Salma Hayek fala a VEJA sobre ser uma heroína aos 55 anos: ‘Mágico’
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Em Eternos você interpreta a líder Ajak, que, nos quadrinhos, é um homem. O que pensou quando foi escalada para o papel? A Chloé Zhao (diretora) disse que sempre me teve na cabeça para esse personagem, tanto que fui a primeira do elenco a ser contratada. Só sei dizer que foi mágico. Essa mulher chinesa, talentosíssima, olhou para outra mulher, uma latina, de origem árabe, de meia-idade, e viu uma líder e uma heroína.
Neste ano, você protagonizou um filme de ação, o Dupla Explosiva 2, e agora uma produção de super-heróis, o que seria inimaginável para uma mulher acima dos 50 em um passado não muito distante em Hollywood. O que pensa dessa fase da indústria? Eu penso: “Ainda bem que foi na minha vez” (risos). Se essa revolução acontecesse daqui uns dez anos, eu não surfaria nessa onda. Vivi e trabalhei na época em que isso não era uma realidade. Vi a mudança de perto. Muitas mulheres passaram por situações difíceis para que pudéssemos chegar até aqui.
Por muito tempo, você carregou o estereótipo da latina sexy. A beleza mais ajudou ou atrapalhou nessa jornada? A beleza me abriu portas, mas também fechou várias outras. Estereótipos limitam. Digo que mais ajudou do que atrapalhou, pois minha aparência me deu tempo para conseguir vários papéis e provar que sou uma boa atriz. A beleza vai embora um dia, mas estou tranquila, já provei quanto sou talentosa.
Hoje há uma cobrança por elencos mais diversos, e Eternos é o mais plural da Marvel até o momento. Como uma das poucas latinas por décadas em Hollywood, qual sua opinião sobre essa demanda? Sinto que os esforços de Hollywood em busca de diversidade atendem a uma correção política — e o.k., eu aceito e tiro proveito disso. Mas em Eternos foi diferente. Foi orgânico. A Chloé vê a humanidade em todas as suas formas e cores. É muito significativo estar em filmes que falam sobre salvar o planeta. São tramas populares, com uma mensagem embutida, e eu não me via nelas.
Você teve Covid-19 logo no começo da pandemia e chegou a usar um respirador. Como se sente hoje? Estou bem. Foi uma experiência horrível, desgastante, assustadora, entediante e muito longa. Aliás, fiquei preocupada com o Brasil. A pandemia foi bem séria aí, não?
Sim, mas a vacinação agora está avançando bem. Que bom, eu estou vacinada. Espero nunca mais pegar esse vírus. Mas, se pegar, me alivia saber que não vou ficar tão doente quanto fiquei.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763