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Tulum, onde celebridades do mundo fashion descansam

A cidade é o refúgio para a editora da 'Vogue' e para o stylist de Lady Gaga

Por Bob Morris
5 fev 2012, 11h22

A manhã estava ensolarada em Tulum, no México, a cidade situada ao longo da costa da Península de Yucatán, a 120 quilômetros ao sul de Cancún. Enquanto muitos saudavam o sol fazendo ioga na areia branca, Irene Albright e a filha, Marina, tinham os olhos grudados na tela de um laptop no saguão do Hotel Nueva Vida de Ramiro – mais especificamente, no site da Chloe.

Em celulares separados, as vozes das duas competiam com o trinar dos pássaros nas palmeiras próximas: “Então a manga é comprida?”, perguntou Irene, dona da Albright Fashion Library, uma loja sofisticada de aluguel de roupas em Manhattan. “Por quanto sai”? Momentos depois, foi a vez de Marina: “A jaqueta xadrez está quanto? O suéter é bordado?”.

Ali perto, Nian Fish, diretora de criação, tinha acabado uma videoconferência sobre o desfile da Tommy Hilfiger que está produzindo em Nova York – descalça e com uma bandana na cabeça. “Bem-vinda ao meu escritório”, ela disse à amiga.

E bem-vindo a Tulum, um destino de férias tão popular no mundinho fashion que, nesta época do ano, dá a impressão de ser a Semana da Moda. Enquanto os mochileiros procuram tartarugas marinhas e os ripongas New Age procuram o nirvana, os profissionais da moda não precisam procurar uns aos outros: eles estão em todo lugar, vestidos com classe, no mais puro estilo “camponês chic”.

Em dezembro, por exemplo, ali estiveram Nicola Formichetti, o stylist de Lady Gaga e diretor criativo da Mugler; Amanda Hearst, a “It Girl” da Marie Claire; Tom Mendenhall, CEO da Tom Ford, e Johan Lindeberg, o estilista barbudo da Blk Dnm.

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“Parece a minha Miami”, diz Kim Vernon, ex-executiva da Calvin Klein que hoje é consultora de grife em Manhattan. “Só não fui para lá no Natal porque não queria encontrar todo mundo que eu conheço.”

O que não significa que ela não saiba quem esteve lá. “Francisco Costa (estilista da Calvin Klein) alugou uma casa”, ela menciona. “Linda Fargo, da Bergdorf Goodman também foi, assim como Naeem Khan e Michael Carl e o diretor de moda da Vanity Fair.”

Claro que não podiam faltam os astros do cinema: Evan Rachel Wood, Jamie Bell e Kate Bosworth, que ficou, como sempre, no Coqui Coqui, o spa e hotel do modelo Nicolas Malleville. Em anos anteriores, Ryan Phillippe, Neil Patrick Harris, Sienna Miller e Alexander Skarsgard também foram vistos por lá.

As celebridades, porém, são de menos; elas preferem St. Barts e Miami. Tulum, mais simples e descontraída (que a Vogue italiana chama de “a nova Goa”), tem seus próprios frequentadores – menos famosos, mas importantes no mundo da moda.

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“No final da semana a gente já estava chamando de ‘selva da moda'”, conta Jym Benzing, diretor de elenco de uma agência publicitária de Nova York que se hospedou na cidade, durante o Natal, com um grupo de stylists e fotógrafos nas “cabanas” do Hemingway. “Cada ano tem mais gente e fica todo mundo junto, meio que amontoado um em cima do outro.”

A descrição de Anne Slowey, diretora de moda da Elle, foi menos condescendente: “Parecia Fort Lauderdale nas férias escolares”, ela dispara. “A única diferença é que em vez de concurso de camiseta molhada e bebedeira, o pessoal aqui faz aula de ioga. O voo de volta parecia aqueles que saem de Paris depois da Semana da Moda. Eca!”

Mas como uma cidadezinha que fazia parte do circuito hippie se tornou o novo point dos materialistas da Sétima Avenida?

A localização, talvez? Os voos de Nova York para Cancún são fáceis e rápidos, e a viagem não dura quatro horas. Do aeroporto, de táxi, a viagem não demora uma hora e meia – e ficou ainda mais fácil graças às obras na estrada que leva aos principais resorts do que o governo mexicano chama “Riviera maia”. Há também o atrativo da praia de areia branca, imaculada, que estende por quilômetros e quilômetros.

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Outro chamariz? Sustentabilidade. Tulum fez a opção consciente de não utilizar a rede elétrica, o que significa que tem que lançar mão de geradores solares e turbinas eólicas para manter suas luzes acesas. Em muitos hotéis, a água do chuveiro tem pouca pressão e nem sempre é doce.

Tudo isso faz com que as pessoas que passam a vida criando artigos de luxo descartáveis se sintam um pouco menos frívolas, ou pelo menos um pouco mais rústicas do que quando estão sobre saltos altos. E o povo da moda, geralmente em busca da iluminação, gosta de lugares com forte apelo espiritual. Tulum, que é também um sítio arqueológico da única cidadela maia construída à beira-mar, é um verdadeiro centro de iogues, médiuns e videntes.

Um nome que se destaca na mitologia moderna da cidade é o de Melissa Perlman: ela chegou de Manhattan em 2002, se apaixonou pelo lugar e abriu o Amansala, um spa e resort charmoso onde criou o “campo de treinamento do biquíni”, um programa de exercícios para mulheres que cuidam do corpo.

Graças à sua visão (ela alega ter inventado o termo “eco-chic”, usado em toda a cidade), alugou a propriedade que fica no fim da praia (e que pertencia ao falecido chefão do tráfico, Pablo Escobar) – e, em 2006, instalou ali a Casa Magna, um hotel boutique com boa música, iluminação indireta, ambiente tranquilo e funcionários para lá de simpáticos.

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A US$ 400 ou mais por noite, o local foi elogiado até por gente difícil de agradar, como Camilla Nickerson, editora da revista Vogue, e Michael Pitt de “Boardwalk Empire”. Melissa acabou perdendo a propriedade para o governo numa batalha judicial complicada, mas não a sua paixão empreendedora – a acabou de abrir um novo hotel chamado Amansala Chica.

“Tulum ainda é muito convidativa para a alma”, ela explica, “e continua a evoluir”.

Disso não há dúvida, tanto que muita gente já acha que ela não é mais um destino alternativo de férias para o pessoal da moda, mas sim um resort barulhento e lotado tão cheio de descolados, afetados e Louboutins que está começando a implodir – e com o calendário maia prevendo o fim do mundo para o fim do ano, talvez esse seja mesmo o seu destino.

“Tulum recebe tanta gente da moda agora que mais parece os Hamptons”, afirma Ariane Dutzi, antiga editora de moda alemã que, como Malleville do Coqui Coqui, preferiu ir para o interior, para a cidade colonial de Valladolid, onde emprega mulheres para fazer as bolsas que vende para as grifes, incluindo a Urban Zen de Donna Karan. “Era muito mais tranquilo e isolado; agora tem tanta gente que todo mundo começou a reparar no que os outros estão vestindo.

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Principalmente se estiverem no novo resort, o Be Tulum. Quem passa férias em Tulum há mais tempo define o lugar – com suas piscinas, ar condicionado (detalhe inédito numa área onde muitos hotéis não têm nem eletricidade depois das dez da noite) e diárias de US$ 500 – como “o fim”.

É claro que o dono, o argentino Sebastian Sas, encara a coisa de outra maneira. “Estão dizendo que o mundo vai acabar em 2012, mas acho que um novo mundo está começando aqui”, ele afirma. Sas se uniu aos donos de outros hotéis para impedir que Tulum cresça demais e perca sua identidade “eco-chic”. “O pessoal vem para Tulum para se sentir mais leve; todo mundo aqui anda descalço, anda de bicicleta… não existe música alta nem Lamborghini rodando por aí.”

As sessões de fotos são outra história, assim como as lojas exclusivas.

Na véspera do Natal, no trecho da avenida principal onde até os restaurantes novos mais requintados, como o Casa Jaguar, mais se parecem com casinhas de sapê, uma construção aberta e modernosa chamou a atenção porque mais se parecia com uma nave espacial vinda diretamente do planeta St. Tropez: era a loja Josa, cheia de cáftãs elegantes de US$ 300 criados pela nova-iorquina Joanne Salt.

O lugar estava vazio e o ar tropical zunia com o barulho de três sapos; um ciclista passava de vez em quando, tão silencioso quanto os pelicanos no céu. Alessandra Montana, uma italiana chique com penas entrelaçadas no cabelo, era quem cuidava da loja naquela noite. Ela disse que tinha se mudado de Los Angeles no ano anterior para ensinar ioga e deixar o mundo material para trás.

“Trabalhei com moda durante vinte anos, e quando me mudei para cá jurei a mim mesma que nunca mais voltaria para esse ramo”, ela confessa. “Quem sabe se meu sonho não se realiza em 2012?”

Ou quem sabe a profecia maia se realize e Tulum se acabe?

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