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Paulo Borges: ‘Falta incentivo à produção criativa no país’

Criador da semana de moda fala sobre dificuldades que o segmento brasileiro enfrenta para competir mundialmente e destaca importância do novo calendário

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 mar 2013, 13h30

Respeitado não só no meio fashionista, mas também em um novo contexto nacional de mercado e economia de moda, o paulista Paulo Borges iniciou nesta segunda-feira mais uma edição do São Paulo Fashion Week, evento criado por ele em 1996 sob o nome MorumbiFashion, que mais tarde assumiria o título que sustenta até hoje.

Além da semana de moda paulistana, considerada a mais importante da América latina e a quinta maior do mundo, Borges também é o organizador do Fashion Rio. Ambos os eventos são feitos sob o comando do grupo de marketing estratégico que ele preside, o Luminosidade.

Em entrevista ao site de VEJA, o empresário fala sobre os problemas e a falta de incentivo econômico e político que a produção criativa do país enfrenta, e ressalta o lado positivo da mudança no calendário do evento. Antes realizada em janeiro (para apresentação da coleção de inverno) e junho (para as coleções de verão), a edição deste ano, que traz as novidades do verão 2013/2014, foi antecipada para março. A alteração atrapalhou alguns estilistas, que tiveram de acelerar os trabalhos para poder produzir suas peças a tempo para o desfile.

A mudança já vinha sendo pensada por Borges há algum tempo. O empurrão decisivo foi o conflito de agenda do Brasil que, nos próximos anos, vai sediar importantes eventos esportivos, como a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, todos em meados de junho e julho, datas que coincidiriam com a semana de moda. Segundo o idealizador, o período é de adaptação, mas a médio prazo o novo calendário será benéfico.

Acredita que essa mudança no calendário vai dar mais projeção ao SPFW, já que agora ele vem logo em seguida das grandes semanas de moda do mundo? Eu tenho me espantado a cada edição com o crescimento da projeção da SPFW, o fato é que com as mudanças de mídia, as mídias digitais, as redes sociais, fizeram com que essa cobertura crescesse muito. Não só em termos de quantidade, mas em termos de qualidade também, porque ela acaba atingindo diretamente um publico alvo que lida com criação, com design, com moda, com consumo. Acho que isso sem duvida é o que dá ao SPFW uma projeção maior. Mas não acho que seja só o fato da mudança do calendário, ou também só dos veículos digitais, mas acho que essa projeção se dá em cima de uma plataforma construída com uma identidade muito própria do SPFW.

Que identidade é essa? Quando criamos o SPFW a ideia era uma semana de moda, como já tinha em Paris, Milão, Londres e recentemente havia começado em Nova York. Claro que o objetivo inicial era estabelecer uma plataforma de lançamento de moda para o Brasil, mas o Brasil precisava, para se desenvolver da maneira correta em termos de moda e economia criativa, falar de cultura e de inovação. Então essa é a forma da SPFW. Ela traz uma discussão, ela traz exposição. Nós fizemos uma convergência digital muito antes das outras semanas de moda. Nova York transmite os desfiles online há dois anos, nós há 12! Então pensamos antes do mundo na importância de uma semana de moda no sentido de uma plataforma de aliados que fala não só de moda, mas também de design, criatividade, sustentabilidade, e isso tudo ficou como um DNA da SPFW. Então a semana paulistana tem uma importância para o mundo pela sua forma única. Pela força de discutir cultura, discutir Brasil, discutir o mundo. Só a SPFW traz essas discussões tão contemporâneas, porque as outras semanas de moda ainda tratam só do desfile.

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Como o novo calendário vai alterar a produção de moda no país? Ao apresentar a coleção no SPFW, as grifes precisavam entregar seus produtos dois meses e meio depois para o comércio. Então, antes de apresentar para os compradores e para a imprensa, eles já se comprometiam com matéria prima e com produção. Já compravam tecido e iam produzindo, baseados em pressuposições. Isso gerou os bazares. Bazar é estoque. É encalhe de produto. O grande benefício da mudança da data é fazer com que as empresas não se comprometam antecipadamente com matéria-prima e com produção.

A longo prazo, como isso afetará o mercado de moda? Esse processo é comum fora do Brasil. Na Europa ou nos Estados Unidos, a marca só produz o que será vendido, da maneira correta. Não tem encalhe, o estoque é mínimo e, ao longo dos anos, produz o material que vai para os outlets. Aqui temos um estoque antecipado. Então a mudança vai fortalecer o planejamento. O que vai acontecer é que as marcas vão poder se comprometer com custos iniciais, apresentar suas coleções nas passarelas e, depois disso, elas vão ver o que terão que produzir e comprar de matéria-prima de fato. No médio prazo, vai ter uma reversão completa do processo de planejamento e uma real possibilidade de crescimento.

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Como a moda nacional está sendo vista fora Brasil? Eu acho que houve uma mudança nos últimos sete anos que tem a ver com a questão política e econômica que mudou a cara do Brasil e o interesse que o mundo tem pelo país. Hoje o mundo tem um interesse muito grande pelo Brasil, o mundo está no Brasil. Se pensarmos em termos de São Paulo, talvez seja o lugar onde o mundo mais esteja. São Paulo é uma cidade muito globalizada, onde você tem marcas do mundo inteiro em várias áreas da economia, não só da moda, mas da tecnologia, da música, do automobilismo, do design. E isso faz do nosso Brasil um país global. Acho que o interesse hoje pela nossa moda tem outro sentido, tem um sentido de negócio, um sentido econômico.

A partir desse pensamento global e econômico, e lembrando que muitos brasileiros agora viajam mais e consomem moda fora do país, qual a grande dificuldade que o Brasil enfrenta? Nada foi mudado para que a nossa moda se tornasse competitiva. A nossa moda é cara, o nosso produto é caro, ele ainda é restrito a matéria-prima e inovação de ponta, porque o Brasil não desenvolveu um plano de economia, um plano de desenvolvimento industrial, pensando em criatividade. Todos os nossos planos econômicos, os planos de desenvolvimento, são de um Brasil antigo, um Brasil pesado, Brasil da commodity, do grão, da água, da energia, do petróleo. Não é o Brasil do design, não é o Brasil da inovação, da tecnologia. Esse Brasil, o Brasil ainda não conhece.

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Quais são as soluções possíveis? Não é só uma grife que deve repensar sua forma de fazer o seu negócio, porque aí fica limitado a um contexto. O Brasil precisa repensar sua economia. Tem que repensar o plano de desenvolvimento econômico. Não se pensa nele de forma desenvolvimentista. Não se tem planos de desenvolvimento econômico pra criar um país competitivo do ponto de vista criativo. Então, como a marca brasileira vai querer vender para o mundo inteiro de igual para igual? Sendo que a gente ainda tem os impostos mais altos do mundo, a infraestrutura mais precária e mais cara do mundo, a energia e a mão de obra mais caras do mundo. Para ser um país global, você tem que ser competitivo em todos os níveis.

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