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Philippe Rothschild, o barão do novo mundo

Herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da Europa, ele adotou o Brasil como lar. Por aqui, seus vinhos dobraram as vendas na pandemia

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 fev 2021, 10h38 - Publicado em 19 fev 2021, 06h00

No dia 10 de fevereiro, o francês Philippe de Nicolay Rothschild comemorou onze anos de Brasil. Herdeiro de bilionários banqueiros europeus cujo império começou há mais de 250 anos em Frankfurt, espalhando-se depois por outras quatro metrópoles do continente, ele trocou uma carreira de três décadas à frente de um dos bancos da família por outro ramo também cultivado com sucesso por seus ascendentes desde 1853: o de vinhos. E isso após sobreviver a um tsunami no Sudeste Asiático. Tendo passado incólume pela Covid-19 no último ano — mesmo depois de sua mulher, a empresária Cris Lotaif, ter pego a doença —, Rothschild continua à frente de seu principal negócio, a importadora PNR Group, que conta com um braço de vendas para supermercados e um clube de vinhos. O empresário tem colhido os frutos de suas acertadas escolhas — em meio à pandemia do novo coronavírus, ele viu seu faturamento mais do que dobrar.

A explicação para a recente tendência de crescimento parece simples, mas há um viés cultural e também logístico, segundo Rothschild. Sem poder frequentar bares e restaurantes como faziam antes, as pessoas estão consumindo mais bebidas em casa. Uma garrafa de vinho de 750 mililitros serve em média cinco taças, que podem ser tomadas de uma só vez ou aos poucos. Bebe-se uma taça no almoço ou no jantar, ou em uma hap­py hour virtual, e o resto é guardado para o dia seguinte, recurso que outras bebidas, como a cerveja, a preferida dos brasileiros, não permitem.

Os apreciadores de vinho nos principais mercados do mundo têm se voltado com mais frequência para a bebida. Segundo relatório da Wine Intelligence, empresa de pesquisa que acompanha 35 países, inclusive o Brasil, as pessoas estariam sendo estimuladas a beber mais devido às sucessivas ondas de confinamento. Outra pesquisa, essa conduzida pela Ideal Consulting, apontou que o Brasil registrou crescimento de 31% no volume de vinhos vendidos em 2020, em relação a 2019 — aumento alavancado pelo comércio eletrônico.

HERANÇA - Os pais, nos anos 1970: linhagem europeia -
HERANÇA - Os pais, nos anos 1970: linhagem europeia – (Reporters Associes/Gamma-Rapho/Getty Images)

Por tudo isso, Rothschild prevê ampliar ainda mais a sua presença no Brasil. Com foco nos clientes das classes A e B, ele oferece uma seleção das vinícolas da família, incluindo o rebuscado Château Lafite Rothschild, cuja garrafa da safra 1999 não sai por menos de 10 000 reais. Há opções mais em conta no catálogo, como o também francês Blason D’Aussières 2017, por menos de 200 reais, além de outros rótulos oriundos do Chile, Argentina, Portugal, Espanha e Itália.

Vinhos brasileiros, que ainda não fazem parte do cardápio, devem entrar este ano. O empresário, famoso por só vender bebidas que prova pessoalmente, já abriu muitas garrafas nacionais, mas até agora não se convenceu com nenhum postulante. “Minha prioridade é encontrar um produtor daqui que cuide da vinícola como nós cuidamos das nossas”, diz ele, em uma poltrona no suntuoso dúplex onde mora, no Jardim América, Zona Oeste de São Paulo.

Com vinhos em diversas faixas de preço, a PNR Group procura contemplar uma ampla variedade de consumidores. Rothschild tira o peso da crença de que o rótulo ou o preço estão acima de tudo. Para ele, um vinho bem-feito é melhor do que um caro. Ele também segue a máxima de que o que está dentro da garrafa importa mais do que aquilo que está grudado fora dela. Sua briga, recentemente, tem sido pelo preço mais justo e pelo fim de instituições como o “pagamento da rolha”, quando o cliente leva o próprio vinho para o restaurante e paga uma taxa para consumi-lo. Para ele, o mercado local só vai amadurecer quando se livrar dessa prática.

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Aos 65 anos, o empresário se emociona ao contar como sobreviveu ao tsunami que matou mais de 200 000 pessoas na Tailândia, em 2004, e como isso o trouxe ao Brasil. Quando as ondas gigantes atingiram a Ilha de Phuket, onde estava hospedado com a família no Club Med, ele jogava golfe longe do resort. Fazendo um esforço quase sobre-humano para retornar ao local, ele se reencontrou com Pia de Brantes, sua mulher na época, as enteadas e os dois filhos. Junto ao amigo Henri Giscard d’Estaing, presidente do Club Med, capitaneou a retirada de mais de 500 pessoas do local, sendo o último a sair. Pelo feito, foi condecorado pelo presidente Jacques Chirac (1932-2019) e ganhou uma viagem do presidente do Club Med para onde quisesse. Escolheu Trancoso, aonde chegou em 2009. Duas semanas depois, comprou dois terrenos na cidade baiana e, no ano seguinte, estava de malas prontas para o Brasil.

Rothschild não deixa dúvida quando diz que sua vida, agora, está no Brasil. “O futuro está mais lá do que aqui, na França”, disse ao irmão mais velho, David, quando indagado sobre o que viria fazer por estas bandas. O único impasse que divide seu coração é o futebol. Ele confessa que ficará balançado se as seleções francesa e brasileira se enfrentarem na próxima Copa do Mundo. Sentimento perfeitamente compreensível, vindo de um Rothschild que adotou este país tropical como lar.

Publicado em VEJA de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726

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