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‘Vinyl’: o reforço definitivo à nova leva de séries musicais

Atração da HBO, produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger, faz parte do bom e antigo relacionamento entre canções e roteiros televisivos. Em entrevista ao site de VEJA, o ator Bobby Cannavale e o roteirista Terence Winter falam sobre como foi trabalhar ao lado dos dois mitos da música e do cinema

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
21 fev 2016, 15h46

“Passei um tempo com o Mick Jagger, fui a jantares, assisti a um show dos Rolling Stones, fui ao backstage. Foi valioso ver como as pessoas se comportam à sua volta. É como se estivessem na presença do sol” (Bobby Cannavale)

A relação da televisão com a música vive um momento afinado. Vinyl, que chegou ao canal pago HBO no domingo passado, dia 14, é mais um reforço para a atual leva de séries que usam canções ou o cenário musical (ou as duas coisas) para narrar uma história dividida em episódios viciantes.

Vinyl traz em seus bastidores nomes conhecidos. Ela foi produzida pelo roqueiro Mick Jagger e o cineasta Martin Scorsese, que também dirigiu o piloto de quase duas horas de duração. O roteiro é de Terence Winter, criador de Boardwalk Empire, e o protagonista, o executivo de gravadora Richie Finestra, é interpretado por Bobby Cannavale, vencedor do Emmy por sua performance como Gyp Rosetti na mesma Boardwalk Empire. Se lá o ator vivia um mafioso da década de 1920, agora se mete em modelitos de 1973 para testemunhar um período cultural fértil, enquanto sua vida pessoal e profissional estão em turbulência.

O recorte de Scorsese é o rock em uma época de ascensão do hip-hop, punk e dance. Os três movimentos musicais, contudo, serão protagonistas em outra série também assinada por um cineasta badalado: Baz Luhrmann. Conhecido por produções como Moulin Rouge e Romeu + Julieta, o diretor é mais um interessado na nova leva de seriados do estilo. O australiano lança este ano, no Netflix, a produção The Get Down, que acompanha o crescimento dos gêneros citados acima, especialmente o hip-hop, também na década de 1970.

Com seu olhar apurado para tendências, a Netflix anunciou ainda para este ano um seriado animado infantil que aposta na fofura – e nas canções dos Beatles. Beat Bugs, previsto para estrear no segundo semestre no canal de streaming, traz insetos no embalo de de versões das composições da banda de Liverpool. Os pais agradecem.

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O rock’n’roll potente de ‘Vinyl’

Vídeo: bastidores de produção de ‘Vinyl’, nova série da HBO

Vinyl – Porém, Vinyl se destaca por já nascer com pedigree. Terence Winter, convidado por Scorsese a fazer uma versão do roteiro depois de 12 anos de tentativas de realizar um filme, afirmou que assistiria mesmo se não estivesse envolvido. “Se me contassem que Martin Scorsese e Mick Jagger se juntaram para fazer uma série de rock’n’roll, eu só ia querer saber que hora começava, não precisava nem do trailer”, disse, em entrevista ao site de VEJA em Los Angeles.

O tal longa-metragem acabou sendo transformado em série quando a economia global entrou em colapso, em 2008. O piloto, filmado ao estilo de Cassino (1995), encontra Richie num momento de crise, apesar de estar casado com uma bela mulher (Olivia Wilde), ser pai e dono de uma mansão no subúrbio. Mas ele se sente vazio por dentro, prestes a vender sua gravadora para um grupo alemão. “Para mim é bem shakespeariano”, afirmou Cannavale. “Na verdade, eu vejo Richie como um rei que está sendo retirado de seu reino. E ele vai fazer tudo o que puder para não perdê-lo. Se ele tiver de passar a perna em alguém, ele vai, se tiver de matar, também.”

O ator de 45 anos conta que tentou manter a calma estando cercado de tantos pesos-pesados. “Passei um tempo com o Mick Jagger, fui a jantares, assisti a um show dos Rolling Stones, fui ao backstage. Foi valioso ver como as pessoas se comportam à sua volta. É como se estivessem na presença do sol”, disse. “Mas eu acho que me comportei bem. Só depois caía a ficha, meu Deus, saí por aí com o Mick Jagger! Tenho uma boa tendência de ser cool quando estou com esses caras porque sou muito focado, estou tentando fazer meu trabalho. Depois eu piro. E eu ão podia ficar histérico perto da Patti Smith, ou ela nunca mais ia querer me ver.”

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Martin Scorsese foi uma surpresa. “Não imaginava que ele gostasse tanto de colaboração. Achei que só ia fazer o que ele me pedia – e tudo bem por mim, porque o cara sabe o que está fazendo.” Durante três meses, Cannavale sentiu como se estivesse com o diretor o tempo todo. “Ele me ligava e perguntava o que eu estava fazendo. A gente saia para ouvir música. Ou eu ia até sua casa comer pizza. Era como se estranhamente fossem uns programas com meu irmão mais velho”, contou, rindo. “Mas era para eu ficar à vontade. O cara deve saber que trabalhar com ele, para qualquer ator, é o máximo.”

‘Empire’

Como um Jay Z da ficção, dono de uma importante empresa que engloba uma gravadora, Lucious Lyon (Terrence Howard) sofre de esclerose lateral amiotrófica e precisa lidar com a ex, Cookie (Taraji P. Henson, Globo de Ouro de melhor atriz de drama), recém-saída da prisão depois de 17 anos, e com os três filhos, Andre (Trai Byers), Jamal (Jussie Smollett) e Hakeem (Bryshere Y. Gray), que disputam o direito de ser herdeiro do império do título – os dois mais novos são também artistas. Toda semana, Timbaland produz as músicas a partir do roteiro dos episódios. A série foi criada pelo cineasta Lee Daniels e foi a estreia de maior sucesso de 2014. No Brasil, o programa é exibido pela Fox. 

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‘Sinfonia Insana’

Gael García Bernal ganhou o Globo de Ouro por sua performance como Rodrigo de Souza, o maestro “enfant terrible” que tem o dever de espanar o pó da Filarmônica de Nova York, mas esbarra em preconceitos por ser latino, bon vivant e pouco comportado para o meio em que atua – o personagem foi inspirado no venezuelano Gustavo Dudamel, que lidera a Filarmônica de Los Angeles. Eleita a melhor série cômica do ano no Globo de Ouro, a atração mostra as dificuldades de manter uma orquestra de primeira linha nos dias de hoje. A produção é de Roman Coppola, Jason Schwartzman e Alex Timbers. A produção é exibida no Brasil pela Fox Life. 

‘Nashville’

No ar desde 2012, o programa está em sua quarta temporada e foi criada por Callie Khouri, vencedora do Oscar de roteiro original por Thelma & Louise, dirigido por Ridley Scott em 1991. A série foca na rivalidade entre Rayna Jaymes (Connie Britton), um dos grandes nomes da música country, que luta para se manter relevante, e a jovem aspirante a estrela Juliette Barnes (Hayden Panettiere). Na primeira temporada, as músicas foram feitas pelo marido de Khouri, T-Bone Burnett, depois substituído por seu assistente Buddy Miller. O seriado é exibido no Brasil pelo canal Sony.

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https://youtube.com/watch?v=-ctFmXGm_yE

‘Crazy Ex-Girlfriend’

A série criada por Rachel Bloom, vencedora do Globo de Ouro de atriz de comédia, é uma curiosa mistura de musical com momentos engraçados e outros um pouco dramáticos. Ela interpreta Rebecca, uma advogada de Nova York que, visivelmente infeliz, abandona tudo o que outros considerariam sucesso para viver na pouco glamorosa West Covina, nos arredores de Los Angeles, onde também mora seu namoradinho de adolescência, Josh (Vincent Rodriguez III). Obcecada pelo rapaz, ela apronta mil e uma, sempre com a ajuda de uma canção e da nova amiga Paula (Donna Lynne Champlin). Nos Estados Unidos, o programa é exibido pelo canal CW. 

https://youtube.com/watch?v=f1wGsnfWHZY

‘The Get Down’

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Como Martin Scorsese em Vinyl, o cineasta Baz Luhrmann (de Moulin Rouge – Amor em Vermelho e O Grande Gatsby) também volta à quase falida Nova York dos anos 1970 para contar a história de um grupo de garotos pobres do Bronx que vivencia o nascimento do hip hop, do punk e da disco music. No elenco estão Jaden Smith (filho de Will Smith e Jada Pinkett Smith), Shameik Moore e Herizen Guardiola. A série produzida pela Sony será exibida pela Netflix a partir de agosto. Astros do hip hop como Grandmaster Flash, DJ Kool Herc e Afrika Bambaataa também serão personagens.

‘Beat Bugs’

No segundo semestre, a Netflix lança uma série animada inspirada nas canções dos Beatles, criada, produzida e dirigida por Josh Wakely, com histórias otimistas para crianças. Os personagens são cinco amigos que vivem fazendo estripulias ao explorar o jardim onde moram, sempre embalados por novas versões das músicas da banda de Liverpool, de Help! a Come Together e Lucy in the Sky with Diamonds, interpretadas por gente de peso como Eddie Vedder, Pink, Sia, Of Monsters and Men e Chris Cornell.

Bom negócio – Vinyl e as futuras produções musicais para TV seguem os passos de outras que se estabeleceram recentemente. Caso de Empire, do cineasta Lee Daniels (Preciosa – Uma História de Esperança), que em sua segunda temporada teve queda na audiência, mas continua um sucesso – o último episódio antes do recesso do fim do ano nos Estados Unidos conquistou 11 milhões de espectadores, chegando a 18 milhões em todas as plataformas ao fim de uma semana.

Até quando a série não dá tanta audiência, ela pode ser rentável para o canal. Caso de Nashville, lançada nos Estados Unidos em 2012 e exibida no Brasil pela Sony. O novelão passado no universo country viu sua audiência televisiva cair nos últimos anos, porém, continua a sustentar boas posições nas paradas americanas de álbuns e singles mais vendidos. Todas as trilhas sonoras da série garantiram um lugar entre os dez discos de country mais vendidos no país de acordo com a lista feita semanalmente pela revista americana Billboard.

No passado, outros programas alcançaram êxito parecido. Especialmente entre os anos 1960 e 70, quando os seriados do gênero eram tão populares que até bandas criadas na TV emplacavam carreiras sólidas nas rádios. Caso de The Monkees (1966-1968), fenômeno mundial autor do clássico I’m a Believer – faixa que atualmente soma 25 milhões de reproduções no Spotify. Os discos do quarteto pop venderam mais de 60 milhões de cópias na história.

O estilo ficou dormente por décadas até que, em 2006, Miley Cyrus (sim, ela mesma) arrebatou adolescentes e crianças pelo mundo na pele da protagonista de Hannah Montana. A série que foi exibida pelo Disney Channel até 2011 mostrava a atriz em duas situações, como a popstar do título e na pele de uma adolescente normal, que esconde sua identidade famosa. O programa alcançou números absurdos de audiência, além de um famigerado comércio de produtos, desde discos e bonecas até jogos de videogames e também turnês milionárias ao redor do mundo.

A Disney então continuou a apostar no estilo e até contratou a banda pop do momento (da época) Jonas Brothers para estrelar uma série só deles, a Jonas L.A.. Em 2009, foi a vez de Glee (2009-2015), de Ryan Murphy, ganhar notoriedade. O programa narrava as aventuras de um coral de uma escola do ensino médio americano, porém com um tom bem menos inocente que as produções infantojuvenis da Disney. Estava então aberto o caminho para a nova fase das séries musicais, que agora oferecem variedade de estilos para distintas faixas etárias e gostos.

Caso de Vinyl, que promete agradar até os que se dizem avessos a musicais. Dificilmente um fã de rock não vai se interessar pelo programa e sua excelente trilha sonora. O primeiro episódio, que mostra o caminho que a série vai seguir, é recheado de muita música. Artistas que eram importantes em 1973 são retratados ali, como Led Zeppelin, Alice Cooper e David Bowie. Mas também há uma banda fictícia de punk rock liderada por Kip Stevens (interpretado por James Jagger, que, como o nome indica, é um dos sete filhos de Mick). Boa parte do orçamento foi para a aquisição de direitos autorais.

“Como é uma série sobre a indústria, há canções o tempo todo, e é bem caro. Aconteceu de termos uma lista dos sonhos e não podermos colocar tudo no mesmo episódio por questões orçamentárias”, disse Terence Winter. Fora isso, parte da trilha foi composta especialmente para o seriado. “O maior cumprimento é quando as pessoas ouvem a música e acham que é da época. Teve uma cena numa boate disco, com centenas de figurantes. Vários ficaram procurando no aplicativo Shazam para descobrir que faixa era aquela, e ela tinha sido criada originalmente para nós.” O resultado é delicioso e intenso. Um mergulho cheio da energia de Martin Scorsese na Nova York de 1973. Não bastasse isso, boas músicas ao fundo para acompanhar.

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