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‘Lado a Lado’: classe C leva Globo a época de ouro no Rio

Escolha do tema é um acerto possibilitado pelo novo foco comercial da emissora carioca, mas limites do gênero ameaçam a construção de uma boa história, que já começa calcada em maniqueísmo e trama amorosa

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 set 2012, 19h46

Já está ficando chato falar de Globo e classe C, já que o vínculo é repisado a cada novela ou série que estreia. Mas é preciso dizer que, para além de interesses comerciais, o foco na chamada nova classe média tem rendido um sopro criativo à Rede Globo, nas últimas décadas bastante presa ao argumento da luta pelo poder entre ricaços em seus folhetins. Além de Avenida Brasil, primeira novela a tirar a elite do centro da trama, e que agrada tanto pelo texto ágil como pela imagem com qualidade de cinema, e da divertida Cheias de Charme, com a sua relação inteligente com a música e a internet, o canal tem agora, às seis, Lado a Lado, um folhetim que, graças ao foco da emissora na classe C, investe em um dos momentos mais ricos da cultura nacional, e pelo ponto de vista correto. A trama de João Ximenes Braga e Claudia Lage mostra o Rio de Janeiro do início do século XX, quando negros chegados da Bahia levam o samba para a capital federal e a urbanização elimina os cortiços da cidade, fazendo surgir as favelas. Resta saber se vai vencer os limites do gênero, coisa que o capítulo de estreia, calcado em maniqueísmo e paixão ardente, não parece indicar.

A novela começa em 1903, com uma festa de Carnaval. É ali, na rua, que um Zé Maria (Lázaro Ramos) fantasiado de diabo vai conhecer seu par romântico, Isabel (Camila Pitanga). E quase vai perdê-la, porque o capoeira, ao desafiar o representante de um cordão carnavalesco rival, vai irritar a cozinheira de pensão, pouco afeita a demonstrações de macheza gratuitas. “Vamos embora daqui. Capoeira é tudo bandido”, diz, deixando escapar que também tem preconceito. Isabel é uma mocinha de vanguarda como será também a Laura de Marjorie Estiano, filha de uma baronesa falida (Patricia Pillar) que quer trabalhar e questiona a importância do casamento. É claro que houve mulheres corajosas nessa época, vide Chiquinha Gonzaga, mas a existência de duas tão independentes, que serão inclusive amigas, soa pouco verossímil.

É a partir dessas personagens que se desenvolve a trama. Laura será pressionada pela mãe para casar com um bom partido e manter “a linhagem da família”. “Você tem obrigações com a família”, diz a baronesa Constância Assunção depois de flagrar a filha representando um texto de Artur de Azevedo na biblioteca. “Eu dou aula de literatura, é um trabalho voluntário por enquanto”, se explica a menina. “Trabalho? Mas você vai se casar. Em breve, essas fantasias estarão mortas e enterradas, diante do padre, para sempre”, remata a cruel baronesa. É entre elas que se instala o maniqueísmo folhetinesco.

Já a paixão ardente surge entre os personagens de Camila Pitanga e Lázaro Ramos, que voltam a fazer par após a dupla Carol e André de Insensato Coração – de bigodinho, porém, o ator está muito mais bonito que como o barbudo garanhão da trama de Gilberto Braga. Isabel vai descobrir que Zé Maria trabalha para o pai, Afonso (Milton Gonçalves), e aceitar um convite para sair com ele. Na chique confeitaria Colônia, eles são mal recebidos por serem negros. É aí que o mocinho conquista a mocinha. Um garçom alega que a mesa escolhida por eles já está ocupada, mas Zé Maria faz um discurso contra o preconceito racial. E ganha um beijo de sua ultravanguardista amada.

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Expressões e trilha – As menções ao período histórico são inseridas aqui e ali, de um jeito que não fica pedante nem didático. “Acho bom que vão proibir o uso de máscaras no Carnaval. Eu gosto de tudo às claras”, diz por exemplo Isabel, ao ser abordada pela primeira vez pelo diabo do Zé Maria. E a baronesa falida, ao se despedir do sobrinho playboy Albertinho (Rafael Cardoso), que vai para a farra: “Esses amigos que ele arranjou gostam de música de negro, o tal do samba. Imagina se essa batucada um dia vai ter alguma importância para o Brasil?”

Se as citações históricas são bem-vindas, o uso de expressões do período fica engraçado em falas sem sotaque de época, ainda mais porque a direção optou por uma trilha atual, com direito a Los Hermanos (De Onde Vem a Calma) e a samba-enredo campeão (Liberdade, Liberdade, Abre as Asas sobre Nós, da Imperatriz Leopoldinense). “Agora eu quero ver ela me negar uma dança”, diz o capoeira Zé Maria ao colocar para correr o representante do cordão rival. “A mulata? Escafedeu-se”, responde o amigo Caniço (Marcello Melo Jr.). “Agora, só me resta a orgia”, responde o capoeira como se fosse Noel Rosa.

Com orgia ou sem orgia, samba ou maxixe, o desafio de Lado a Lado é o próprio formato.

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