Ser resgatado por um revival é bom, mesmo quando o mercado fonográfico, atualmente em crise, já não é aquele que o artista deixou, vinte anos atrás. A transformação do mercado, aliás, parece assustar pouco a Dolores O’Riordan, a vocalista da banda irlandesa The Cranberries. Dolores, que juntamente com o grupo passou onze anos sem gravar e volta agora com o disco Roses, evita o tom pessimista ao falar da indústria, embora saiba que o mercado mudou muito desde Wake Up and Smell the Coffee, seu último álbum, de 2011. Pragmática, a cantora entrega porque está voltando. “Estive muito ocupada me divertindo, mas agora preciso trabalhar.”
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Leia abaixo os melhores momentos da conversa de Dolores O’Riordan com o site de VEJA, em que ela fala sobre o retorno do Cranberries e de Roses, CD lançado nesta semana no Brasil pelo selo carioca LAB344.
Por que vocês decidiram voltar? Pareceu certo para mim. Ao longo dos anos, nós recebemos muitas ofertas para voltar, mas eu queria fazer uma pausa e curtir meus filhos. Por um bom tempo, quis distância da música, não ouvia nem rádio. Só cuidava dos meus filhos e fazia yoga. Estive muito ocupada me divertindo, mas agora preciso trabalhar.
Várias bandas dos anos 1990 estão voltando agora, por que isso acontece? Eu não sei ao certo. Vejo que as bandas daquela época continuam sendo muito respeitadas, e acho que isso se deve à boa qualidade de nossos trabalhos e aos nossos posicionamentos ideológicos. Hoje em dia, as estrelas do cenário pop preferem arrancar suas roupas e balançar seus traseiros. Eu nunca fui assim, e isso não mudou.
A indústria fonográfica mudou muito dos anos 90 para cá. Hoje, o artista quase não ganha dinheiro com venda de discos, só com shows. Foi difícil se acostumar? Entendo o que você está dizendo. Mas, para mim, as coisas não mudaram muito. Eu voltei agora, fazendo o mesmo que fazia antes: escrever música, lançar disco e subir ao palco. Então, por enquanto, está tudo bem. Mas não sei quanto tempo isso vai durar. Também não sei por quanto tempo aguentarei fazer shows. Pode ser uma semana ou pode ser um ano, quem sabe…
Como foi gravar o novo disco? Na verdade, nós começamos a trabalhar nessas músicas em 2003. Mas aí as coisas deram errado, nós acabamos nos separando, e as canções ficaram guardadas. Quando decidimos voltar, abri o baú e reescrevi as faixas antigas, além de compor algumas novas.
O que fez nos anos de hiato? Eu fiquei com meus filhos, na maior parte do tempo. Era mãe em tempo integral. Ia à igreja, fazia yoga, às vezes ia para a academia… Tinha uma vida bem normal.
Pretendem vir ao Brasil? Já conversamos muito sobre isso, mas acho que neste ano não vai dar. Quem sabe no próximo? Estamos disponíveis (risos).