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Mercados autônomos, sem atendentes nem caixas, ganham espaço no Brasil

Esse tipo de negócios avança no Brasil e traz a tecnologia para o centro da vida dos consumidores

Por Humberto Maia Junior
Atualizado em 18 set 2020, 11h01 - Publicado em 18 set 2020, 06h00
COMODIDADE - Eduardo de Cordova, presidente do market4u: antes da pandemia, a empresa tinha dezesseis unidades no país. Agora são 269 – (Claudio Gatti/VEJA)

Quando a Amazon lançou seu primeiro mercado físico 100% autônomo, o Amazon Go, em 2018, o mundo ficou espantado: graças a tecnologias de ponta, uma pessoa podia pegar um produto na prateleira, pô-lo direto na bolsa e ir embora, sem perder tempo em filas no caixa — tudo, claro, devidamente registrado no cartão de crédito. A loja da Amazon é a mais chamativa, mas não é a única. Também nos Estados Unidos, as startups AiFi e Grabango entraram no ramo de cashierless stores (lojas sem caixa, em tradução literal) e planejam uma expansão agressiva. Na China, o Fresh Hippo, rede de mercados do gigante Alibaba, garante uma experiência de compra similar, mas com um diferencial: o aplicativo avisa, por exemplo, onde e quando a lagosta disponível no freezer foi pescada e dá sugestões sobre os vinhos que harmonizam com o prato. Após certo atraso, o Brasil começa a receber investimentos no setor e, por isso mesmo, o número de mercados autônomos cresce de forma surpreendente.

A pioneira Zaitt iniciou 2020 com duas lojas, uma em Vitória e outra em São Paulo, mas deve encerrar o ano com doze. Não há funcionários nos mercados. O cliente acessa a unidade após a leitura de um QR code pelo smartphone, seleciona os produtos usando o aparelho para a leitura do código de barras e finaliza a compra pelo aplicativo. “Ajustamos o nosso modelo de negócios, entendemos o gosto dos clientes e agora estamos prontos para crescer”, diz Rodrigo Miranda, presidente da Zaitt, rede comprada recentemente pela empresa de restaurantes corporativos Sapore. A companhia não revela o faturamento, mas o executivo diz que, durante a quarentena, as vendas subiram 50%.

É nos prédios e condomínios residenciais que os mercados autônomos mais crescem no país, o que pode ser atribuído ao distanciamento social imposto pela pandemia. Para evitar o risco de circular em lugares públicos, muitas pessoas recorreram às compras literalmente na esquina de casa. Estima-se que pelo menos 500 condomínios contam com o serviço. Um dos maiores representantes do setor é o paranaense market4u. Criado no ano passado por três sócios em Curitiba, o market4u começou a pandemia com dezesseis lojas. Atualmente, são 269 em 35 cidades de vinte estados, além de contratos assinados para outras 1 000 unidades. “No ano que vem, queremos abrir 1 000 mercados por mês e, em três anos, estaremos em 50 000 prédios ou condomínios”, diz Eduardo Palu de Cordova, presidente do market4u. Um estudo contratado pela empresa listou que, só na cidade de São Paulo, há 55 556 condomínios com capacidade para receber as unidades autônomas.

No início, a estratégia da empresa estava baseada na comodidade. O objetivo principal era capturar as compras por impulso ou necessidade. Por exemplo: espera-se que quem organiza um churrasco compre a carne e as bebidas num mercado tradicional. E se a cerveja acabar? Nesse caso, basta descer e comprar na loja instalada dentro do prédio. Ainda que esteja longe do modelo da Amazon Go, há bastante tecnologia envolvida. O market4u trabalha com cerca de 5 000 itens, mas cada unidade vende um décimo desse número e é customizada de acordo com os hábitos dos consumidores. A análise é feita por um software de inteligência artificial. Na versão mais hi-tech, as gôndolas são fechadas e o acesso é feito a partir do aplicativo instalado no smartphone. Há trava de proteção para impedir que menores de idade comprem bebidas alcoólicas.

Para as grandes companhias, o maior ativo desse tipo de mercado está nas informações sobre os hábitos de consumo, que valem ouro hoje em dia. Não à toa, marcas como a cervejaria Ambev, a empresa de bens de consumo Unilever e o frigorífico Seara pagam ao market4u para ter seus produtos expostos nas prateleiras. “Os mercados de condomínio servem como laboratórios para conhecer os gostos de nossos consumidores”, diz Manoela Victal, diretora de Novos Canais da Seara. A empresa entrou nesse filão em maio. Atualmente, está presente em oitenta unidades, com planos de atingir 2 000 até o fim de 2021. Um dos obstáculos à viabilidade do negócio são os furtos. No começo, o índice de perdas no market4u era próximo de 10%. Após o reforço em tecnologia e campanhas de conscientização com condôminos, o índice chegou próximo a 3%. Apesar dos entraves brasileiros, os mercados autônomos são uma boa novidade.

Publicado em VEJA de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705

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