O TikTok faz voltar o estilo clássico do Renascimento à moda
A nova tendência para o vestuário entre os jovens é copiar referências do movimento

De onde ecoam as mais avassaladoras tendências de comportamento hoje? Nove entre dez são difundidas pelo aplicativo chinês TikTok, a rede social com mais de 1,5 bilhão de usuários e que Donald Trump transformou em cavalo de batalha na Guerra Fria contra a China. Não há, enfim, território mais afeito aos interesses da chamada Geração Z (dos nascidos entre 1995 e 2010, de 10 a 25 anos de idade) e ao consumo imediato, ligeiro, do que o infindável arsenal de vídeos curtos, de quinze segundos, ou pouco mais. Caiu, portanto, como uma luva para o universo sempre efêmero — mas interessantíssimo — da moda. O atual sucesso é um vestido de tom rosa-claro com decalques brilhantes em formato de moranguinhos, aplicados em um generoso tecido do tipo tule, que se desdobra em uma saia rodada. O modelo primaveril tem causado furor entre as usuárias, que postam depoimentos relatando ansiedade para a chegada do item depois da compra on-line.
A criação é obra da designer nova-iorquina Lirika Matoshi e custa 490 dólares, algo em torno de 2 750 reais. Convém ressaltar que não há nenhum item luxuoso na vestimenta que justifique o preço. Mas há um trunfo valioso em tempo de diversidade: manequins que vão do tamanho pequeno ao extragrande. Viralizou, aliás, a imagem da modelo plus size Tess Holliday com um deles na entrega do prêmio Grammy, em janeiro, antes da pandemia, quando o mundo era outro. Mas foi dentro de casa, no confinamento, que o fenômeno explodiu realmente, associado ao interesse pelas coisas do passado, natural e agradável porta de saída para a dureza do cotidiano. O vestido com a estampa silvestre remete, claramente, ao Renascimento, do século XIV ao XVI. A referência está sobretudo no recorte das peças, com mangas levemente bufantes e cintura marcada, logo abaixo dos seios. A saia mais solta, com generosas quantidades de tecido, também conversa com aquele período de transformações na Europa.

“O Renascimento foi uma época revolucionária para o vestuário feminino, quando as mulheres descobriram que podiam seduzir os homens ao realçar a cintura”, diz João Braga, professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado, de São Paulo. As citações renascentistas vão além: o gosto por tiaras para cabelo acolchoadas e blusas com decote quadrado. “A busca de referências do passado é uma forma de escapar dos problemas do dia a dia”, resume Laura Ferrazza, autora do livro Quando a Arte Encontra a Moda. “Quanto mais distante um período está, mais ele é romantizado e visto como ideal, em contraposição à atualidade.” Vive-se a história de um presente virado de cabeça para baixo — e o guarda-roupa é um bom modo de entendê-lo.
Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702
Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se já é assinante, entre aqui. Assine para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.
Essa é uma matéria fechada para assinantes e não identificamos permissão de acesso na sua conta. Para tentar entrar com outro usuário, clique aqui ou adquira uma assinatura na oferta abaixo
Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique. Assine VEJA.
Impressa + Digital
Plano completo da VEJA! Acesso ilimitado aos conteúdos exclusivos em todos formatos: revista impressa, site com notícias 24h e revista digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Receba semanalmente VEJA impressa mais Acesso imediato às edições digitais no App.
Digital
Plano ilimitado para você que gosta de acompanhar diariamente os conteúdos exclusivos de VEJA no site, com notícias 24h e ter acesso a edição digital no app, para celular e tablet.
Colunistas que refletem o jornalismo sério e de qualidade do time VEJA.
Edições da Veja liberadas no App de maneira imediata.