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Gary Oldman estrela filme baseado em livro de John Le Carré

Em 'O Espião que Sabia Demais', que estreia nesta sexta-feira, o ator vive o agente secreto Smiley, um dos personagens mais marcantes da obra do escritor

Por Carlos Helí de Almeida
13 jan 2012, 12h27

“Toda semana, o país parava por uma hora por causa do George Smiley que Alec Guinness fez na série de televisão. Num tempo em que não existia videocassete, nem tecnologia pra gravar programas da TV, os ingleses organizavam sua vida social em torno do horário em que Tinker, Tailor, Soldier, Spy ia ao ar. As ruas ficavam desertas”

Ao longo de três décadas de carreira, Gary Oldman encarnou vampiros da literatura (Drácula de Bram Stoker), tiras sanguinários (O Profissional), magos renegados (Harry Potter), e comissários de polícia de histórias em quadrinhos (Batman). Foi com surpresa e satisfação que o ator britânico encarou o desafio de participar de O Espião Que Sabia Demais, thriller de espionagem sem adrenalina, artefatos tecnológicos e vilões caricatos, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 13.

No filme dirigido pelo sueco Tomas Alfredson (autor do sucesso Deixa Ela Entrar), Oldman interpreta George Smiley, um agente secreto aposentado, chamado de volta à ativa para estancar um escândalo de alcance internacional, durante a Guerra Fria. Versão para o cinema do best-seller de John Le Carré, o personagem foi um fenômeno de audiência quando foi transformado em minissérie de TV, pela BBC, em 1979.

O ponto de partida da trama é uma operação mal sucedida do MI-6, o serviço de inteligência britânico, em Budapeste, que resulta na demissão de Control (John Hurt), chefe do departamento, e de seu auxiliar imediato, Smiley. Quando surgem evidências de um que agente duplo russo atua há anos no alto escalão do departamento, Smiley é recontratado pelo governo para investigar a história. “Ele é um agente de grande astúcia, mesmo trabalhando atrás de uma mesa de escritório”, descreveu o ator de 53 anos durante o Festival de Veneza.

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Como o senhor reagiu ao descobrir que a versão para o cinema do livro, um best-seller britânico, seria dirigido por um estrangeiro?

Quando me avisaram que o diretor seria Tomas, eu estranhei. Eu me perguntava: “Como pode um diretor sueco estar à frente de uma história essencialmente britânica?” Mas, analisando mais friamente, me dei conta de que um realizador de outra cultura seria mais produtivo para o projeto. Um diretor inglês talvez tivesse uma abordagem romântica ou nostálgica demais sobre o material. Na verdade, acho que Tomas entendeu a proposta do livro e não acrescentou nenhum sentimentalismo ou romantismo ao filme.

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O que o senhor lembra sobre a versão feita para a TV, que foi ao ar nos anos 70?

Como todos o ingleses, na época, eu grudava os olhos na televisão para assistir ao capítulo semanal de Tinker, Taylor, Soldier, Spy. Era um fenômeno nacional. Toda semana, o país parava por uma hora por causa do George Smiley que Alec Guinness fez na série de televisão. Num tempo em que não existia videocassete, nem tecnologia pra gravar programas da TV, os ingleses organizavam sua vida social em torno do horário em que Tinker, Tailor, Soldier, Spy ia ao ar. As ruas ficavam desertas. Lembro que fizeram pesquisas que mostravam que até o índice de criminalidade caía no horário em que o programa ia ao ar!

O Espião Que Sabia Demais é um thriller de espionagem atípico, sem perseguições mirabolantes e ação ininterrupta…

Uma das razões pelas quais gosto do roteiro (de Peter Straughan e Brigit O’Connor), e que me deixou mais surpreso, é que não havia pressão sobre atualizar o livro para os padrões do gênero hoje, dar-lhe um ritmo mais ágil, como as aventuras de James Bond. Até porque é uma história sobre personagens, cheias de subtextos, que não está preocupada em mostrar perseguições de carros ou coisa parecida. É um filme sobre uma era, sobre as pessoas daquela época. Nesse sentido, o filme é bastante leal à sua fonte. Parece um filme dos anos 70, bem cerebral, com um ritmo bastante europeu.

Depois de tantos filmes de ação e aventura, o que achou de se ver em um espião mais cerebral?

Posso dizer que foi muito bom ter sido convidado para sentar e atuar. É verdade que tenho sido muito requisitado para interpretar personagens muito frenéticos e enérgicos, essencialmente físicos. Alguns deles podem ser considerados psicopatas, por assim dizer. (risos) Então foi muito legal ser chamado para andar e sentar tranquilamente no set de um filme. Na primeira vez que me encontrei com (o diretor) Tomas (Alfredson), ele me contou uma anedota sobre três caras os quais foi perguntado o que faria se pudessem voltar no tempo e encontrar Hitler. O primeiro diz que o colocaria numa panela fervente e o assistiria gritar até a morte. O segundo contou que o torturaria de diversas maneiras, antes de matá-lo friamente. Por fim, o terceiro diz que voltaria ao período em que o jovem Hitler fazia campanha política, distribuindo panfletos e tudo o mais. Estaria em seu café preferido, lendo o jornal do dia, e quando Hitler se aproximasse e o pedisse emprestado, apenas diria: “Não”. Foi a forma que Tomas encontrou para dizer que estava me dando a oportunidade para dizer não aos protagonistas de filmes de ação.

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Como o senhor descreveria Smiley?

Ele é um romântico desiludido, traído em vários aspectos da vida, emocional e profissional. No trabalho, ele foi vítima de uma traição que o levou a uma aposentadoria forçada. Em casa, a mulher tinha casos com todos os homens do serviço de inteligência britânico. De certa forma, ele se sente deslocado naquele mundo, que atravessa profundas transformações, e já não encontra mais lugar numa atividade que está se tornando absurdamente tecnológica. O que me chamou a atenção no livro, quando eu li, foi o tom melancólico da história. Se removermos todo o contexto político da trama, percebemos que o texto fala sobre lealdade e traição. Acho que aí está a razão do sucesso tanto do romance de John Le Carré quanto de tudo que foi gerado a partir dele. Porque é uma história que fala de pessoas como nós, cheias de falhas.

Quais são suas lembranças da Guerra Fria?

Na época, eu estava naquela idade em que os hormônios dominavam meu corpo. Então, não ligava muito para política, estava mais interessado em David Bowie e garotas. Vejo o mesmo acontecer com um do meus filhos, que é um adolescente de 14 anos agora. É uma fase da sua vida em você se acha o centro do mundo, não é? Tudo diz respeito a você e não os outros.

O que o senhor pode adiantar sobre Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge?

Ah, ele tem um história ótima! Não posso contar nada sobre ela, porque eles me matariam. Estou trabalhando com grandes atores e (o diretor) Chris(topher) Nolan. Se eu me comprometo a fazer um filme inspirado em uma história em quadrinhos, não posso pensar em outro projeto melhor do que um Batman dirigido por ele.

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