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Luiz Carlos Barreto fecha parceria com grupo inglês que produziu clássicos como ‘Gandhi’ e ‘Carruagens de Fogo’

Primeiro filme será 'A Arte de Perder', sobre o romance entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a brasileira Lota de Macedo Soares

Por Rafael Lemos
30 set 2010, 18h48

“É a oportunidade de resgatar uma figura importante, especialmente para os cariocas. Lota é uma personagem como eu gosto. É uma intelectual, bem nascida e muito inteligente”, diz Glória Pires

A produtora de Luiz Carlos Barreto, patriarca do clã mais poderoso do cinema brasileiro, fechou parceria com a britânica Goldcrest Films, responsável por clássicos como Gandhi e Carruagens de Fogo. O primeiro projeto conjunto será A Arte de Perder, uma história de amor real entre duas das mais interessantes personagens da sociedade carioca das décadas de 1950 e 60. O filme vai narrar o romance entre a poeta americana Elizabeth Bishop, ganhadora do Prêmio Pulitzer de 1956 – e a brasileira Lota de Macedo Soares, que deixou sua marca no Rio de Janeiro como idealizadora do Aterro do Flamengo, inspirado no Central Park de Nova York. Baseado no livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmem Lucia de Oliveira, o filme retrata a vida dessas duas mulheres de nacionalidades, culturas e personalidades diferentes, que se apaixonaram de forma intensa e viveram um longo relacionamento, que terminou em tragédia após a separação.

Lota de Macedo Soares
Lota de Macedo Soares (VEJA)

Com direção de Bruno Barreto, A Arte de Perder terá a atriz Glória Pires no papel de Lota. Glória, que já trabalhou com Fábio Barreto em O Quatrilho e Lula – O Filho do Brasil, foi escolhida para o papel desde o primeiro momento. Já a atriz estrangeira que vai dar vida a Elizabeth Bishop sairá de uma lista de nomes que estão sendo sondados. “É a oportunidade de resgatar uma figura importante, especialmente para os cariocas. É uma personagem como eu gosto. É uma intelectual, bem nascida e muito inteligente”, comemorou a atriz, em entrevista, nesta quinta-feira, no Pavilhão do Festival do Rio.

O projeto foi idealizado há mais de 15 anos por Lucy Barreto, a matriarca da família. Mas não foi fácil convencer o filho a rodar o longa. “Essa história passou pela mão do Bruno e depois do Hector Babenco. Nenhum dos dois quis filmar”, lembra Lucy. “Eu não enxergava um ângulo para contar aquela história. Não queria fazer apenas uma biografia. O filme fala sobre a importância de saber perder para viver”, argumenta o diretor, afirmando que tratará a orientação sexual das personagens com a mesma discrição que as duas mantinham. A roteirista Carolina Kotscho diz, a esse respeito, que o maior elogio que ouviu foi quando lhe disseram que “o roteiro não é sobre o amor de duas mulheres, mas de duas pessoas”.

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A história se passa nos anos dourados do Brasil, em que surgia a Bossa Nova, Brasília começava a ser construída e o Rio de Janeiro vivia uma efervescência cultural nunca reeditada. Lota tinha no seu círculo de amigos a nata dos intelectuais e artistas brasileiros – entre eles Portinari, Vinicius de Moraes, Mario de Andrade, Roberto Burle Marx. Mas o único personagem histórico retratado no filme será Carlos Lacerda, o político mais polêmico e o governador mais empreendedor que o Rio de Janeiro já teve, e que deu crédito ao projeto megalomaníaco de Lota para ocupar a imensa área aterrada que vai do Centro da cidade ao final da Praia de Botafogo.

As duas personagens centrais reagem de maneira inversa ao amor. Alcoólatra e emocionalmente frágil, Bishop encontra na brasileira o seu porto seguro depois de uma vida de viagens, sem família nem residência fixa. Já Lota, empreendedora e autoconfiante, se enfraquece ao perder seu grande amor e o controle de sua grande paixão: o Parque do Flamengo. As perdas são tema recorrente na obra de Bishop. Veja abaixo seu poema que dá título ao filme.

A arte de perder não é nenhum mistério

tantas coisas contém em si o acidente

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de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.

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Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subseqüente

da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

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lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. Um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.

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Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)

não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser um mistério

por muito que pareça (escreve) muito sério.

(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)

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