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Leandro Erlich: ‘Não há fórmula mágica para ser artista’

Criador da instagramável 'A Piscina', o argentino fala a VEJA sobre a exposição "A Tensão", em cartaz no CCBB de São Paulo

Por Amanda Capuano Atualizado em 15 abr 2022, 16h19 - Publicado em 15 abr 2022, 14h00

Leandro Erlich é um dos artistas argentinos de maior sucesso da atualidade. Com uma arte baseada em objetos do cotidiano, ele usa de ilusões de ótica para transgredir o significado de coisas que vemos todos os dias, sem nunca parar para de fato observar. Sua obra mais famosa, A Piscina, leva o expectador para dentro de uma piscina ilusória, onde observa, do fundo da peça, o mundo acima dele, interagindo com  a obra. A interação, aliás, é um elemento importante em seu trabalho, e grande destaque especial na exposição A Tensão, em cartaz até o dia 20 de junho no CCBB de São Paulo, depois de temporadas estouradas em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Com curadoria de Marcello Dantas, a mostra reúne 16 obras do artista, que transformam o ambiente através de barcos e elevadores flutuantes, janelas para jardins imaginários e até a famosa piscina, alocada no térreo do CCBB, onde o visitante pode ficar “submerso” sem medo de se afogar. Em entrevista a VEJA, o artista comentou sobre sua arte.

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Você está em cartaz no CCBB de São paulo com a exposição A Tensão, que foi um grande sucesso em Belo Horizonte de no Rio de Janeiro. Por que esse título? É uma história interessante. Quem sugeriu foi o Marcello Dantas, curador da mostra. Sempre me atraí por trocadilhos, porque é algo que acontece não só na linguagem, mas também na vida. Uma determinada coisa, por exemplo, pode ter mais de um significado dependendo da situação. A tensão tem o mesmo som de atenção, e é um jogo de palavras legal para apresentar o trabalho ao público, porque, ao mesmo tempo que há certa tensão, é preciso ter de atenção especial para apreciá-la.

Uma das suas obras mais famosas é a Piscina, um exemplo da sua atração artística por objetos e situações cotidianas. Qual a essência da sua arte? Acho que a ordinariedade. É interessante explorar o ordinário porque nós não temos o tempo e espaço adequado para refletir sobre a natureza das coisas que fazem parte do nosso dia a dia. Gosto da ideia de questionar as certezas que temos, e nada é mais extraordinário do que conhecer algo e ficar chocado vendo esse algo se transformar em algo novo. Outra coisa é a interação com o público. Esse processo requer cumplicidade do espectador, porque ele precisa entender o que está acontecendo para participar da experiência.

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Você sempre soube que queria ser artista? Mais ou menos. Eu comecei muito jovem, pintava quando criança, me divertia. Foi um processo. O ser artista é algo que vai sendo construído com o tempo, através da conjugação de trabalhos e experiências. Não é ir para a faculdade, conseguir um diploma e então se tornar artista de imediato. Depois da escola, inclusive, eu estava estudando arte e abandonei para estudar um pouco de filosofia. A maioria dos artistas que eu me interesso são pessoas que estão buscando explicações, descobertas, tentando compartilhar isso com o público. Não há uma fórmula mágica para ser artista, isso não funciona.

Você disse que estudou filosofia por um tempo. Como esse seu interesse se reflete nas suas obras? Como artista, eu tenho uma intenção e um motivo para fazer o que faço, então há um conceito filosófico do que é o trabalho, de chamar atenção para o ordinário. Mas também há algo que convida a audiência a participar disso. O significado de uma obra não é necessariamente o que o artista diz que é. A audiência tem outras percepções, e isso é totalmente normal. As pessoas deduzem meus trabalhos como ilusionismos, ilusão de ótica ou algo assim. Tem tudo isso, mas há um conceito que vai além. É algo que incentiva o processo crítico de convidar o observador a entrar na brincadeira e entender o que está acontecendo. E não é só sobre se divertir, apesar disso ser importante também. 

Hoje a exposição é um sucesso no Brasil, mas o lançamento dela foi adiado algumas vezes por conta da pandemia. A crise do coronavírus mudou a forma como sua arte é percebida? Sim, mas não só a pandemia. Tudo na arte é modificado pelas circunstâncias, essa é a mágica de tudo, o que eu mais gosto na arte. A ciência é uma lei, ela não muda por causa de circunstâncias sociais. A arte, e o que associamos a ela, é diretamente afetada pelo mundo. A COVID-19 mudou a exibição em aspectos que eu ainda não entendi totalmente a dimensão, mas o significado foi modificado, e vai ser modificado de novo no futuro. A comunicação social, por exemplo, foi um aspecto que a sociedade sentiu demais, porque a pandemia nos obrigou a limitar as interações. A exibição, nesse sentido, convida as pessoas a redescobrirem o papel da interação. A pandemia ainda não acabou, mas é um momento em que estamos encontrando o nosso caminho para fora desse pesadelo.

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