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Unidos da Tijuca: a vitória do Carnaval profissional

Em ano sem favoritas, escola que inovou na gestão do dinheiro fez a diferença e conquistou seu quarto título. Desfile das campeãs tem de volta a Portela e deixa de fora Beija-Flor e Mangueira

Por Rafael Lemos
8 mar 2014, 09h32

Foi uma vitória apertada, como nos resultados do automobilismo. Por um décimo, a Unidos da Tijuca sagrou-se tetracampeã do Grupo Especial do Carnaval do Rio, com um enredo que homenageou Ayrton Senna. Em um ano de desfiles equilibrados, sem grandes favoritas, a Tijuca conseguiu consagrar seu modelo de Carnaval e completar um ciclo: há dez anos, em 2004, o carnavalesco Paulo Barros estreava no Grupo Especial e na Tijuca, inaugurando o estilo que – gostem os sambistas ou não – estabeleceu novos padrões para a festa. E o homem que já se queixou de incompreensão dos jurados inverteu a questão: as escolas tradicionais agora tentam antever os movimentos de Barros e, tal como fez o inventor das alegorias humanas, surpreender o público.

A ascensão da Tijuca está diretamente ligada ao fenômeno Paulo Barros, mas vai muito além. Com a adoção de um modelo de gestão profissional, a escola do presidente Fernando Horta tem hoje estrutura de empresa, consegue arregimentar talentos e capta patrocínios de forma sistemática, sem o ‘homenageou, ganhou’ que era o padrão do Carnaval. O resultado é a conquista de três títulos em cinco anos – período em que, para o público, as mudanças visíveis foram a incorporação de elementos da cultura pop aos desfiles e as surpresas e efeitos especiais, principalmente nas comissões de frente. Tornaram-se parte da história do Carnaval, por exemplo, o carro do DNA, do Carnaval de 2004, a comissão de frente que trocava de roupa em frações de segundo, em 2010, e as cabeças que despencavam, no enredo sobre o medo, em 2011.

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Diferentemente do que se vê na Marquês de Sapucaí, nas finanças e na administração do barracão não há truques. A gestão profissional passou a ser seguida pelo vice-campeão deste ano, o Salgueiro, que tem conseguido se manter entre as favoritas nos últimos anos. Na vermelha-e-branca, a aposta é no tripé formado por um grande carnavalesco (Renato Lage), administração responsável e forte participação da comunidade na elaboração do desfile e, claro, na Avenida.

Em 2014, rivais poderosas do Carnaval perderam terreno. O maior sinal dos novos tempos é a ausência da Beija-Flor de Nilópolis no Desfile das Campeãs, algo inédito desde 1992. Sempre apontada como favorita e responsável por alguns dos grandes momentos dos Carnavais, a Mangueira também ficou de fora da festa de sábado, pelo terceiro ano consecutivo. O último título da verde-e-rosa já vai ao longe, em 2002, com o enredo Brazil com Z é pra cabra da peste, Brasil com S é nação do Nordeste.

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Não se pode chamar 2014, no entanto, de um Carnaval de perdas para o samba tradicional. Os desfiles também marcaram o renascimento de grandes agremiações. Que o digam Portela e União da Ilha. Maior campeã entre as escolas de samba do Rio de Janeiro, a azul-e-branca de Madureira ainda amarga um jejum de 30 anos sem título, mas sai vitoriosa por reconquistar a autoestima e a imponência simbolizada por sua famosa águia. O terceiro lugar deste ano simboliza um momento de virada da escola, que tem, a partir de seu retorno ao sábado das campeãs, a chance de alavancar visibilidade para repetir a dose em 2015.

O outro retorno digno de nota é da União da Ilha. A escola passou quase uma década, entre 2002 e 2009, no Grupo de Acesso (atual Série A). Dona de sambas-enredo clássicos como Festa Profana, O Amanhã e É Hoje, a escola tem grande empatia com o público, mas desde seu retorno à elite do Carnaval deve uma apresentação à altura para brigar pelo título. Em 2011, era grande a expectativa pelo desfile da Ilha. Na Cidade do Samba, todos comentavam o capricho nas alegorias da escola: “Será que vai brigar pelo título?”. A pergunta ficou sem resposta, após um incêndio destruir boa parte do barracão faltando cerca de um mês do desfile. Era o primeiro ano do talentoso carnavalesco Alex de Souza, responsável pelos desfiles desde então. Naquele ano, a escola foi excluída do julgamento, mas surpreendeu ao conseguir levar um desfile bonito para a Avenida. Nos anos seguintes, agradou público e crítica, ficando com um 8º e um 9º lugar. Em 2014, a Ilha levou para a Marquês de Sapucaí um tema divertido e naturalmente carnavalesco, com o enredo É brinquedo, é brincadeira: a Ilha vai levantar poeira!. Mais uma vez, Alex de Souza exibiu um trabalho criativo e esteticamente encantador.

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A onda revigorante entre as escolas tradicionais pegou também a Imperatriz Leopoldinense. Mesmo no auge, a escola era acusada de fria e antipática. Em 2013, ela pisou de forma diferente na Avenida. Apesar do clichê de homenagear um Estado brasileiro, o Pará, apresentou um desfile vibrante, assinado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues. O casamento do mundo da bola com o do samba não tem bons resultados na história do Carnaval, mas a homenagem a Zico foi uma honrosa exceção, com alegorias, fantasias e um desenvolvimento de enredo que reforçam a boa fase do carnavalesco e da escola. Problemas de evolução tiraram a Imperatriz da briga, mas a escola ainda tem muitos motivos para comemorar.

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A sexta colocada, Grande Rio, que apresentou o enredo Verdes olhos de Maysa sobre o mar, no caminho: Maricá, parece bem adaptada ao carnavalesco Fábio Ricardo, uma das grandes promessas da nova geração. A tricolor da Baixada Fluminense foi a mais atingida pelo incêndio de 2011, tendo o barracão totalmente destruído. Desde então, conquistou um quinto lugar, em 2012, e ficou duas vezes em sexto, em 2013 e 2014. A boa execução das fantasias, alegorias e a competência dos desfiles, no entanto, não conseguem romper uma barreira: a dos enredos complexos, difíceis de assimilar e, até, pouco compatíveis com uma apresentação na Sapucaí.

Com o troféu da Série A, a escola de Niterói retorna à elite do samba em 2015, graças a um desfile competente e, como é sua marca, pontuado por um bom samba. A missão da Viradouro será a de evitar o sobe-e-desce que tanto prejudica as escolas que frequentam a parte de baixo da tabela, sempre com risco de cair e, muitas vezes, prejudicadas pelo rigor desproporcional dos jurados. O melhor exemplo desse tipo de critério desequilibrado, este ano, foi a Império da Tijuca. Apesar do desfile competente, a recém-chegada foi penalizada em excesso e amargou a última posição. Coisas do Carnaval.

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Relembre como foram os desfiles do Grupo Especial:

2º dia: Portela e Unidos da Tijuca desfilam como favoritas

1º dia: Grupo Especial começa com desfiles belos mas pouco empolgantes

Sem fantasias, integrantes da Vila Isabel desfilam de cueca

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