Tudo – até Chris Brown – é dispensável no 7º CD de Rihanna
Em 'Unapologetic', seu novo álbum de estúdio, a cantora de Barbados atira para todos os lados -- do hip hop à música eletrônica -- e acerta muito pouco
Desde que sua carreira estourou com Good Girl Gone Bad (2007), seu terceiro disco, Rihanna tem surpreendido crítica e fãs por lançar um álbum (bom) por ano. Não foi o caso em 2012. O álbum que saiu nesta semana, Unapologetic, sucessor de Talk That Talk (2011), é extremamente irregular: tem poucas canções boas, muitas dispensáveis, e atira para todos os lados.
As temporadas que a cantora tem passado em Barbados, sua terra natal, são uma clara influência do disco, que tem várias canções inspiradas por dub e reggae, ritmos musicais bastante populares na América Central. Em outras faixas do disco, aparecem ainda como referências muito hip hop e música eletrônica (french house, electro, dubstep). E, no meio disso tudo, ainda há espaço para baladas com piano.
O disco abre com Phresh Out The Runway, escrita pelo DJ francês David Guetta com produção do cantor The-Dream, autor de Umbrella, um dos primeiros hits de Rihanna. É essencialmente feita para as pistas de dança, com batidas de electro e versos de hip hop. A segunda faixa é Diamonds, o primeiro single do álbum, que tem grande potencial “chiclete”, graças aos produtores StarGate e Benny Blanco (autor de outros hits, como California Gurls, de Katy Perry, e Moves Like Jagger, do Maroon 5).
Na terceira faixa, começa a parte hip hop do disco, que poderia ser facilmente limada. Até Numb, que tem participação de Eminem, é um dub tedioso até dizer chega. Sem falar que Eminem só aparece aos 2:20 — até lá, o ouvinte já desistiu da faixa. A seguinte, Pour it Up, segue com ritmo parecido, mas mais atmosférica. A quinta, Loveeeeeee Song, segue a mesma linha, mas é um pouco mais interessante que as duas anteriores, graças à participação do ótimo rapper Future, revelação deste ano.
Depois de Loveeeeeee Song vem a pior música do disco, Jump, produzida pelo poderoso duo de música eletrônica Chase & Status, com breaks de dubstep — gênero musical que se assemelha a drum ‘n bass mais lento e que virou moda no fim de 2011 – e, ainda bem, foi embora tão rápido quanto veio. A seguinte, Right Now, novamente com participação do DJ David Guetta, ajuda Rihanna a se redimir em partes. É o tipo de música que deve fazer sucesso nas pistas, seguindo a linha french house.
Rihanna pode ter feito sucesso com músicas pop, mas é nas baladas que a cantora solta a voz e mostra o que tem de melhor. What Now, a oitava música do disco, é tão bonita e grandiosa que chega a dar arrepios — é música para ser cantada no ponto alto de um show. Ela também faz bonito em Stay, que tem participação do cantor revelação de R&B Mikky Ekko.
https://youtube.com/watch?v=T7q1FNsXAuo
Mulher de malandro – Outro problema do disco é que Rihanna parece estar o tempo todo cantando sobre ter voltado com o cantor Chris Brown, com quem havia terminado o namoro em 2009 após ter sido agredida por ele. Isso fica evidente na canção Nobody’s Business, que tem participação de Brown. “Isso não é da conta de ninguém, só da minha e do meu bebê”, canta Rihanna, em uma evidente referência ao episódio.
Ela também parece estar se referindo ao caso na faixa seguinte, Love Without Tragedy/Mother Mary, na qual canta “O que é o amor sem tragédia?” — uma clara tentativa de minimizar o fato de ter voltado com o namorado que a espancou. Essa parte final do disco é marcada por mudanças bruscas de ritmo entre uma canção e outra. Rihanna passa de baladas com piano para o reggae chatinho de No Love Allowed, e, então, para Lost in Paradise, outra música de pista.
Há quem diga que o amor desperta o melhor nas pessoas. Mas isso não parece ter se concretizado com Rihanna depois que a cantora voltou com Chris Brown. Unapologetic não é Rihanna em seu melhor, mas tem algumas (poucas) faixas que valem a pena. Um conselho para o fã dedicado: tenha paciência para lidar com tamanha esquizofrenia e não tenha pudor em mudar de faixa.