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A ‘tempestade perfeita’ que encarece o dólar e dificulta sua queda

Instabilidade política, incerteza sobre o avanço do ajuste fiscal e cenário externo nebuloso alimentam fuga de investidores para a moeda e também movimentos especulativos

Por Eduardo Gonçalves e Luís Lima
24 set 2015, 19h54

Nesta quinta-feira, o dólar chegou a ser negociado por mais de 4,20 reais, e a fervura só baixou depois de Banco Central e Tesouro Nacional agirem para conter a escalada. Negociada a 3,99 reais no fechamento, a moeda teve uma queda expressiva, de 3,73%, mas todo o pano de fundo, que inclui fatores estruturais – e, portanto, imunes a medidas pontuais do BC ou do Tesouro -, ainda faz a cotação apontar para cima. É, na expressão usada por alguns analistas, uma “tempestade perfeita”, que tem o dólar caro como resultado.

A cautela dos investidores os faz fugir em direção à moeda americana. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA dizem que os fatores para a precaução incluem a instabilidade política, a indefinição sobre a votação, pelo Congresso, do veto da presidente Dilma Rousseff ao reajuste de servidores do Judiciário e temores de que, assim como fez a Standard & Poor’s, outra agência de classificação de risco rebaixe a nota de crédito do país. A “tempestade perfeita” inclui fatores externos. Incertezas sobre em que momento ocorrerá a alta dos juros nos Estados Unidos e temores em relação à desaceleração da China também estimulam a compra de dólar como forma de proteção. “Todo mundo vai para o mesmo lado”, diz o corretor da SLW João Paulo Correa. É o efeito manada.

Na madrugada da última terça-feira, o Congresso votou 26 dos 32 vetos presidenciais a itens da chamada “pauta-bomba”, composta por um conjunto de medidas aprovadas no Legislativo que podem elevar gastos públicos, o que anularia todo o plano de ajuste fiscal feito pelo governo. Por falta de quórum, outros seis vetos, incluindo o que barra o reajuste de servidores do Judiciário, considerado um dos mais importantes, não foi apreciado. “Se aprovado, o reajuste pode levar a um rombo de 26 bilhões de reais aos cofres públicos até 2019. O veto será apreciado, mas não se sabe quando, e essa dúvida pesa”, diz Jefferson Rugik, diretor de câmbio da Corretora Correparti.

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Além das crises política e econômica, Rugik diz que o mercado de câmbio é pressionado por um forte movimento de especulação. “Investidores e tesourarias bancárias têm que ganhar dinheiro. Para isso, eles compram a moeda em um momento estratégico, para depois vender”, diz. Ele explica que a barganha é estimulada pelos leilões do Banco Central, que oferecem liquidez ao mercado.

Para segurar a escalada do dólar, o BC recorreu nos últimos pregões aos programas de swap cambial (operação no mercado futuro em que o investidor paga uma taxa de juros e o BC devolve a variação da cotação) e aos leilões de linha (o BC vende dólares à vista com o compromisso de recompra). Essas operações não conseguiram conter a alta na quarta-feira, mas foram mais eficazes nesta quinta – associadas, é verdade, às declarações de Alexandre Tombini, presidente do BC, de que o uso das reservas internacionais do país para conter a alta do dólar não está descartado.

“Só a sinalização de uso das reservas já agradou o mercado. O BC está monitorando a situação interna e agirá quando achar necessário, pois tem mecanismos para isso”, diz Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da TOV Corretora. As reservas de 370 bilhões de dólares são um dos pilares da economia – um dos poucos, talvez – que justificam o grau de investimento pelas agências de risco. “Os investidores querem medidas que tenham efeitos no curto prazo. Para isso o governo teria que tirar dinheiro das reservas internacionais, o que é complexo, pois mexeria com a única âncora da economia brasileira”, avalia Rugik.

Voz firme – Para os especialistas, a solução para dólar caro está mais nas mãos do Palácio do Planalto e do Congresso. “O que o mercado precisa é de uma sinalização clara, mais firme, sobre a crise fiscal. O governo precisa ser mais contundente nas suas ações”, diz João Paulo. “Falta informação para o mercado ter tranquilidade.”

Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, a forte valorização do dólar nada mais é do que um “processo de reprecificação” diante da piora nas perspectivas da economia. Entre elas, a redução da meta fiscal, a perda do grau de investimento na avaliação da Standard & Poor’s e a proposta de Orçamento deficitário para 2016, movimentos que não eram considerados no início do ano.

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Para os próximos dias, a maioria dos analistas evita fazer qualquer projeção, tendo em vista que ninguém imaginava que o dólar ultrapassaria a casa dos 4 reais tão cedo e muito menos que chegaria a 4,24 reais, como ocorreu nesta quinta. Apesar disso, os economistas pontuam que já há gente no mercado falando em dólar a 4,50 e até a 5 reais no futuro. “Se [o Brasil] for rebaixado de novo, então, não tem teto”, diz o corretor João Paulo Correa.

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