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Museu da Língua Portuguesa abre mostra sobre Oswald de Andrade

Exposição sobre o autor, que foi o homenageado da Flip deste ano, vai até janeiro, um mês antes das comemorações dos 90 anos da realização da Semana de Arte Moderna de 1922, da qual o escritor foi um dos mentores

Por Da Redação
27 set 2011, 09h40

Em cinco anos e meio de existência, o Museu da Língua Portuguesa nunca fez uma exposição de um autor paulistano. Nesta terça, às 19h, suas portas serão abertas para os convidados de uma mostra em homenagem ao primeiro deles, Oswald de Andrade: o Culpado de Tudo, que ficará aberta para o público de quarta-feira até janeiro de 2012, um mês antes das comemorações dos 90 anos da realização da Semana de Arte Moderna de 1922, da qual o escritor foi um dos mentores.

Não se trata de uma mostra museológica no sentido tradicional. Nem poderia. Oswald de Andrade (1890-1954) odiaria uma exposição com muitos objetos e poucos roteiros, ele que aconselha o leitor do seu Manifesto Antropófago (1928) a reagir contra todas as catequeses e acreditar nos sinais. Assim, o curador José Miguel Wisnik, poeta, músico, professor, ensaísta – um homem multidisciplinar como o homenageado -, preferiu estabelecer um roteiro para os visitantes que cobrisse todos os períodos da vida do escritor, da infância ao triste epílogo da trajetória do autor.

Esse roteiro começa com painéis ilustrados por meio de textos e desenhos extraídos do poema As Quatro Gares (1927), escrito um ano antes do manifesto modernista. Eles introduzem o visitante no roteiro traçado por Wisnik com as quatro fases da vida do modernista: a do pirralho abastado sob as ordens da mãe (1890-1919), a do vanguardista que revolucionou a literatura e ajudou a introduzir a modernidade artística no Brasil (1920- 1929), a do revolucionário que abraçou causas populares (1930-1945) e, por fim, a fase da utopia, em que Oswald, no seu último decênio (1945-1954), tenta retomar o ideário antropofágico e cai no ostracismo, sendo recuperado nos anos 1960 pelos poetas concretistas e os criadores do tropicalismo.

O movimento que o visitante fará na exposição é circular. Tudo volta ao mesmo ponto, afinal, na vida de Oswald. Wisnik recorre a uma correspondência analógica, a do sambódromo, para explicar o desfile que organizou, começando com as quatro gares da vida, passando pelo carrossel amoroso de Oswald e chegando à apoteose, com a sua afirmação da antropofagia cultural. Pelo carrossel amoroso, passou a bailarina americana Isadora Duncan (1877-1927), que dançou “quase nua” para ele em Osasco. O círculo se fecha com a sexta e última esposa, Maria Antonieta d�Alkmin, que tinha características próximas à da figura materna, Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Oswald não escapou de Freud e da própria ficção. Vagou de porto em porto como os passageiros de sua nau dos insensatos em Serafim Ponte Grande.

Essa inconstância teve um preço amargo. Entre suas amantes, duas figuras se destacam: a de Deise, poeta que frequentava a garçonnière de Oswald na rua Libero Badaró — morta aos 19 anos, em consequência de um aborto malsucedido — e a da bailarina Landa Kosbach, que conheceu em 1912, numa viagem de navio ao continente europeu — ela se tornaria, na maturidade, a professora de dança de sua filha Marília. Por causa de Landa, que tinha 16 anos na época, o impulsivo Oswald foi acusado publicamente de pedofilia.

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Próximo à “Praça da Apoteose” do metafórico sambódromo montado na Luz, Wisnik aponta o único objeto de arte da época, o busto de Deise esculpido por Brecheret. Caminhando para a direita, o visitante terá acesso a um simulacro da garçonnière de Oswald, onde o escritor produziu o diário coletivo O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo. Como os amigos do escritor, que deixavam recados e desenhos nesse livro, o visitante poderá fazer o mesmo. Na praça, ele entra definitivamente no universo literário do autor: lá está a íntegra do Manifesto Antropófago. Em frente a essa síntese do pensamento modernista brasileiro destaca-se uma parede com o esboço do cenário da peça O Rei da Vela (desenhado por Hélio Eichbauer). Atrás dela, trechos de filmes baseados em obras modernistas são exibidos em looping.

Na Praça da Apoteose, o visitante verá ainda como o escritor e ensaísta, nascido no berço esplêndido da alta burguesia paulista, traiu sua classe social para abraçar a causa socialista. Imagens da crise de 1929 mostram como ela empobreceu os barões de café um ano depois de Oswald ter decretado a “revolução caraíba” em seu manifesto. Excertos de livros mostram como Oswald antecipou a sintaxe literária modernista em Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e tratou de temas políticos com humor em Serafim Ponte Grande (1933), sobre um funcionário público que rouba o dinheiro dos revolucionários e foge num navio para a Europa. Completam a “apoteose” uma instalação de Laura Vinci feita de notas de mil cruzeiros (com a estampa de Pedro Álvares de Cabral) manchadas como as de um caixa eletrônico arrombado – além de uma obra inédita de Cildo Meirelles (uma variação de sua nota de zero cruzeiro, em que a imagem de Cabral recebe o carimbo “O culpado de tudo”).

Serviço – Museu da Língua Portuguesa (Praça da Luz, s/nº). Telefone (0/xx/11) 3326-0775. 10h/17h (fecha às segundas). 6 reais. Até 30 de janeiro.

(Com Agência Estado)

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