O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina, livro seguido pela esquerda mais festiva do continente, morreu nesta segunda-feira, em Montevidéu. Galeano tinha 74 anos e sofria de um câncer no mediastino (região da cavidade torácica). A informação foi transmitida por sua editora na Espanha, a Século XXI.
LEIA TAMBÉM:
Morre aos 87 anos o escritor alemão Günter Grass
Com a repercussão do regalo do venezuelano ao americano, As Veias Abertas da América Latina teve um boom em vendas. Em apenas um dia, o livro saltou da posição de número 60.028 entre os mais vendidos da Amazon para o décimo lugar.
Já no ano passado, em participação na Bienal do Livro de Brasília, Galeano disse não querer mais saber de seu livro mais famoso. “Depois de tantos anos, já não me sinto mais ligado a esse texto”, disse. “O tempo passou e descobri diferentes maneiras de conhecer e de me aprofundar na realidade. Considero uma etapa superada. Se eu relesse a obra hoje, cairia desmaiado, não iria aguentar”, completou, em tom de brincadeira. “Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera.”
E não parou por aí. Para adicionar insulto à injúria, o autor admitiu que não sabia muito bem o que estava fazendo, pois era jovem e sem a devida formação quando escreveu aquele que é considerado o seu maior clássico. Galeano explicou que foi o resultado da tentativa de um jovem de 18 anos de escrever um livro sobre economia política sem conhecer devidamente o tema: “Eu não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas foi uma etapa que, para mim, está superada”.
Espécie de cartilha da esquerda radical latino-americana, As Veias Abertas da América Latina analisa a história latino-americana desde o período colonial até a contemporaneidade, argumentando contra o que considera como exploração econômica e política do povo latino-americano primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. O livro tornou-se referência para quem cospe no capitalismo, no lucro, na economia de mercado, nos investidores globais, oferecendo como alternativa a “justiça social” produzida por um estado centralizador.
Galeano escreveu vários outros livros. Em 2012, ele lançou seu 16º título, Los hijos de los días, uma reunião de 365 contos em que citava vários países da América Latina e os desaparecidos políticos nas ditaduras, além de fazer críticas à igreja e ao FMI.
Antes de se converter em autor-símbolo da esquerda latina, Eduardo Galeano trabalhou como operário de fábrica, desenhista, pintor, datilógrafo e caixa de banco. Entre os dezesseis livros que lançou, se destaca também a trilogia Memória do Fogo (L&PM), lançada entre 1982 e 1986, em que Galeano procura tecer um painel da América Latina nos últimos quinhentos anos.
(Da redação com agências EFE e Estadão)