Além de insumos escassos e caros, juros altos preocupam indústrias
Efeito nas cadeias globais de suprimento pressiona a inflação; segundo CNI, à medida que preocupação com insumos desacelera, sobe a apreensão sobre os juros
A crise global da cadeia de insumos é o maior problema enfrentado pela indústria brasileira, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) divulgado nesta quarta-feira, 27. Ao todo 22 dos 25 setores produtivos consultados pela pesquisa apontam que o alto custo e a escassez são os principais dificultadores de produtividade, que sofreram grande impacto com os lockdowns chineses e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Porém, outro problema tem ganhado grande espaço entre as preocupações dos empresários: os juros altos são apontados como o terceiro maior empecilho do momento e, ao contrário da preocupação com a cadeia, que desacelerou, a apreensão com os juros subiu na comparação com o trimestre passado.
As taxas de juros elevadas foram assinaladas como principal problema enfrentado pela Indústria de Transformação por 23,4% dos empresários, patamar próximo ao registrado em 2016. O resultado revela aumento de 3,4 pontos percentuais na comparação do segundo com o primeiro trimestre de 2022. Frente ao primeiro trimestre de 2021, período de baixo assinalamento desse tópico e período em que as taxas de juros no Brasil estavam próximas às mínimas históricas, houve um aumento de 14,6 pontos. “Tivemos uma mínima de 2% e hoje estamos em 13,25%. Essa diferença significativa na taxa de juros acaba repercutindo e impactando a visão do empresário”, afirma Paula Verlangeiro, economista da CNI.
Os juros mais altos aumentam o custo para consumo tanto de empresas quanto para o consumidor final e podem tornar a atividade econômica mais lenta, justamente num momento que as cadeias tentam se recuperar do choque na cadeia de suprimentos, que vem pressionando a inflação e, claro, os próprios juros. “Esse problema tem ganhado relevância à medida que o contexto global é de inflação elevada, em que as autoridades monetárias do Brasil e do mundo tem feitos sucessivos ajustes nas taxas de juros visando combater a inflação.”
Nesta quarta-feira, por exemplo, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deve fazer um novo ajuste — na casa de 0,75 ponto percentual — como resposta à maior inflação enfrentada em 40 anos no país, que acumula 9,1% de alta. Na próxima semana, o Copom, ligado ao banco central do Brasil, deve anunciar novos juros por aqui e deve fazer ao menos mais um ajuste nas taxas.
Com os problemas interligados, a expectativa dos empresários consultados pela CNI é que a produção se normalize apenas em 2023. “Diante disso, as principais consequências são dificuldades em recuperar – ou manter – a produção, o aumento dos preços de insumos e dos custos nas cadeias de produção, além dos aumentos nos preços dos bens de consumo e a maior pressão sobre a inflação”, explica a economista.