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Violento e irônico, ‘Narcos’ é melhor Padilha desde ‘Tropa’

Nova série da Netflix acompanha a vida de Pablo Escobar, traficante colombiano que passou de herói dos pobres a inimigo do governo americano

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 ago 2015, 14h26

“José Padilha fez uma série que, na verdade, é um filme de dez horas” (Boyd Holbrook, ator que dá vida ao personagem Steve Murphy)

“Na Colômbia, bom e mal são conceitos relativos.” Se fosse necessário resumir a série Narcos em uma só fala de seus personagens, a frase acima seria uma boa candidata. Quem declama a conclusão é Steve Murphy (personagem de Boyd Holbrook), agente americano da DEA (divisão de narcóticos dos Estados Unidos), que se muda para o país latino com a missão de extirpar o tráfico de cocaína nos anos 1980. A Colômbia era o ponto inicial da rota do produto que entrava com facilidade nos Estados Unidos e fazia muitas vítimas – além de somar quantias obscenas de dinheiro vindo do país do Tio Sam. São os bilhões de dólares que escorrem da economia americana, aliás, que motivam a participação mais ativa do país na guerra contra o narcotráfico e, mais especificamente, na caçada ao líder do Cartel Medellín, Pablo Escobar (vivido pelo brasileiro Wagner Moura, 20 quilos mais gordo).

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A nova aposta da Netflix, com dez episódios que chegam ao canal de streaming nesta sexta-feira, começa com dois capítulos dirigidos por José Padilha, produtor-executivo da série, que desde a aclamada duologia Tropa de Elite (2007 e 2010) fez poucos trabalhos comparáveis ao drama do anti-herói Capitão Nascimento, com destaque apenas para o mediano remake de RoboCop (2014). Narcos é uma virada no currículo do cineasta. Violenta, irônica e sensual, a produção se divide entre mostrar a ascensão de Escobar e os esforços de Murphy e seu parceiro Javier Peña (Pedro Pascal) para capturar os criminosos do cartel. Tarefa que se mostra quase impossível pelos mais variados fatores, entre eles alguns absurdos que são comparados no roteiro ao realismo mágico, estilo literário que não por acaso nasceu em terras colombianas.

“Murphy estava iludido. Ele foi inocente ao se oferecer para ir à Colômbia, pensando que seria o ‘gringo salvador'”, diz Holbrook ao site de VEJA sobre o agente na vida real, que o ajudou a construir o personagem. Ao lado de Moura, Holbrook também é um protagonista, que narra a história de um ponto de vista universal, ora explicando acontecimentos passados, ora imaginando o futuro. “A série é muito transparente. Não se toma um partido. Os Estados Unidos não salvam o dia, mas a Colômbia também não faz tudo sozinha”, conta.

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Os quatro primeiros episódios possuem um ritmo lento e servem para apresentar Escobar, uma espécie de celebridade fora da lei, chamado de Robin Hood por construir casas para os pobres e distribuir dinheiro pelas ruas. No pano de fundo, revela-se que suas intenções populistas são passos para uma carreira política, além do fato de que ele ganhava tanto dinheiro com a cocaína que era difícil lavar tudo, logo, distribuir na rua era uma opção banal e viável. Entre as muitas posses de Escobar, que contava até com um zoológico particular, estava o controle de boa parte da polícia local, políticos e advogados, subornados em uma cara rede de propinas. Mesmo assim, sobravam milhões e milhões de dólares que chegaram a ser enterrados (sim, enterrados) em terrenos de familiares. Estima-se que o império de Pablo Escobar faturava 30 bilhões de dólares por ano. “Ele era maior que a General Motors”, compara Murphy na narrativa.

Da metade da série em diante, o clima esquenta e o estilo Padilha se mostra mais atuante. “José fez uma série que, na verdade, é um filme de dez horas”, diz Holbrook. Merecem destaque o sétimo e oitavo episódios, sequência dirigida por outro brasileiro, Fernando Coimbra, do interessante O Lobo Atrás da Porta (2013), filme de suspense com Leandra Leal e Milhem Cortez. Os capítulos são carregados de tensão e condensam em si alguns dos piores atos de Escobar, que lhe promoveram de traficante ao título de terrorista.

Entre os poucos pecados cometidos pela série, está o excesso de didatismo do roteiro, explícito no recurso da narração, que conduz o espectador pela mão do começo ao fim da trama. Em contrapartida, a mistura de cenas reais do passado com a dramatização da ficção se mostra um recurso interessante, que também serve para explicar, mas sem deixar monótono.

Apesar de ser difícil não romantizar um vilão, Escobar passa longe de motivar afetos na série. Sua excentricidade leva a situações cômicas e ao desejo de tentar entendê-lo, mas não admirá-lo. Já Murphy enfrenta uma jornada que o leva a jogar conforme as necessidades. Ao longo dos episódios, ele assume uma postura mais perigosa e instável. Vilão e mocinho se confundem, afinal, quem pode ser inteiramente bom em um país comandado por bandidos? “Acho que para fazer o bem naquele mundo é preciso também ser um pouco mal”, diz Holbrook.

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