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‘The Big Bang Theory’: a sitcom da geração Facebook

Com salários que somam quase 5 milhões de dólares, audiência na casa de 20 milhões de espectadores por episódio e incontáveis downloads na internet, série sobre nerds radicados na Califórnia, reduto da tecnologia nos EUA, ocupa agora o posto que já pertenceu a 'Friends', nos anos 1990, a 'Cheers', nos anos 1980, e a 'Happy Days', na década de 1970

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 ago 2014, 17h49

Postos lado a lado, os protagonistas de Friends e The Big Bang Theory não parecem ter nada em comum. Os primeiros são jovens descolados à procura de festas e relacionamentos na pulsante cidade de Nova York. Os outros são nerds que não raro travam debates sobre ciência e tecnologia em um pequeno apartamento da Califórnia, o reduto tecnológico dos Estados Unidos. Mas os dois grupos de personagens estão no centro de fenômenos que, quando se observa a história da televisão americana, só surgem a cada dez ou quinze anos. Assim como Friends foi a série mais assistida entre a metade dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, The Big Bang Theory é hoje a mais vista nos EUA, de onde se espraia pelo mundo afora. O que permite que personagens tão diferentes desempenhem esse mesmo papel é a equação das sitcoms (abreviação para situation comedy), séries com episódios de apenas meia-hora, roteiros metralhados de piadas, personagens cativantes (por um motivo ou outro) e histórias que vão do humor politicamente incorreto ao sentimentalismo puro. Big Bang tem um atrativo a mais: com seus nerds e geeks, ela é a cara da geração Facebook.

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  1. Considerado o escritor de comédia mais bem sucedido da história da TV americana por Tom Nunan, ex-executivo de redes como NBC, ABC e Fox, Chuck Lorre não está para brincadeira quando o assunto é fazer o público dar risada. Além de roteirista e produtor-executivo de The Big Bang Theory, ele está por trás de grandes séries como Grace Under Fire (1993-1998), Dharma e Greg (1997-2002), Two and a Half Men (no ar desde 2003), Mike & Molly (desde 2010) e Mom (desde 2013).

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    Para o professor de programação televisiva da Faculdade Belas Artes Dirceu Lemos, Lorre já se tornou uma marca. “Ele consegue atrair os melhores roteiristas, equipe e elenco para qualquer projeto em que se envolve.” Nunan concorda. “Ele é um mago, é único, tem incrível capacidade de levar diversos projetos ao mesmo tempo e bom gosto ao escolher os roteiristas que vão trabalhar com ele em cada série.”

    Sua produtora, a Chuck Lorre Productions, atua no mercado das sitcoms desde o começo dos anos 1990, quando lançou Grace Under Fire, série que retratava uma mulher em tratamento contra o vício em álcool que tentava criar seus filhos sozinha após se divorciar do marido, também um alcoólatra. O tema do vício é recorrente em seriados assinados por Lorre: Charlie Sheen interpretava um alcoólatra – ou uma versão de si mesmo – em Two and a Half Men, antes de ser demitido, em 2011, enquanto Billy Gardell e Melissa McCarthy dão vida a um casal que se conhece em um grupo de apoio para pessoas que comem demais em Mike & Molly.

Criação do mestre do formato Chuck Lorre, o mesmo de Two and a Half Men, Mike & Molly e Mom (ver box ao lado), The Big Bang Theory não é unanimidade só nos EUA. O seriado é exibido nos cinco continentes, chegando a países tão diversos como Japão, Austrália, Hungria e África do Sul. Por isso, espectadores dos quatro cantos do mundo prenderam a respiração quando descobriram que os cinco atores principais da série, Jim Parsons (o amalucado Sheldon), Johnny Galecki (Leonard, o nerd mais descolado), Kaley Cuoco (Penny, a namorada loira e burra de Leonard), Simon Helberg (o judeu esquisitão Howard) e Kunal Nayyar (Raj, o indiano que não falava com mulheres), ainda não haviam renovado contrato às vésperas das gravações da oitava temporada, prevista para 22 de setembro em território americano.

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As negociações, iniciadas em maio, logo após o fim do sétimo ano da série, se arrastou até o começo de agosto, quando o mundo voltou a respirar e os atores da série suspiraram de alegria. O trio principal fechou acordo para receber, cada um, cerca de 1 milhão de reais por episódio, mais 1,25% dos lucros obtidos por Big Bang. O salário gordo dos atores se equipara ao recebido pelo sexteto de Friends na nona e na décima temporadas da série e lembra o de outro protagonista de um seriado de Chuck Lorre. Charlie Sheen, de Two and a Half Men, chegou a ganhar entre 1,5 e 2 milhões de dólares por episódio antes de ser demitido – o valor maior se justifica porque a série, tal como existia, era ele. Já Helberg e Nayyar se conformaram com quantia menor, ficando cada um como algo em torno de 800.000 dólares por capítulo.

Em termos de audiência, é mais complicado comparar Big Bang com Friends, série que se restringia à televisão, em uma época que hoje pode ser descrita como pré-história da internet. O episódio mais visto de Rachel (Jennifer Aniston) e sua turma foi ao ar após o Super-Bowl, a final da liga de futebol americano, evento mais assistido todos os anos nos EUA, e atraiu 52,9 milhões de espectadores, segundo dados da empresa especializada Nielsen. Já o recorde de Sheldon e sua turma foram 20,4 milhões de espectadores – mas não se sabe ao todo quantos baixaram o capítulo pelo mundo ou o viram, em algum momento, no site do canal CBS. Two and a Half Men, por sua vez, teve seu recorde graças à publicidade que angariou com a demissão de Charlie Sheen: a estreia de Ashton Kutcher foi vista por 28,7 milhões.

A fórmula do sucesso – “Big Bang reprisa, em termos de audiência e influência na cultura pop, o sucesso de Friends“, diz Tom Nunan, produtor-executivo do filme vencedor do Oscar Crash: No Limite (2004), que já atuou em grandes redes americanas como NBC, ABC e Fox. Para ele, a série já faz parte da galeria composta por fenômenos como Cheers, nos anos 1980, Happy Days, na década de 70, e I Love Lucy, considerada o marco da sitcom, na década de 1950.
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Para Nunan, os altos salários do elenco de The Big Bang Theory são a prova da qualidade inegável do seriado. Os enredos dos episódios se desenvolvem sempre em torno do grupo de amigos formado por Sheldon, o garoto-prodígio da Física, seu colega de apartamento Leonard, doutor em física experimental, Penny, a vizinha aspirante a atriz, Howard, o engenheiro espacial, e Raj, o astrofísico tímido.

No ar desde 2007, o programa podia ter se perdido na repetição de situações e piadas. Mas The Big Bang Theory se renovou sempre, e especialmente com a entrada das atrizes Mayim Bialik, intérprete da namorada de Sheldon, Amy Farrah Fowler, e Melissa Rauch, a mulher de Howard, Bernadette Rostenkowski, na terceira temporada.

“Os relacionamentos entre os personagens garantiram sua longevidade. Pessoas que parecem ter encontrado seus melhores amigos ainda chamam a atenção. E o público quer ver esse grupo resolvendo problemas e entender como as características de cada um serão usadas para lidar com os obstáculos”, diz Nunan.

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O ritmo de piadas Big Bang é dos mais elogiados. Um levantamento feito pela New York Magazine em maio constatou que a média de 4,3 piadas por minuto deixa a série entre o humor irônico do programa Curb Your Enthusiasm (com 2,3 piadas por minuto) e a máquina cômica que é 30 Rock (4,6 piadas por minuto). “Você consegue dar risada, parar, continuar acompanhando e depois rir de novo”, diz Denise Tavares, pesquisadora de audiovisual e divulgação científica na TV e multimídia da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A professora lembra também que a sitcom, formato consagrado por mostrar os personagens sempre no mesmo espaço, geralmente uma casa, bar ou restaurante, em episódios gravados diante de uma plateia, contribui para a receptividade de Big Bang. “O formato aproxima o programa do espectador ao mostrar seus personagens favoritos em um ambiente familiar.”

Nerds em altaThe Big Bang Theory é o integrante mais bem sucedido de um filão que parece querer vingar os nerds e desajustados em programas de TV. Além da produção sobre os craques da ciência da Califórnia, também fazem parte do pacote seriados como Eureka, sobre um grupo de gênios escalados para desenvolver tecnologias para o governo americano, e Silicon Valley, série da HBO que vem colhendo elogios da crítica especializada.

“Estamos vendo a vingança dos nerds. Depois de pessoas como Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, e Steve Jobs, da Apple, os nerds passaram a ser considerados sofisticados, chiques. Quem não ia querer ser multimilionário e mudar o mundo?”, diz Tom Nunan. Por outro lado, ele reconhece, o estigma de perdedores que os nerds ainda carregam também contribui para o sucesso dos programas. É apelo em dobro. “O público se identifica com o geek, o nerd. O programa acaba abordando a vida dos oprimidos. E todos torcemos pelos oprimidos.”

The Big Bang Theory parece mesmo ser a série certa na hora certa. É, sem dúvida, a sitcom de uma era.

(Colaborou Mariana Amorim)

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