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River Phoenix revive no Festival de Berlim em ‘Dark Blood’

Longa que o irmão de Joaquin Phoenix filmava quando morreu, em 1993, foi enfim terminado pelo seu diretor, o francês George Sluizer

Por Mariane Morisawa, de Berlim
14 fev 2013, 17h10

Quando morreu, aos 23 anos, em 31 de outubro de 1993, River Phoenix havia estrelado um filme do coração de muita gente (Conta Comigo, 1986), concorrido ao Oscar de coadjuvante (O Peso de um Passado, 1989) e feito a versão jovem do arqueólogo mais famoso do mundo (Indiana Jones e A Última Cruzada, 1989). Ele também deixou um longa inacabado, Dark Blood (Sangue Escuro, na tradução literal do inglês). Finalmente pronta, depois de quase vinte anos, a produção de George Sluizer foi exibida em sessão para jornalistas no início da tarde desta quinta-feira, fora de competição, no 63º Festival de Berlim.

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Sluizer, cujo primeiro trabalho, A Faca e o Rio (1972), foi rodado no Brasil, havia filmado cerca de 80% do material quando recebeu a notícia da morte do ator, por overdose, na frente do clube Viper Room de Los Angeles – seu irmão, o também ator Joaquin Phoenix, que concorre ao Oscar neste ano por O Mestre, foi quem telefonou para chamar a emergência. O diretor teve de interromper os trabalhos. A companhia de seguros reteve as latas do filme até 1999, quando Sluizer soube que elas seriam destruídas. Em dois dias, o cineasta conseguiu salvar o material, que levou para a cinemateca holandesa.

No entanto, foi apenas em 2007, quando sofreu um aneurisma, que resolveu “juntar os pedaços de Dark Blood da melhor maneira possível”, como contou na coletiva de imprensa que se seguiu à exibição. Seu objetivo era preservar aquele trabalho. Mas, aí, o cineasta percebeu que faltavam vários rolos, inclusive a última cena rodada com Phoenix, que o diretor de fotografia Ed Lachman descreveu como fantasmagórica, porque as câmeras continuaram rodando depois do “corta” e captaram um momento em que o ator andou em direção a elas. Até o momento, não foi fechado um acordo com a companhia de seguros para o lançamento da produção, mas Sluizer anunciou que outros rolos podem ter sido encontrados em Londres.

Cena de 'Dark Blood', último filme de River Phoenix, morto em 1993 aos 23 anos, de overdose de drogas. O longa foi finalizado quase vinte anos depois
Cena de ‘Dark Blood’, último filme de River Phoenix, morto em 1993 aos 23 anos, de overdose de drogas. O longa foi finalizado quase vinte anos depois (VEJA)

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Para completar o longa, Sluizer acrescentou narrações em off em que conta o que se passa nas cenas ausentes. Na trama, um casal de meia-idade formado por Harry (Jonathan Pryce) e Buffy (Judy Davis) parte para uma segunda lua-de-mel no deserto, pois o casamento vai mal. Só que seu carro quebra no meio do nada. Buffy busca ajuda, que encontra na forma de Boy (ou “garoto”, em inglês), interpretado por River Phoenix. Ele é um viúvo que perdeu a mulher por um câncer provocado pelos testes nucleares perto de terras indígenas nos Estados Unidos.

O lugar todo parece um pouco misterioso e mal-assombrado – como o filme. Boy logo mostra seu lado obscuro ao fazer os dois como prisioneiros. Deseja Buffy, que conhece de uma foto de revista. A aparência frágil de Phoenix dá mais relevo ao personagem ameaçador. “Acho que o escolhi porque queria um contraste entre a sua imagem delicada e a dessa pessoa estranha, meio maluca, que se aparta do mundo”, explicou o diretor.

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Oos atores Judy Davis, River Phoenix e Jonathan Pryce em cena de 'Dark Blood', último filme de Phoenix, morto aos 23 anos, de overdose. O longa foi finalizado quase vinte anos depois
Oos atores Judy Davis, River Phoenix e Jonathan Pryce em cena de ‘Dark Blood’, último filme de Phoenix, morto aos 23 anos, de overdose. O longa foi finalizado quase vinte anos depois (VEJA)
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Competição masculina – Depois de iniciar com filmes mais femininos, como os até agora favoritos Gloria, do Chile, e Child’s Pose, da Romênia, a competição do 63º Festival de Berlim deu uma virada e passou a apresentar longas protagonizados por homens. Em An Episode in the Life of an Iron Picker (Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro, na tradução literal do inglês), dirigido pelo bósnio Danis Tanovic (Palma de Ouro em Cannes e Oscar de filme estrangeiro por Terra de Ninguém, de 2001), Nazif (Nazif Mujic) corre contra o tempo para arrumar dinheiro para uma operação de emergência na mulher, Senada (Senada Alimanovic), que perdeu o bebê que esperava.

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Pobre, a família de origem cigana, integrada ainda por duas meninas pequenas, não tem seguro-saúde. Nazif sobrevive cortando carros para vender no ferro-velho. Esse episódio real é recontado com as pessoas que o viveram, com a mesma câmera na mão que já se tornou uma marca do festival. O filme usa cenas longas, imitando o tempo real, mas no fundo a história é pretexto para falar da vida dura de quem não tem recursos e, com pequenas variações, poderia acontecer em qualquer lugar do mundo.

Em chave totalmente diversa está Prince Avalanche (Príncipe Avalanche, na tradução literal), do americano David Gordon Green (de George Washington e Segurando as Pontas), que foi um respiro nessa competição tão cheia de dor, drama e lágrimas. Alvin (Paul Rudd) e seu cunhado Lance (Emile Hirsch) trabalham numa área de floresta no Texas recuperando a sinalização de uma estrada. Só têm um ao outro como companhia, a não ser quando um misterioso caminhoneiro (Lance Legault) e uma senhora (Joyce Payne) aparecem, para em seguida desaparecer. Refilmagem do islandês Either Way, investiga o universo masculino com humor peculiar e momentos absurdos.

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Harmony Lessons (Lições de Harmonia, na tradução literal do inglês) impressiona, ainda mais por ser o filme de estreia do cazaque Emir Baigazin, 28 anos. Com planos fixos elaborados, tem como protagonista o menino Aslan (Timur Aidarbekov, descoberto num orfanato), que mora com a avó numa casa no meio do nada e sofre na mão dos seus amigos de escola, principalmente Bolat (Aslan Anarbayev), que cobra proteção de todos os alunos. Até que Aslan se enche (sem dar nenhuma demonstração) e resolve agir. Nesse filme sem exibição de emoções, mas muito contundente, as crianças reproduzem o comportamento dos adultos e do Estado, que pratica tortura, por exemplo. Harmony Lessons tem tudo para estar entre os premiados no sábado.

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