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Matt Damon fala dos descaminhos da sociedade americana em ‘Promised Land’

O longa, candidato ao Urso de Ouro, foi apresentado no início da tarde desta sexta-feira, no festival

Por Mariane Morisawa, de Berlim
8 fev 2013, 13h28

A crise econômica e a fratura da sociedade americana explicitada nas últimas eleições presidenciais estão inspirando os cineastas a pensar os Estados Unidos, suas fundações e seus valores em produções como Amor sem Escalas e A Negociação. Agora é a vez de os atores Matt Damon e John Krasinski (da série The Office) lidarem com o assunto. Os dois escreveram o roteiro de Promised Land, que era para ser a estreia de Damon atrás das câmeras, mas acabou nas mãos de Gus Van Sant, que dirigiu os dois outros roteiros do ator (Um Gênio Indomável e Gerry). O longa, candidato ao Urso de Ouro, foi apresentado no início da tarde desta sexta-feira (8), no 63o Festival de Berlim. Nem a neve que cobriu de branco as ruas impediu o Berlinale Palast de ficar lotado.

Na trama, Steve (Matt Damon) é o funcionário de uma companhia que viaja por cidadezinhas do interior com a parceira Sue (Frances McDormand) para convencer donos de pequenas fazendas, empobrecidas pela crise, a entrar numa espécie de sociedade com a Global para exploração de reservas de gás natural. Eles encontram uma dificuldade inédita ao serem contestados pelo professor Frank Yates (Hal Holbrook), que pede aos habitantes mais tempo para pensar e para colocar em votação a entrada da companhia na cidade. O ambientalista Dustin Noble (John Krasinski) aparece para complicar ainda mais as coisas, dizendo que a exploração contamina a água e o solo, matando as plantações e os animais.

Na coletiva que se seguiu à exibição, Krasinski contou que teve a ideia ao pensar no pai, que cresceu numa cidade pequena e sempre falou sobre o senso de comunidade. “Nós nos afastamos tanto disso enquanto país, especialmente na época da eleição, que me despertou a atenção.” O ator começou a conversar com Matt Damon sobre o assunto. “Queríamos fazer um filme sobre a identidade americana”, explicou Damon. “Explorar onde estamos e como estamos pensando ao tomar nossas decisões.”

Dirigido com sobriedade por Van Sant, Promised Land, que foi um fracasso nos EUA, arrecadando menos de US$ 8 milhões em seis semanas de exibição, prefere não defender uma causa explicitamente, apenas questionar as decisões e a forma como elas estão sendo tomadas e discutir os caminhos dos Estados Unidos (e, em certa medida, do mundo). “O tema do gás natural foi encontrado mais tarde no processo e era perfeito para o filme. John e eu pesquisamos muito, tentamos não inventar nada, apenas mostrar o que está acontecendo. Essa discussão faz parte da vida das pessoas, elas têm opiniões muito opostas. Então não queria que fosse um julgamento do que fazer, mas expor o que está acontecendo”, explicou Damon. Os personagens todos são simpáticos, sem heróis ou vilões evidentes. Para o diretor, Steve é um vendedor, que acredita mais na venda do que no produto. “Os vendedores têm um lado bom e um lado ruim. É um cara legal, vendendo algo que talvez não seja tão legal. É uma combinação perfeita de herói e anti-herói.”

Com um elenco talentoso, que conta ainda com a ótima Rosemarie DeWitt como uma moradora local que se envolve tanto com Steve quanto com Dustin, os diálogos rápidos criados por Damon e Krasinski funcionam bem na tela. Prova de que Damon, que dividiu o Oscar de roteiro original com Ben Affleck em 1998, não perdeu a mão. O ator, aliás, fez vários elogios ao amigo. “Temos uma produtora juntos. Quando Argo começou a fazer sucesso, Ben me ligou e disse que agora tínhamos de alugar um escritório!”, contou. “Fico feliz porque ele levou no queixo muitas vezes da imprensa, dizia: ‘Estou na pior situação, vendo revistas e não vendo ingressos’. E conseguiu começar de novo. Nos cinco últimos anos, dirigiu três filmes. Claro que estou torcendo por Argo no Oscar”. Promised Land guarda surpresas, mas poderia exaltar um pouco menos o bom-mocismo cinematográfico.

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Mais competidores

Paradies: Hoffnung (“Paraíso: esperança”, na tradução livre do alemão), de Ulrich Seidl, e W Imie… (“Em nome do”, na versão do polonês), de Malgóska Szumowska, foram os dois primeiros concorrentes ao Urso de Ouro, exibidos para a imprensa na noite da quinta-feira (7) e na manhã da sexta-feira (8). Os dois filmes dialogam entre si: o longa do austríaco Ulrich Seidl fala de menina adolescente num “acampamento de dieta” que se apaixona pelo médico, muito mais velho, enquanto a produção de Szumowska trata de um padre tentado por garotos adolescentes numa comunidade rural.

Como já mostrou nas outras duas partes de sua trilogia, Paradies: Liebe (“Paraíso: Amor”) e Paradies: Glaube (“Paraíso: Fé”), Seidl não acredita muito no ser humano. Povoa seus filmes de personagens que parecem estar ali simplesmente para serem ridicularizados, seja pelas atitudes ou pelos corpos e cabelos fora de forma. Desta vez, tão preocupado em chocar, ainda descuida de detalhes como a facilidade com que as adolescentes encontram bebidas naquele espaço confinado e até na sunga do médico, que muda de cor de uma sequência para outra.

Já a diretora polonesa abusa tanto da economia que o espectador só vai descobrir do que se trata determinada coisa 20 minutos mais tarde. Ela também cai em ideias simplistas ao relacionar ambientes masculinos e homossexualidade e abusa da câmera tremida e da música. Por enquanto, o júri presidido por Wong Kar-wai – que disse na coletiva que vai procurar as coisas boas e não as ruins dos filmes em competição – deve ter pouco o que discutir.

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