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O melhor modo de escrever para crianças é escrever para adultos, diz autor de ‘Diário de um Banana’

Jeff Kinney, autor da série que vendeu 75 milhões de cópias no mundo, lança no Brasil o 7º livro sobre Greg, personagem que criou quando perdia as esperanças de ter algum trabalho publicado

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 Maio 2013, 12h55

Quando criou Greg Heffley, o “banana” pré-adolescente que está sempre envolvido em confusão, o americano Jeff Kinney só tentava encontrar motivação para continuar a desenhar. Cartunista desde o começo da década de 1990, até 1998 ele não tinha conseguido publicar nenhuma de suas tirinhas na imprensa e, sem esperanças, passava o dia em frente ao videogame. Foi então que decidiu começar um diário com histórias e ilustrações sobre um garoto comum, sem imaginar que elas um dia conquistariam um público que o autor nunca tinha mirado: o infantojuvenil.

“Você deve escrever para você mesmo ou para adultos e só esperar que as crianças consigam compreender e apreciar”, diz Kinney, que segue a fórmula até hoje. O personagem Greg, inclusive, nem pode ser considerado um modelo a ser seguido pelas crianças, como é comum nos livros feitos para esse público. O autor afirma que o personagem em nenhum momento tem a intenção de moralizar ou subestimar as crianças e que é mais provável que elas deem risada dele.

Com sete livros publicados, 75 milhões de cópias vendidas no mundo e três adaptações para o cinema, a série Diário de um Banana ainda parece longe de ter um ponto final. O sétimo volume da série, Diário de um Banana – Segurando Vela (tradução de Alexandre Boide, V&R, 224 páginas, 34,90 reais), chegou às librarias há menos de um mês no Brasil e já é o quarto lugar na lista de mais vendidos do Publishnews, publicação do mercado editorial que disponibiliza dados sobre a venda de ficção adulta, infantil e não-ficção. Kinney, que está no país divulgar o lançamento do livro, afirmou que tem intenções de escrever pelo menos dez livros. E garante que em todos o personagem vai continuar com a mesma idade. “Decidi que Greg nunca vai crescer, como o Charlie Brown. Na verdade, nem sei quantos anos ele tem agora.”

Confira a entrevista de Jeff Kinney ao site de VEJA.

A série Diário de um Banana já vendeu 75 milhões de livros no mundo inteiro. A que o senhor atribui o sucesso? Acredito que as crianças, de alguma forma, se identificam com o personagem principal, Greg Heffley. Que elas se enxergam nele. A lição que tiro disso é que a infância é universal.

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Esse sucesso atrai outros escritores. Que conselho daria para quem deseja escrever para crianças? A melhor maneira de escrever para crianças é não tentar escrever para crianças. Você deve escrever para você mesmo ou para adultos e só esperar que as crianças consigam compreender e apreciar.

Greg não é exatamente um exemplo a ser seguido pelos leitores, já que sempre está envolvido em confusão. Mas, no final das histórias, ele percebe que agiu errado e se sente culpado. O senhor acha importante que ele mostre esse lado para as crianças? Não acho que o Greg seja um exemplo, acho que os leitores dão risada dele. Mas o importante, para mim, é que as crianças tirem suas próprias conclusões sobre o comportamento de Greg. Eu não tento moralizar os leitores ou ensiná-los alguma coisa, mas sim ser engraçado e permitir que eles decidam como se sentem em relação ao personagem.

Quanto de você existe em Greg? Eu diria que Greg é um exagero das piores partes da minha personalidade na infância. Ele é parecido comigo até certo ponto. Algumas histórias das pessoas da minha família e que conviveram comigo enquanto eu crescia fazem parte do universo da série, mas coloquei tudo isso dentro de um liquidificador e misturei. Como resultado, agora é tudo ficção, não é autobiográfico.

Greg vai crescer um dia? Decidi que Greg nunca vai crescer. Na verdade, nem sei quantos anos ele tem agora. O que eu percebi é que Greg não é um personagem literário, mas sim um quadrinho, como Charlie Brown, que todos os anos tem um primeiro dia de aula, nunca envelhece. O DNA da série está nos quadrinhos.

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O oitavo livro tem lançamento previsto para novembro nos Estados Unidos. O senhor pode adiantar algo sobre ele? No final do sétimo livro, Rowley começa a namorar. Tenho o desafio de seguir em frente com essa história e ver como vai ficar o mundo de Greg com o seu melhor amigo namorando. Vai ser muito engraçado, porque, independentemente da idade, quando um amigo seu arranja um namorado ou namorada, isso arruína a amizade. Muda tudo, e isso pode ser divertido de se trabalhar no livro. É sobre isso que vou escrever.

Criar uma namorada para Greg não é uma possiblidade? Não consigo imaginar que tipo de garota conseguiria tolerar Greg. Penso nisso de vez em quando, e quem sabe ele não encontra uma namorada no livro 8, só para ficar quite com Rowley? Mas isso é um desafio que não sei se consigo superar.

Pensa em escrever mais uma sequência para a série? Sim, vou escrever pelo menos dez livros no total. Sinto que ainda estou começando com isso e espero escrever muito mais ainda.

Diário de um Banana

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Direção: Thor Freudenthal

Ano: 2010

Diário de um Banana 2: Rodrick é o Cara

Direção:  David Bowers

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Ano: 2011

Diário de um Banana: Dias de Cão

Direção: David Bowers

Ano: 2012

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O senhor geralmente visita escolas para autografar livros e conversar com as crianças, como vai fazer durante a sua passagem pelo Brasil. Essas visitas inspiram a criação de histórias? Eu me inspiro simplesmente por estar em uma escola. Algumas coisas me chamam a atenção e passam por uma espécie de filtro de comédia, que transforma aquilo em algo que depois pode ser usado em uma história. Recentemente, estive em uma escola que possuía um local chamado “Fun station” (algo como “centro de diversão”, em português), onde uma criança que estivesse sozinha poderia esperar até que outra surgisse para brincar com ela. Aquilo me pareceu muito triste, mas ao mesmo tempo foi engraçado pensar nisso como um botão que a criança poderia apertar, com uma luz que se acendesse até que ela conseguisse um amigo. Eu amo esse tipo de coisa que tem nas escolas.

O Diário de um Banana foi criado a partir de um diário que o senhor mantinha para manter o foco em desenhar. Como o desenho pode ajudar uma pessoa a escrever, especialmente para crianças? Eu estava trabalhando com tirinhas na época, no final dos meus 20 anos, e a cada seis meses enviava os trabalhos para os syndicates de tirinhas (agências responsáveis pela distribuição desse tipo de material para a imprensa), mas sempre era rejeitado. Comecei a perder a esperança e a passar o tempo só jogando videogames. Foi aí que decidi manter um diário com os desenhos, para que aquilo me motivasse. O formato usado no meu diário foi transportado para Diário de um Banana: alguns textos com ilustração. Aquilo me parecia novo e interessante, uma coisa que eu não tinha visto antes. Quanto à ilustração, penso que ajuda a atrair leitores, porque os cérebros das crianças esperam por elementos gráficos. E eu realmente sofreria para escrever uma história sem ilustrações, elas concluem algumas piadas de uma forma que o texto não consegue fazer.

Seus livros apresentam a visão de mundo de um menino, mas são muito lidos por meninas, também. Qual a proporção de leitores? Pelo menos nos Estados Unidos, diria que o público da série é bem dividido, 50% meninos e 50% meninas. Acho que elas leriam os livros de qualquer forma, pois nos EUA as meninas tendem a ler mais do que os meninos. Então, para mim, a surpresa é que a série seja lida por tantos garotos. Não é comum vê-los andando por aí com um livro embaixo do braço.

Na sua opinião, as meninas são mais abertas a ler livros sobre meninos do que o contrário? Sim, imagino que seria muito difícil um livro que pareça feminino atrair um garoto. Isso é, inclusive, algo sobre o que pensamos quando montamos as capas da série. Nunca fizemos uma capa cor de rosa, por exemplo, porque isso poderia acabar com o empreendimento.

O senhor esteve envolvido na produção dos filmes baseados nos livros. Como foi o processo de adaptá-los para o cinema? É muito difícil de adaptar livros para o cinema, porque são formas de comunicação fundamentalmente diferentes. Além disso, nos meus livros eu não tenho a intenção de moralizar ou de dar um final emocionalmente satisfatório para as histórias. Mas nos filmes não dá para ser assim, você tem que contar uma história que seja emocionalmente satisfatória ou então o público vai ser sentir traído. Mudamos um pouco as histórias para corresponder a essa expectativa.

O que o senhor lia quando criança? E o que lê agora? Eu lia muito os livros de Judy Blume, como Tales of a Fourth Grade Nothing e Freckle Juice. Na adolescência, comecei a ler fantasia, como a obra de J. R. R. Tolkien, mas conforme fui envelhecendo deixei de gostar desse tipo de história. Atualmente, gosto da série Guerra dos Tronos, que tem elementos fantásticos e, apesar de violenta demais para o meu gosto, é bem construída. Mas só ouço os livros enquanto desenho, não tenho tempo para ler. Às vezes, chego a desenhar por 13 horas seguidas, então preciso de algo que me distraia.

(Colaborou Raquel Carneiro)

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