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Walcyr Carrasco: Gordice é gordice, não adianta mascarar como “sobrepeso”

Falar emagrece?

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 11 set 2019, 12h03 - Publicado em 6 set 2019, 06h30

Em um capítulo de A Dona do Pedaço, coloquei uma personagem falando de uma possível rival: “Deve ser gorda”. Foi o suficiente para receber acusações de “gordofobia”. Já tive também, em outro elenco, um ator que beirava os 140 quilos. Mas se ofendeu e cortou relações comigo quando um personagem o chamou de “gordo”. Descobri que é errado dizer “gordo”, “gorda”. Grupos militantes, haters da internet, todos se revoltam. O correto? Quando se vai falar de alguém que está gordo, gordíssimo, diz-se que está com “sobrepeso”. Criou-se a categoria de modelos “plus size”. Na verdade são gordas que desfilam de lingerie, moda praia… Tudo bem. Plus size, ou qualquer outro termo, dá no mesmo. São gordas. O que se faz é mudar palavras para retirar o suposto sobrepeso (não resisti, é sobrepeso mesmo) negativo. Uma tendência forte no politicamente correto. É um vocabulário pasteurizado. Eu tenho barriga, creio que nunca a perderei. Já disse que, quando preciso viajar, compro um lugar para mim, outro para a barriga. Eu e a barriga. Às vezes, quando vou comprar uma camisa, digo: “Não quero listras horizontais, porque engordam”. O vendedor me observa, crítico. Caio em mim. Reconheço. O que engorda não são as listras. Mas comer pudim e chocolate, logo após um churrasco gorduroso. Entre outras delícias. Mesmo assim, opto por uma camisa preta “porque emagrece”. Prefiro rir e fazer piada a ser tratado com cautela. Como se minha barriga não pudesse ser tema de conversa.

“A verdade é que gordo não quer ser gordo. Prova disso é que as cirurgias bariátricas no Brasil aumentaram em 85%”

A verdade pura e simples. Gordo não quer ser gordo. Raríssimas são as exceções. Prova disso é que entre 2011 e 2018 o número de cirurgias bariátricas no Brasil aumentou em 85%. No total, até o ano passado, foram realizadas 424 682. É óbvio que a obesidade é um problema de saúde. Mas a maior parte dos pacientes só deseja usar tamanho P. Muitas crianças choram na escola quando são chamadas de gordas. Para tirar a carga negativa, não seria melhor simplesmente aceitar que as pessoas são o que são? Politicamente correto significa falar de um jeito mais bonitinho? É claro que termos como “barril”, “elefante” são ofensivos. Magoam. Se eu posso tomar cuidado e não usar esses termos, é melhor. Mas também não quero mascarar a realidade.

É tão ruim ser gordo? Fora os problemas de saúde causados pela obesidade? Pois bem. Não é. Nós vivemos num mundo contraditório. O padrão de beleza é ser magro. Mulheres esqueléticas, subalimentadas, são consideradas lindas. Só ossos, eis tudo. O padrão de beleza real é a mulher com curvas, seios, quadris. Expresso pelos machistas numa frase lapidar: “Homem gosta de ter onde pegar”. Eu conheço gordas com intensa vida afetiva e sexual. Amadas e desejadas. No universo gay, existe a procuradíssima categoria dos “ursos”. Nela se enquadram também os gordos.

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É uma nova ditadura em que as palavras são mascaradas. Bobagem. Vocabulário não é regime. Falar diferente não emagrece. Gordice é gordice. Só que ninguém precisa sofrer por isso. Basta ser gordo e feliz.

Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651

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