IMPERDÍVEL: Filme ‘masculino’ de Linklater é sátira dos anos 1980
Uma sátira com uma boa dose de melancolia, é verdade, mas o melhor em 'Jovens, Loucos e Mais Rebeldes' é mesmo o seu recorte temporal
(Everybody Wants Some!!, EUA, 2016) Richard Linklater gosta de contar histórias, e às vezes se afeiçoa a elas por anos. E gosta de trabalhar bem seus personagens, que evoluem nessa passagem de tempo. Foi o que se viu na trilogia iniciada por Antes do Amanhecer (1995), com um casal que falava de si mesmo e de tudo e do nada sem parar, e em Boyhood: da Infância à Juventude (2014), projeto em que acompanhou o crescimento de um garoto e o amadurecimento de todos os que o cercavam, por anos a fio. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, que estreia agora, reflete o gosto de Linklater por retomar e retrabalhar projetos: o filme leva um “Mais” no título em referência a Jovens, Loucos e Rebeldes, de 1993, que girava em torno de um grupo de secundaristas no último dia de aula. É certo que os títulos originais (Dazed and Confused, o primeiro, e Everybody Wants Some!!, o de agora) são diferentes, mas a proposta é a mesma. Ambos os longas têm recortes temporais restritos e são focados no comportamento de grupos de estudantes em alguma década passada. Um se passa nos anos 1970, o outro, nos 80, a década do momento, resgatada aqui como sátira, mas também com uma boa dose de melancolia. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes se desenrola nos três dias anteriores ao início das aulas em uma universidade do Texas, período em que seguimos a chegada e a ambientação do calouro Jake (Blake Jenner) à fraternidade em que morará, com os colegas do time de beisebol da universidade. A adaptação de Jake é a melhor possível: festas, churrasco, cigarros de maconha, sexo e música alta. Farra, farra, farra de homens. Se fosse um filme sobre uma república de garotas, seria chamado de feminino. O longa de Linklater é masculino, pelo mesmo critério. Isso não o diminui: o que pode pesar contra o filme é o esterótipo usado para construir alguns personagens, como o caipira, igualzinho a todos os que você já viu em uma sitcom americana. Mas Richard Linklater, depois de tantos portentos no cinema, atingiu um nível digno de Woody Allen: mesmo quando é mediano, ele é bom. Vale assistir.