tecnologia. Lá, elas têm um potencial de valorização muito maior”, reitera Vasconcellos. Em 2020, no entanto, nenhuma companhia nacional realizou IPO nos Estados Unidos. A que esteve mais próxima disso foi a Vasta, do grupo Cogna Educação, mas arremeteu o voo.  

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Outro dos fatores que levam as empresas de tecnologia, sobretudo as brasileiras, a abrir capital no estrangeiro é uma proteção existente contra a diluição do controle dos fundadores, que são fundamentais para que a empresa continue a buscar crescimento, sem perder sua essência. Segundo José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, a chamada “super voting stock” é algo a ser estudado pela bolsa brasileira. “Esses votos diferenciados garante ao fundador que ele continue sendo o protagonista do negócio. Isso é importante porque, no mercado de tecnologia, o empreendedor é muito relevante no negócio e normalmente a empresa tem o capital muito diluído em uma abertura de capital”, diz ele. “A bolsa brasileira precisa ter um instrumento desses para que tenha condições de competir.”

Apesar disso, os custos em dólares atrapalham para escolher as bolsas americanas. “O câmbio encarece o processo. No Brasil, os gastos, na média, envolvem de 3% a 6% do valor levantado na oferta. Nos EUA, isso varia de 4% a mais de 10%, considerando os custos adicionais em função da conversão da moeda”, diz Vasconcellos. “É preciso se adequar aos pré-requisitos lá fora, com uma área de RI exclusiva, adequação da legislação etc. São fatores que elevam os custos de um IPO.”

Para Leonardo Resende, gerente de relacionamento com empresas da B3, a bolsa brasileira tem se adequado para facilitar o processo de abertura de capital no país e fazer com que haja menos evasão de companhias em busca de capital estrangeiro. O volume de novos investidores no Ibovespa, que, em dezembro chegou à marca de 3,2 milhões de pessoas físicas, é algo positivo. “Sem dúvida alguma, o ano de 2020 colaborou para que a gente tivesse alguns casos de sucesso e quebrasse esse paradigma de que o mercado de capitais brasileiros não serve para uma ou outra companhia”, diz ele. Nesse sentido, ele lembra o caso da Locaweb, empresa de tecnologia que se valorizou mais de 470% desde sua abertura de capital, em fevereiro de 2020. “Temos instrumentos para as companhias terem liquidez também no Brasil. O mais importante é que elas compreendam que o mercado de capitais existe para financiar seus crescimentos, e tivemos casos de sucesso que comprovam esse movimento”, reitera. A diversificação deve continuar acontecendo este ano, ao passo que a lista de espera para abertura de capital conta com setores ainda pouco representados, como tecnologia, fintechs, vendas de móveis e decoração.

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