Sean Penn critica duramente a candidatura de Wyclef Jean à presidência do Haiti

Wyclef Jean, rapper e um dos fundadores da banda Fugees, anunciou sua candidatura à presidência do Haiti na noite de quinta-feira, pela TV. Mas o seu suposto ato de heroísmo – ele é haitiano e diz querer reconstruir o país devastado pelo terremoto – já começa a levantar dúvidas.

Sean Penn, que é presença ativa no país desde o terremoto, disse que está “muito desconfiado” do cantor. Ele suspeita que Jean tenha desviado 400.000 dólares de doações feitas via Fundação Yelé Haiti – criada pelo próprio Jean em 2005. “Ele diz que não foi ele, que isso deve ser investigado. Eu estive lá, sei o que 400.000 dólares poderia fazer pela vida dessas pessoas”, disse Penn.

Sobre a candidatura, o ator e diretor o critica sem concessões: “Ele é alguém que vai receber um enorme apoio dos Estados Unidos e eu tenho que dizer que estou desconfiado, simplesmente porque ele, como embaixador geral, esteve virtualmente silencioso. Para nós que estamos no Haiti, ele tem sido uma não-presença”.

Sua suspeita é de que Jean tenha interesses financeiros – nada nobres – no posto presidencial. “Vejo em Wyclef alguém que bem poderia estar influenciado pelas promessas de apoio de empresas. Acho que o Haiti é vulnerável. Há uma história de interesses americanos no país, que já chegam com uma cultura de pagar pouco às pessoas – de um a dois dólares por dia”. E continua: “Não vi nem ouvi nada dele nesses últimos seis meses em que estive no Haiti. Acho que ele é uma voz importante. Espero que ele não sacrifique essa voz em fechando os olhos para as devastadoras realidades em questão. Quero ver alguém que realmente – realmente – quer se sacrificar pelo seu país e não apenas alguém que eu vi, pessoalmente, (chegar) com um comboio vulgar de carros, demonstrando uma riqueza no Haiti que, no contexto, era uma demonstração verdadeiramente obscena”.

Penn não é a única voz contra o candidato. O rapper Mc Out Loud, que acusa o cantor de ter usado um sample de sua música sem autorização, diz que o apelido de Wyclef é “Why-theft” – um trocadilho com a palavra roubo. “Não há nada de errado com a candidatura se ele puder ajudar, mas quando artistas entram no campo da política, não é uma boa coisa”, opinou.