Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

No precipício do obscurantismo

Precisamos lutar para que não tenhamos nenhum direito a menos

Por Manoela Miklos
Atualizado em 19 out 2018, 07h00 - Publicado em 19 out 2018, 07h00

Nos últimos dias, voltou a circular nas redes o vídeo da entrevista que o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, concedeu à premiada atriz e ativista Ellen Page em 2016. A entrevista faz parte da série Gaycation, produção da Vice em colaboração com a National Geographic. A série trata das manifestações da cultura LGBTI+ em diferentes países e das resistências que ela encontra pelo mundo.

O diálogo tenso entre a entrevistadora e o entrevistado merece ser visto na íntegra. Procurem. Mas um trecho requer atenção redobrada de quem se importa com os direitos das mulheres. Jair Bolsonaro diz a uma Page visivelmente constrangida, em determinado momento: “Eu acredito que grande parte dos gays é comportamental. Quando eu era jovem, falando em porcentual, existiam poucos. Com o passar do tempo, com as liberalidades, drogas, a mulher também trabalhando, aumentou bastante o número de homossexuais”.

Trata-se de mais uma afirmação para a grande coleção de declarações tacanhas, machistas e homofóbicas do candidato do PSL. São tantas que já perdi a conta. Nas entrelinhas, Bolsonaro articula duas noções que deveriam ter sido superadas e jamais reproduzidas por um homem público em suas falas em pleno século XXI. A de que a homossexualidade é em si algo ruim, um mal social. E a de que a conquista de direitos e liberdades não é um dado positivo. Ao contrário, compromete as tradições, distorce os valores, destrói a família. O correto para Bolsonaro, podemos intuir com base nessa posição, deveria ser a mulher se dedicar exclusivamente à casa e à família. Família, claro, formada por ela, seu marido provedor e filhas e filhos heterossexuais.

Seria perda de tempo seguir com a exegese de uma frase recheada de tamanha ignorância. Vou nos poupar disso. Devemos, a esta altura do campeonato, torcer para que as eleitoras e os eleitores mais razoáveis de Bolsonaro estejam fazendo a leitura adequada e que esse tipo de assertiva repetida reiteradas vezes pelo candidato seja “da boca para fora”. Ouço e leio tais eleitoras e eleitores dizer que não devemos levar tais posições do candidato tão a sério. Suspiro e espero que seja mesmo assim.

Continua após a publicidade

Contudo, acho inteligente nos prepararmos para o pior, sempre. Chamem de pessimismo metodológico. Caso o candidato do PSL, que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto, seja eleito e de fato tome medidas que limitem as agendas de igualdade de gênero e liberdade sexual, precisaremos agir. Precisaremos contribuir para que este não seja um ciclo político de cerceamento de liberdade. Precisaremos, enfim, estar dispostas e dispostos a nos reunir, tendo ou não votado em Bolsonaro, e lutar para que não tenhamos nenhum direito a menos.

A sociedade brasileira hoje dividida precisará repactuar aquilo que considera inegociável. Temos de torcer para que a ONU, o papa, o New York Times, a revista The Economist e figuras públicas de direita e de esquerda, da libertária Madonna à paladina da extrema direita francesa Marine Le Pen, não tenham suas previsões confirmadas. E o país não pule no precipício do obscurantismo.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2018, edição nº 2605

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.