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A estratégia por trás do silêncio público de Guedes sobre a Petrobras

Insatisfeito, o ministro repetiu a assessores e auxiliares que não queria que a troca na empresa contaminasse o que, de fato, está sob seu guarda-chuva

Por Victor Irajá Atualizado em 1 mar 2021, 09h47 - Publicado em 26 fev 2021, 12h33

O ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu calar publicamente sobre a crise que envolveu a troca de comando na Petrobras. Apesar da rusga com o presidente Jair Bolsonaro, revelada pela matéria de capa de VEJA desta semana, e da insatisfação traduzida em silêncio, o ministro pouco tratou sobre o assunto com a equipe e preferiu construir uma estratégia para sinalizar à opinião pública que as diretrizes de sua gestão num dos principais ministérios da Esplanada estava mantida. Por isso, o ministro preferiu acelerar as discussões pela aprovação da PEC Emergencial, que estipula gatilhos para o controle dos gastos em épocas de deterioração fiscal.

Esse foi o foco primordial do ministro desde que a crise insuflada pelo próprio presidente na estatal de petróleo foi exposta. Castello Branco havia sido uma indicação de Guedes ao presidente Jair Bolsonaro para gerir a estatal. O que incomodou o presidente foi a atuação pura e estritamente técnica do mandatário, que não tinha sensibilidade, segundo ele, para as insatisfações dos caminhoneiros e não levou movimentos de ordem política em consideração. O silêncio público do ministro se deveu, em muitos aspectos, à estratégia.

Guedes repetiu a assessores e auxiliares que não queria que a troca na presidência da Petrobras contaminasse o que, de fato, está sob seu guarda-chuva. A Petrobras, repete o ministro, não está sob a tutela do Ministério da Economia. Segundo Guedes, apesar de o atual presidente da estatal ter sido uma indicação pessoal sua durante o governo de transição e de ter ficado insatisfeito com a decisão de Bolsonaro, ele entendeu que a decisão sobre a troca de comando na petroleira cabia a Bolsonaro e ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Ciente das pressões dos caminhoneiros em relação ao preço do diesel, Guedes admitiu que empurrou a crise com a barriga, mas buscou o compromisso sólido do presidente de que a atual política de preços, que oscilam de acordo com o mercado internacional, seria mantida. Foi atendido.

O ministro entende que, no atual momento, seja natural que Albuquerque queira montar a própria equipe e ter comandados na Petrobras com alinhamento com as políticas engendradas na pasta. Segundo ele, a autonomia de intervir de forma mais incisiva sobre as decisões do Palácio do Planalto caberiam, somente, às estatais sob seu comando.

Escolhido como substituto de Castello Branco no comando da estatal, o general Joaquim Silva e Luna foi um nome soprado pelo ex-presidente Michel Temer, que vem atuando como um consultor informal de Bolsonaro. Silva e Luna foi ministro do emedebista e Temer garantiu a Bolsonaro que se surpreenderia com a capacidade do então subordinado. O ex-presidente e o militar, aliás, têm um encontro marcado para a próxima semana para discutir o futuro da empresa. Foi sob a gestão de Temer que a Petrobras retomou a a normalmente lucrativa diretriz de atrelar os preços do mercado internacional para balizar os praticados dentro do país. “O país vai se surpreender positivamente com o general Silva e Luna”, tem repetido Temer a aliados que indagam sobre a competência do novo presidente da Petrobras.

Não foi, porém, fácil para Guedes assimilar a queda de Castello Branco. O presidente da estatal estava no grupo embrionário que viraria o Ministério da Economia, ainda durante a transição entre a gestão de Temer e de Bolsonaro. Ao lado de nomes como os do ex-secretário de Receita Marcos Cintra, e do ex-presidente do Banco do Brasil Rubem Novaes, o chefe da petroleira consolidaria a base forte do ministro para a montagem da equipe econômica, formuladora das diretrizes que dariam rumo à prometida gestão independente de Guedes nas questões macroeconômicas.

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Bolsonaro nunca foi um entusiasta do receituário de Guedes, apesar de respeitar  a filosofia do ministro, à base, é claro, de muito convencimento. Por incrível que pareça, foi o próprio desinteresse do presidente um dos principais entraves para a aprovação da reforma da Previdência, em 2019, que ajudou o governo completar um de seus grandes feitos.

Base política

A Previdência, aliás, é vista como um dos principais erros políticos do ainda inexperiente Guedes nas tramitações em Brasília. Auxiliares do ministro afirmam que, sob a ressaca das eleições e o clima de lua de mel com o Congresso Nacional, a equipe econômica não deveria ter apostado todas as fichas nas alterações do sistema previdenciário, mas, sim, enviado mais propostas ao Parlamento. A estratégia envolveria dar vazão a mais projetos, diversificando os alvos de demandas por alterações por parte da classe política e dispersando o foco da opinião pública para mais de uma medida. São águas passadas.

Um dos primeiros a serem ceifados a mando do presidente, Marcos Cintra tinha uma missão clara. O texto de reforma tributária, que continha a malfadada nova versão da CPMF, estava pronto para ser enviado ao Congresso Nacional quando ele, que chefiava a ala que tratava dos impostos do país, foi demitido. A perda foi sentida por outra motivo pouco lembrado. Cintra, ex-deputado, fazia parte da “ala política” da equipe de Guedes. No primeiro ano de governo, ele compunha com os ex-deputados Guilherme Afif Domingos e Rogério Marinho as secretarias que coordenavam a articulação política do Ministério da Economia. Depois da rápida atuação de Marinho, então secretário de Previdência e Trabalho, como articulador da reforma previdenciária, o então subordinado a Guedes foi laureado com o Ministério do Desenvolvimento Regional para chamar de seu. Sobrou, portanto, Afif como um lobo solitário com experiência na articulação política do ministro da Economia — que, apesar de se considerar que faça um brilhante trabalho, é o único com experiência parlamentar na equipe.

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Guedes comprometeu-se a continuar, apesar da leitura de que os projetos prometidos e desejados terão o andamento muito dificultado pelos fatos e pela agenda política. Apesar do pouco espaço para dar vazão à agenda, Guedes não tem pretensão alguma de entregar o chapéu a Bolsonaro. E é melhor assim. O ministro vê na eleição de aliados para o comando da Câmara e do Senado uma possibilidade para que consiga engendrar reformas e dar andamento aos projetos de privatização até “setembro ou outubro”. Ele repete a amigos que entende o simbolismo de seu cargo e de sua figura como uma garantia de que o presidente não descambaria de vez para os rumos da irresponsabilidade fiscal a troco de popularidade.

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