Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Te cuida, Marília Mendonça: a sofrência alternativa da cantora Letrux

Com o disco 'Aos Prantos', a cantora carioca prova que a “dor de cotovelo” não é combustível só do sertanejo: o pop alternativo-cabeça tem sua musa chorona

Por Amanda Capuano Atualizado em 24 abr 2020, 10h51 - Publicado em 24 abr 2020, 06h00

Em 1988, Nas Montanhas dos Gorilas levou aos cinemas a trajetória da zoóloga Dian Fossey. O fim trágico da personagem interpretada por Sigourney Weaver — a ativista americana foi assassinada ao lutar pelos animais — fez a pequena Letícia Novaes, então aos 6 anos, chorar pela primeira vez vendo um filme. Décadas depois, Letícia virou Letrux. Hoje, aos 38, a carioca adotou as lágrimas como combustível musical. Não à toa, seu recém-lançado segundo disco-solo foi batizado de Aos Prantos: as faixas, que transitam pela filosofia, espiritualidade e paixão, embalam as lamúrias dos 220 000 ouvintes mensais que ela soma no Spotify. “Sou chorona desde a infância. Sempre fui sensível”, diz a cantora de olhar marcante e volumosos fios loiros.

Com um pé na dor de cotovelo de Marilia Mendonça e o outro no estranho jeitão performático de uma Marina Abramovic, Letrux atrai um público-cabeça. Quase uma versão nacional de Florence Welch, do grupo Florence and The Machine. De figurino extravagante e coreografias modernosas, Letrux cai no gosto do ouvinte que foge do sertanejo, mas no fundo compartilha dos mesmos sentimentos provocados por uma sofrência, daquela entoada em alto e bom som, com um copo de cerveja na mão e suor na testa. É a sofrência alternativa.

Mesmo tendo como pano de fundo bases de música eletrônica, a emoção que alimenta os canais lacrimais da cantora é a mesma que domina a arte desde os trovadores medievais: as agruras do amor. O peito aberto à vulnerabilidade traz consigo letras melancólicas, outras de superação, muitas com forte toque de sexualidade. “Todo corpo tem água, lágrima, suor e gozo / Ou a gente chora, ou a gente sua, ou a gente goza”, dizem os versos de Déjà-Vu Frenesi. Amante das artes plásticas e da literatura, Letrux usou diários de adolescência como primeira fonte de inspiração. Ela também incorpora em suas canções experiências de amigos e até relatos de amores que ouviu na rua.

+ Compre o CD Letrux, em noite de climão

Continua após a publicidade

Fruto da união entre uma professora de francês e um bancário com alma de músico, Letrux cresceu em um ambiente propício à sensibilidade aflorada. “A gente amanhecia com B.B. King, meu pai colocava Raça Negra e depois os sambas-enredo do ano, seguidos de Beethoven e Chico e Bethânia.” Veio daí uma artista difícil de delimitar musicalmente. Quando adolescente, montou uma banda de rock. Em 2008, uniu-se ao então namorado, Lucas Vasconcellos, no duo Letuce, que mesclava indie rock com MPB. Em carreira-solo desde 2017, ela se esquiva quanto pode das barreiras de gênero. “Se tivesse de definir minha música, diria que é uma nova MPB”, teoriza.

Para além da veia romântica, a divagação intelectual e a espiritualidade são indissociáveis de sua personalidade — em tempos de Covid-19, ela “recarrega energias” em um sítio no interior do Rio. Sua verdadeira paixão, porém, é o mar, ao qual atribui propriedades curativas. Na música Salve Poseidon, exalta o deus das águas e usa da mitologia grega para construir uma analogia mística entre o amor e a natureza. O esoterismo, aliás, tem herança genética: o pai é um médium umbandista. Ela própria é espírita declarada, mas flerta com o budismo — alterna a meditação com banhos de ervas e descarregos. Já a mãe lhe apresentou a astrologia. “É algo que você precisa estudar, não acreditar”, diz.

Quem vê Letrux entregando shows quase delirantes nos palcos não imagina que a cantora é tida como a “alma velha” entre os amigos — no último ano, dispensou as festas para passar Natal, Ano-­Novo e Carnaval em família. “Acham que eu sou doida ou drogada. Eu me apresento completamente sóbria, me conecto com minha própria energia, e depois vou para o hotel pedir uma canja e ficar na banheira.” A sofrência pode ser uma coisa muito pós-moderna.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684

CLIQUE NA IMAGEM ABAIXO PARA COMPRAR


Letrux, em noite de climão

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.