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‘O Jardim dos Finzi-Contini’ narra paixão à sombra do nazifascismo

No extraordinário romance de Giorgio Bassani, dois jovens judeus flertam em meio ao regime em uma aristocrática mansão italiana

Por Eduardo Wolf
Atualizado em 30 abr 2021, 13h05 - Publicado em 30 abr 2021, 06h00
PRIMOR LITERÁRIO - Bassani: obra-prima para sorver como um bom vinho -
PRIMOR LITERÁRIO - Bassani: obra-prima para sorver como um bom vinho – (Marcello Mencarini/leemage/AFP)

Em uma tarde de 1938, logo após a promulgação das leis raciais que institucionalizavam a perseguição aos judeus na Itália, a mansão da aristocrática e assimilada família judia-italiana dos Finzi-Contini, em Ferrara, virou o ponto de encontro de jovens judeus excluídos do clube de tênis da cidade — a primeira de uma série de medidas discriminatórias. Ainda relativamente alheio à sombra de horror que tomava conta da Europa com o expansionismo da Alemanha nazista, o casal de irmãos Alberto e Micòl recebia os amigos para divertidas e elegantes partidas na quadra esportiva da família; fazia passeios pelo fabuloso jardim de mais de 10 hectares que adornava a propriedade, enquanto seu pai, o professor Ermanno Finzi-Contini, mantinha conversas eruditas e agradáveis com os jovens amigos dos filhos. Da poesia oitocentista de Giosuè Carducci às pesquisas do historiador da arte Roberto Longhi, o belo e o bom eram os assuntos preferenciais nesse meio social em que emanavam uma luz radiosa e uma felicidade calma e autoconfiante.

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O JARDIM DOS FINZI-CONTINI, de Giorgio Bassani (tradução de Maurício Santana Dias; Todavia; 280 páginas; 55,92 reais e 54,90 reais em e-book) -
O JARDIM DOS FINZI-CONTINI, de Giorgio Bassani (tradução de Maurício Santana Dias; Todavia; 280 páginas; 55,92 reais e 54,90 reais em e-book) – (./.)

O narrador do romance O Jardim dos Finzi-Contini, publicado originalmente em 1962 e lançado agora no Brasil, era um desses habitués da quadra de tênis, do jardim imponente e, pouco a pouco, de toda a vida familiar da proeminente família judia. Seu nome, não o sabemos, apenas que ele é aspirante a escritor e crítico — no que compartilha traços com o autor real desse livro extraordinário, o também judeu Giorgio Bassani (que, como editor da célebre casa Feltrinelli, ainda foi responsável pelo lançamento póstumo de outro monumento literário, O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa). Dessa forma, sem se identificar, o narrador gracioso evoca os tempos de infância na cidade, a vida da comunidade judaica na Ferrara dos anos 1920 e 1930, suas relações familiares e experiências escolares e, é claro, a onipresença da família Finzi-­Contini. Os irmãos Alberto e Micòl nem mesmo à escola iam — tinham tutores privados. Apenas por ocasião das provas se misturavam às demais crianças da escola. Ainda assim, desde que mantivera contato pela primeira vez com Micòl, jovem loira, de personalidade marcante e independente, então com 13 anos, o protagonista não mais se livraria de sua presença enérgica. Ao reencontrá-la dez anos depois nas jornadas na mansão da família, a forte impressão causada pela jovem gradativamente se transforma em intensa paixão. É uma emoção para a qual o narrador se revela particularmente inapto, mas cuja recordação resulta neste relato de memória sobre um momento decisivo de sua vida. Coincidentemente, um momento demarcado como trágico para ele, a família Finzi-Contini e mais de 6 milhões de judeus. Anunciados de maneira segura, porém contida, os indícios da escalada de violência antissemita na Itália pairam sobre a história de amor da moça bela e culta e do jovem literato sem nome.

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A delicadeza com que a figura de Micòl é retratada pelo narrador e a destreza ímpar com que o romance foi escrito fazem dela uma das personagens femininas mais cativantes da literatura do século XX. O Jardim dos Finzi-Contini foi um grande sucesso de vendas na Itália. Sua elogiada adaptação para o cinema por Vittorio De Sicca (1970) alçaria o livro, em definitivo, a um lugar notável na literatura do pós-guerra. É uma obra-­prima para sorver a cada gota, como os bons vinhos italianos.

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Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736

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