Alívio para PIB do 3º trimestre, serviços ultrapassam desempenho pré-Covid
Economistas, no entanto, apostam que o setor atingiu o ápice da retomada e, devido à inflação, dificilmente irá manter as taxas de crescimento
A despeito do desempenho desapontador do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre de 2021, houve sim alguns pontos positivos nos resultados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira, 2. Enquanto a economia do país caiu 0,1% no trimestre terminado em setembro frente ao período entre abril e junho, o setor de serviços (+1,1%) e o consumo das famílias (+0,9%) avançaram. Com receita de 1,3 trilhão de reais no trimestre, os serviços podem ter dado o último sinal de recuperação no ano, voltando a um patamar 0,6% superior ao quarto trimestre de 2019, o último indicador oficial não impactado pela pandemia de Covid-19. Tudo aponta, no entanto, para uma estagnação da retomada do setor ao fim de 2021, colocando-se como um desafio a mais para o governo em ano eleitoral.
Com uma queda de 4,5% durante o ano de 2020, era esperada uma recuperação robusta para o setor este ano. A retomada mais forte, no entanto, foi mitigada por fatores inesperados. Primeiro, uma segunda onda de Covid-19 que abalou o país entre janeiro e maio de 2021, ao mesmo tempo em que os índices de inflação foram perdendo o controle com o descompasso na cadeia produtiva, pressionando o Banco Central a elevar novamente a taxa básica de juros, a Selic. “Enquanto a gente não tiver uma inflexão nesta inflação de 12 meses, que continua crescendo e já está em dois dígitos, não tem como termos perspectivas muito positivas para o cenário econômico”, diz Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest e ex-secretário do Ministério da Economia. “A inflação persistente surpreendeu a todos, espraiando problemas tanto do ponto de vista macroeconômico como político.”
Para Fabio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Consumo, a CNC, o crescimento do consumo das famílias no terceiro trimestre reflete o recuo nos índices de isolamento social e, em menor escala, a retomada do emprego no segundo semestre do ano. “Entre o final do segundo trimestre e o final do terceiro, o isolamento social passou de 7,1% para 4,1%. Isso de certa forma contrabalanceou o efeito negativo que a inflação e os juros exerceram sobre o consumo”, diz ele, que projeta maiores dificuldades para o setor deslanchar em 2022. “Acredito que essa ajuda que o aumento da circulação tem dado para o consumo não deva durar muito tempo porque chegamos a uma situação de normalização. Por isso, revisamos a nossa expectativa de crescimento para o PIB deste ano de 4,8% para 4,3%.”
No acumulado dos nove primeiros meses de 2021, o setor de serviços cresceu 5,2%, atrás apenas da indústria, com 6,5%. No terceiro trimestre, as atividades do setor que mais se destacaram foram “Outras atividades de serviços” (4,4%); “Informação e comunicação” (2,4%); “Transporte, armazenagem e correio” (1,2%) e “Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social” (0,8%). Por outro lado, houve variações negativas em “Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados” (-0,5%) e “Comércio” (-0,4%). Principal empregador do país, cabe ao setor de serviços a difícil tarefa de salvar as projeções para o crescimento acima de 5% projetado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes; uma expectativa já abandonada até pelos economistas mais otimistas do país.