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‘The Square’ quer abraçar o mundo e se perde

Filme sueco de Ruben Östlund tenta falar de degradação de valores, do estado da sociedade, da mídia e da arte

Por Mariane Morisawa, de Cannes
20 Maio 2017, 11h42

Tem certo parentesco com o húngaro Jupiter’s Moon, de Kornél Mundruczó, o filme The Square (“o quadrado”, na tradução livre), do sueco Ruben Östlund (de Força Maior). Ambos têm no centro um homem em crise moral que acaba confrontado com princípios básicos das religiões, como “não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você” – não à toa o protagonista aqui chama-se Christian (Claes Bang). Como em tantos outros filmes desta competição no 70º Festival de Cannes, o diretor parece querer abarcar o mundo e o estado da sociedade moderna, perdendo-se pelo caminho. Mas o resultado é um pouco mais inspirado do que do seu concorrente da Hungria.

Christian considera-se um homem contemporâneo. Mais ainda, um homem sueco contemporâneo, ou seja, domesticado pela correção política e cidadão consciente num Estado de bem-estar social. É curador de um museu, dirige um carro elétrico – um Tesla, ou seja, o carro elétrico mais cobiçado que existe. Andando para o trabalho certo dia, Christian tem sua vidinha estável e confortável abalada por um evento que, descobre logo depois, tinha sido armado para lhe roubar a carteira e o celular. Num gesto de pouca sensibilidade, calcado no seu privilégio social, resolve buscar justiça com as próprias mãos, deixando uma mensagem ameaçadora em todos os apartamentos de um prédio onde está seu celular, de acordo com o localizador. A partir daí, sua vida vai desmoronando aos poucos.

Östlund vai bem quando demonstra que, por trás da fachada civilizada e intelectualizada de Christian, há um homem cheio de preconceitos, elitista e vazio. São excelentes suas cenas com Elisabeth Moss (a Peggy de Mad Men), uma jornalista que o coloca contra a parede como curador e como homem. Só que o filme também envereda numa discussão sobre a arte e o mundo da arte, que rende algumas cenas divertidas, mas que fazem com que perca o foco. Fica especialmente evidente quando entra em detalhes sobre determinada obra ou tem uma sequência inteira, incômoda, verdade, de uma performance de um artista que age como um animal. O material de imprensa explica que o longa nasceu de um trabalho em artes visuais em parceria com Kalle Boman. A instalação, porém, poderia ter permanecido como instalação, sem invadir a obra cinematográfica.

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