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Marcelo D2: Lobão foi ‘reacionário’ ao criticar hip hop

Carioca lança CD mais voltado ao rap e defende o movimento de que faz parte dos ataques do roqueiro: 'Ele também não faz nada para mudar, cá para nós'

Por Rafael Costa
10 Maio 2013, 10h02

“É fácil (o Lobão) botar expectativa no que o outro faz, ele quer o quê? Que o rap seja do jeito que ele deseja?’

De boné, casaco verde e bom humor, o rapper Marcelo D2 se sentou no sofá roxo da loja que inaugura este sábado na Galeria Ouro Fino, em São Paulo, para falar de um dos produtos que vai vender ali, pelas próximas cinco semanas: o seu sexto disco solo de estúdio, Nada Pode me Parar. Não que a loja vá vender só o disco – ela terá também headphones, shapes de skate e bonés com a marca do cantor. E não que D2 só tenha falado do disco: ele falou de tudo, do Planet Hemp, de política e também do novo livro de Lobão, Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Nova Fronteira), que tacha o hip hop de “órgão de propaganda das ideias medíocres e revanchistas do PT”. “Me soou um pouco reacionário demais para um cara como o Lobão”, disse, ao site de VEJA. “É f…, as pessoas esperam que o hip hop vá salvar o mundo, mas o mundo não tem salvação”, completou, sem azedar o humor.

D2 manteve o respeito e deu a Lobão o crédito que achava que ele merecia. Rapper e roqueiro concordam, por exemplo, no desencanto com o PT. “O que mais me incomoda é não pensar em politica sem pensar em corrupção. O PT me decepcionou muito por passar a mão na cabeça de um camarada porque ele foi companheiro de guerrilha e agora pode roubar.”

Sobre o novo disco, tema da turnê que D2 fará pelos próximos meses, levando com ele a loja itinerante que abre agora na rua Augusta, o músico disse que é um retorno ao hip hop depois de ir fundo demais no samba nos álbuns anteriores, Meu Samba É Assim (2006) e Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva (2010), com músicas do malandro carioca. Ainda que uma faixa ou outra traga um pouco de samba, é principalmente rap o que se ouve em Nada Pode me Parar. O disco, que chega agora às lojas, conta com parcerias nacionais e internacionais. Entre elas, a de seu filho Stephan (que também canta e compõe rap), a de Batoré do Cone Crew e a dos rappers Aloe Blacc e Joya Bravo, que fazem parte do time estrangeiro. Música, política e hip hop estão na entrevista de Marcelo D2.

O álbum conta com várias participações internacionais. É uma forma de investir na carreira internacional ou simplesmente de diversificar o som? Pelo contrario, é uma forma de trazer os caras para cá. Todas as participações são de pessoas que estavam ao meu lado: Cone Crew, meu filho, o Helinho, do Ponto de Equilíbrio, o Aloe Blacc, um amigo meu de Los Angeles, a Joya Bravo, que eu conheci no Brasil, mas encontrei para gravar em Nova York. O único que eu não conhecia era o Like, do Pac Dive. Queria cantar com esse cara e fui atrás, mas o resto estava por perto. Batia loucura do tipo, ‘Quero um refrão em inglês’, e eu ligava para chamar alguém para cantar. E o Blacc não quis só cantar, ele quis compor um rap, também. Eu falei, lógico. Mas não foi de olho no mercado internacional. Já viajei bastante. Fui ao Chile este ano e foi meu vigésimo quinto pais, já passei por Estados Unidos, Europa, Ásia, África, Oceania, é país pra caramba.

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Como foi trabalhar com o Batoré do Cone Crew? Música é conversa, é muito importante conversar com todos. A troca é um momento que acho inspirador pra caramba.

Por que, na sua opinião, o hip hop vive um momento tão bom no Brasil? Estamos copiando de novo os americanos? A internet dá força nesse processo, a música não tem fronteira mais. Em qualquer lugar do mundo, você consegue ouvir Criolo, Emicida. E isso ajuda os caras que têm o lado empreendedor, tipo o Emicida, que vende as coisas dele on-line.

Em seu novo livro, Manifesto do Nada na Terra do Nunca, Lobão critica o sertanejo universitário e diz que o hip hop nacional virou um órgão de propaganda das ideias medíocres e revanchistas do PT. O que você achou da declaração? Conheço o Lobão, não sou amigo, mas conheço. Acho que é a opinião dele e pronto, não concordo com uma p….. de coisa que ele diz, mas concordo com outras. Isso me soou um pouco reacionário demais para um cara que nem o Lobão. O Lobão é exagerado, sempre foi. É f…, as pessoas esperam que o hip hop vá salvar o mundo, mas o mundo não tem salvação, desculpa (risos). Não tem salvação. É fácil botar expectativa no que o outro faz, ele quer o quê? Que o rap seja do jeito que ele deseja? E ele também não faz nada para mudar, cá para nós (risos).

E quanto ao sertanejo universitário? Eu nem ouço, nem sei o que é, “josé e joão” (chuta um nome de dupla), nem sei do que se trata, não é o tipo de coisa que presta, só ouço coisa antiga, só ouço mortos (risos).

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E sobre as declarações políticas do Lobão, de que a Dilma, se tivesse derrubado a ditadura, teria instalado outra ditadura, o que você acha? Eu já fui petista e me decepcionei muito com o PT. Da Dilma, eu não tinha expectativa nenhuma, mas acho que ela está fazendo um governo mais condizente com o partido dela do que o próprio Lula. O que mais me incomoda é não pensar em política sem pensar em corrupção. O quanto se joga dinheiro fora, o desrespeito com a saúde pública, com educação… Isso para mim devia ser o ideal de um governo: “Eu tô aqui, e vou acabar com (acabar é difícil, mas reduzir) a corrupção, usar o dinheiro para o que é realmente necessário”. E é incrível como se passa a mão na cabeça do camarada. O PT me decepcionou muito com isso, por passar a mão na cabeça de um camarada porque ele foi companheiro de guerrilha e agora pode roubar.

Você acha que faltam músicos que lutem e protestem mais? O Planet tinha um pouco disso, mas isso não é o papel da arte, ela tem outro papel. Artista tem que fazer arte, se tiver alguém que queira fazer isso, tudo bem, mas não é muito do brasileiro fazer isso também, levantar placa, bater lata e tal. Já teve mais na época da ditadura, que foi pesado.

Você já participou de um programa de TV com o Fernando Henrique Cardoso falando sobre a descriminalização da maconha. Qual a sua relação com ele? A relação com o Fernando Henrique é que no governo dele eu fui preso (risos). Acho que eu o vi três vezes na vida, e acho que ele devia ter tido essa postura quando era presidente. Seria bem melhor para mim (risos). Mas ele é um intelectual, é legal que ele faça isso. Esse negócio das drogas soa tão velho, drogas para mim sempre foram um caso de saúde e não de polícia e é legal ter um FHC na defesa disso, conversa abertamente sobre isso. Mas ele é um entre milhões que falam isso e na hora de escrever e virar lei é difícil, porque as pessoas têm medo.

E você acha que ainda é possível a descriminalização da maconha no Brasil? Lógico, cara, vamos rir disso ainda. Tomara que não demore, tomara que eu esteja vivo (risos).

A defesa da legalização da maconha não aparece de forma tão explicita nos seus álbuns solo do mesmo jeito que aparece nas letras do Planet Hemp. Por quê? Porque, para mim, já legalizou (risos). Para mim, já tá velho esse assunto, todos os meus discos têm uma música de maconha. Eu não quero soar repetitivo, ser cover de mim mesmo. Na procura da batida perfeita, a batida não é o mais importante, e sim a procura, a procura é a parada. Levar coisa nova é importante, assim como fazer coisa diferente, se for falar “legalize já” em todos os discos, não dá. Eu continuo falando, mas pode ser de maneira diferente, como em 4:20 (música do CD novo).

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Tem chance de haver um novo disco do Planet Hemp? Não, cara, a gente vai gravar o DVD, tem um show no Central Park (20 de julho) em Nova York e outro no Lollapalooza de Chicago (3 de agosto) e pronto. Sem planos de música nova. Eu diria que é impossível ter um disco de inéditas, mas já disse que era impossível a volta do Planet e a banda voltou, então vou dizer que acho improvável (risos).

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