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Na Sala São Paulo, primeiro solo de cantora trans faz história

Um dos mais importantes espaços de concertos da América Latina teve espetáculo dedicado a compositores LGBTQIA+

Por Vitória Barreto
Atualizado em 25 out 2022, 12h35 - Publicado em 25 out 2022, 12h33

Primeira casa de concertos do Brasil, a Sala São Paulo é considerada uma das melhores do mundo desde sua inauguração, em 1999. No domingo 23, a história do espaço ganhou mais um marco, com a primeira apresentação de músicas inteiramente produzidas por compositores LGBTQIA+. O evento contou, ainda, com o primeiro solo de uma pessoa trans: Ariel Bernardi, de 24 anos.

O solo cantado por Ariel, “Atire a” (uma composição de Lucas Rezende), se inspira em um texto da atriz e poeta Kika Sena, que relata a violência sofrida pelas mulheres trans. Além da letra, a música é construída em cima de três notas que, segundo a teoria das cores na música, representam a bandeira trans: rosa, azul e branco.

No início da canção, a repetição das notas musicais conversa com a sucessão de desafios na vida de uma pessoa trans, até o momento em que a personagem do texto decide lutar contra o preconceito e alerta: “Não mexe comigo, não”.

Para além da mensagem, o vasto alcance vocal de Ariel também deixou a plateia boquiaberta.

“No começo da música, a solista canta em um registro agudo, tradicionalmente associado à voz feminina. Mas logo que a música começa a intensificar, ela passa cantar em um registro grave, associado a vozes masculinas”, explica Rezende.

A cantora, que está terminando os estudos em Canto Lírico na Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirma sofrer preconceito velado por cantar em um registro mais grave que mulheres cisgênero, cujas identidades correspondem ao gênero atribuído no nascimento.

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Ao longo de sua carreira, em vez de cantores serem separados por naipe – tipo de voz –, eram separados pelo sexo. Ariel lembra de aulas em que professores instruíam: “Agora, os homens cantam”. “Muitas vezes, quis ficar quieta só para provocar”, conta.

Em corais tradicionais, cantores também são divididos no palco pelo sexo, com homens e de um lado e mulheres de outro.

Para Ariel, a representatividade de mulheres que cantam em seu naipe ainda é rara. Nos últimos sete anos de carreira, ela não conheceu outras cantoras líricas brasileiras que tivessem o mesmo registro, o que lhe trouxe certas inseguranças.

“Me perguntava como as pessoas iriam me enxergar quando eu cantasse, porque minha voz é considerada grave. Ainda estou aprendendo a lidar com isso”, disse. 

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Na Sala São Paulo, a terceira apresentação do Coral Jovem do Estado de São Paulo teve uma pluralidade de músicas com um tema unânime: a luta contra as intolerâncias. A composição de Lucas Rezende foi seguida por “Suíte aos moços”, de Clarice Assad, e “Africaniei” de Majur.

Músicas que trazem à tona questões como a destruição da Amazônia e ataques a povos indígenas também tiveram vez, com obras de Ligia Costa: “Unum”, “Sá Final” e ”Nascemorre”. 

O primeiro bloco foi finalizado com a canção “Advance Democracy”, de Benjamin Britten, composta com o objetivo de protestar contra o regime nazi-fascista alemão na Segunda Guerra Mundial. Também foi apresentada a música feita para as sufragistas, “Women’s March”, de Ethel Smith, que foi a primeira mulher compositora a ter seu trabalho apresentado no Metropolitan Opera House, em Nova York. 

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