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O último rei do Iraque ainda está vivo, pelo menos nas aventuras de Tintin

Por Por Anwar FARUQI
11 ago 2011, 15h47

Para penetrar na zona superprotegida de Bagdá, o caminho mais fácil é pegar a ponte 14 de Julho, assim denominada para marcar a data da derrubada da realeza e da morte do rei Faissal II do Iraque, o jovem soberano que serviu de modelo a Hergé, criador da revista Tintin.

Na manhã de 14 de julho de 1958, Faissal II, de 23 anos, e vários membros de sua família foram executados por soldados, durante um golpe de Estado comandado pelo coronel Abdel Karim Qassem.

Faissal II foi o terceiro e último rei do Iraque. O atual pretendente à coroa, Shérif Ali ibn Hussein, tinha apenas dois anos quando o primo por parte de mãe foi morto.

“Leio Tintin desde criança e confesso que nunca fiz a ligação com o rei Faissal”, confia ele, ao saber que o desenhista belga Hergé escolhera o soberano iraquiano como modelo para o personagem Abdallah do Khemed, que aparece na história “L’or noir”, O ouro negro, e em “Coke en stock”, Os charutos do faraó.

“Segundo as narrativas familiares, Faissal era espirituoso e engraçado”, conta o herdeiro legal do trono, ao receber em sua mansão, às margens do Tigre, decorada com muito esmero e cheia de fotos da linhagem real.

Nos álbuns de Tintin, o jovem príncipe, sósia de Faissal criança, põe os heróis à prova com suas peças.

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Herdeiro aos três anos de idade, após a morte de seu pai Ghazi, falecido em 1939 num acidente de carro, o último soberano do Iraque era popular no Ocidente, onde era chamado de “a criança-rei”.

Revistas como Paris-Match, L’Illustration, Time, Life ou National Geographic apresentavam-no regularmente, junto da mãe, a rainha Alia ou da governanta inglesa Dora Borland.

Em público aparecia frequentemente junto do tio Abdulillah, regente até 1953.

Em 1942, Faissal, aos sete anos, posou para a Life, de shorts, sentado no trono muito grande para ele, tendo, aos pés, seu pastor alemão. “A criança-rei iraquiana visitou Paris com uma chupeta”, lia-se na Life de outubro de 1946. Faissal vestia, então, um terninho.

“Em agosto de 1941, a National Geographic publicou uma foto do rei aos seis anos”, conta o dinamarquês Frank Madsen, 49 anos, especialista em Georges Remi, o nome de batismo de Hergé.

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“Hergé tomou o rei por modelo do personagem Abdallah, ‘enfant gâté’ do Emirado de Khemed”,” afirma Madsen, num e-mail enviado à AFP.

Em seus álbuns que têm como cenário o mundo árabe, Hergé mostra ditadores, industriais do petróleo malvados e traficantes de armas. Na internet, uma paródia intitulada “Tintin no Iraque”, que circulou após a invasão de 2003, retomou algumas passagens das aventuras de Tintin, modificando diálogos, para colar aos acontecimentos de 2003.

A história põe em cena o dirigente de uma companhia de petróleo americana procurando derrubar Saddam Hussein e apoderar-se das riquezas do país. Mostra, também, o governo americano mentindo, para desencadear uma invasão e fazer cair o ditador.

Tintin acorda, então, de um pesadelo, e grita: “Que sonho! A queda da ditadura marcaria o início de uma nova opressão”.

Os mercadores de armas desonestos, contra os quais Tintin prepara armadilhas, são uma realidade no Iraque: recentemente, 80 milhões de dólares foram concedidos sem licitação a uma companhia britânica para a compra de 1.500 detectores de explosivos inoperantes.

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Apesar dos 3 trilhões de dólares de gastos, dos 4.400 soldados americanos e 110.00O iraquianos mortos, o Iraque ainda é um país fragmentado. E, de uma certa forma, parece-se ao Khemed de Hergé.

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