O criador daquela cena
Stanley Donen não precisaria ter feito nada além da cena antológica com Gene Kelly em ‘Cantando na Chuva’ para merecer um lugar de honra. Mas fez
Se nas telas Gene Kelly arrebanhou fãs com seu queixo proeminente, sorriso farto e movimentos hipnotizantes, nos bastidores o ator de comportamento enérgico encontrou seu perfeito ponto de equilíbrio em Stanley Donen. O cineasta e coreógrafo, que começou a dançar aos 10 anos e aos 17 estreava na Broadway, era conhecido como o inverso do amigo: tinha gosto refinado, movimentos elegantes e temperamento calmo. Em comum, os dois eram engenhosos e inovadores — e amavam sapatear. A química permitiu que fizessem história na era de ouro dos musicais de Hollywood. Juntos, eles dirigiram Um Dia em Nova York (1949), com Frank Sinatra no elenco, escreveram A Bela Ditadora (1949) e foram responsáveis pelo inesquecível Cantando na Chuva (1952). É no longa que Donen revela sua prodigiosa criatividade: pôs um homem de terno e guarda-chuva para pular em poças de água, durante um toró. Tinha tudo para resultar em tolice, e deu-se o oposto. Nascia ali uma cena antológica, “provavelmente a sequência musical mais feliz jamais filmada”, segundo o crítico de cinema Roger Ebert. Donen não precisaria ter feito nada além dela para merecer um lugar de honra. Mas fez. Dirigiu duas vezes seu ídolo Fred Astaire e, com a dupla Audrey Hepburn e Cary Grant, fez o popular suspense Charada (1963). Morreu na quinta-feira 21, aos 94 anos, de um ataque cardíaco.
JORNALISMO F.C.!
O jornalista paulistano Roberto Avallone será lembrado pelo modo como fazia seus comentários no Mesa Redonda, programa da TV Gazeta (SP). Neles, costumava verbalizar os sinais de pontuação (dizia, por exemplo: “Brasil campeão do mundo, exclamação!”). O hábito revelava sua reverência à imprensa escrita, na qual começara: Avallone trabalhou por 23 anos no Jornal da Tarde. Palmeirense, dizia torcer pelo “Jornalismo Futebol Clube”. Morreu na segunda-feira 25, aos 74 anos, de parada cardíaca, em São Paulo.
NO CLUBE DA ESQUINA
Coautor, com Zé Rodrix (1947-2009), de Casa no Campo, sucesso na voz de Elis Regina, Luís Otávio de Melo Carvalho, o Tavito, fez parte de uma geração que pôs Minas no mapa da MPB. Ligado ao Clube da Esquina, grupo liderado por Milton Nascimento, registrou essa vivência em Rua Ramalhete, parceria com Ney Azambuja (“No muro do Sacré-Coeur / De uniforme e olhar de rapina / Nossos bailes no clube da esquina / Quanta saudade”). Tavito afastou-se dos shows na década de 90 para compor jingles. Morreu na terça-feira 26, aos 71 anos, em São Paulo, onde se tratava de um câncer na língua.
Publicado em VEJA de 6 de março de 2019, edição nº 2624
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