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Filósofo Arthur Danto discorre sobre os conceitos que definem o que é arte

Livro se aprofunda na obra de Andy Warhol e da pop arte, que mudou as definições sobre o que seria, de fato, a arte

Por Eduardo Wolf
27 nov 2020, 06h00

Controvérsias povoam o mundo da arte há séculos. Foi apenas o século XX, no entanto, com obras tão radicais como A Fonte (1917), o indefectível mictório convertido em escultura de Marcel Duchamp, e as caixas de sabão que compunham a Brillo Box (1964), de Andy Warhol, que levou o questionamento sobre a arte ao seu limite. Pela primeira vez, a pergunta não era mais “será isto boa arte?”, mas simplesmente “será isto arte, afinal?”. Foi com base nessa questão que o filósofo e crítico de arte americano Arthur Danto (1924-2013) construiu uma obra ímpar na filosofia da arte do século passado. Em O que É Arte, publicado originalmente no ano de sua morte e agora traduzido para o português, o leitor encontrará uma síntese acessível e arejada do pensamento de Danto e de sua jornada em busca de uma definição satisfatória para esse conceito escorregadio.

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IMPASSE - Tubarão em formol, de Damien Hirst: acusações de charlatanismo – (Qatar Museum/.)

Professor na Universidade Columbia, em Nova York, desde 1951 até o fim de sua vida, e crítico de arte do The Nation, Danto teve seu momento de epifania em 1964, na Stable Gallery: “Sentia-se que se cometera um erro. Parecia um depósito de supermercado. Havia apenas fileiras de caixas, cuidadosamente empilhadas — Brillo, Kellogg’s, Heinz etc.”. A sensação de erro era parte da mágica operada por Andy Warhol, o autor daquelas obras que, aparentemente, eram indiscerníveis dos objetos comuns que as inspiraram. Que diferença havia, de fato, entre uma caixa do sabão Brillo encontrada nos supermercados americanos e suas contrapartes elaboradas em madeira compensada na Factory, o ateliê de Warhol?

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O QUE É A ARTE, de Arthur Danto (tradução de Rachel Cecilia de Oliveira e Debora Pazetto; Relicário; 230 páginas; 55,90 reais) – (./.)

Incorporando os elementos da sociedade de consumo e da moderna democracia de massas tecnológica, o que a Brillo Box de Warhol (e a pop art em geral) representou foi muito mais que a conhecida superação dos limites entre cultura elevada e popular. Das latas de sopa Campbell’s ao estilo dos quadrinhos, o lugar-comum ganhava espaço no mundo da arte, antes reservado ao registro elevado, grave. As caixas de sabão Brillo de Warhol eram um caso notável. Seu significado mais profundo foi que esse processo de “credenciamento” de novos objetos, materiais e temas no mundo da arte alcançara um limite extraordinário, exigindo uma interpretação nunca antes necessária: como observou Danto em seu primeiro artigo sobre o assunto, em 1964, se nada na aparência perceptível justificava que apenas a caixa de Warhol fosse arte, e não aquelas do supermercado, isso queria dizer que aquele objeto se tornava especial graças a algo que não podia ser apreendido pelos olhos. Era o momento ideal, segundo o filósofo, para buscar uma definição universal: uma que precisaria dar conta de um Michelangelo, sim, mas também da Brillo Box, de Warhol. Se em boa parte de sua obra Danto apostou que não se deveria buscar a definição de arte nem na fidelidade figurativa nem em propriedades como o “belo” — de fato, ele quer eliminar as considerações estéticas na definição da arte —, o que seu derradeiro livro traz de novo é a reformulação de um elemento decisivo em sua obra. Em trabalhos anteriores, o filósofo já havia firmado posição quanto a uma definição possível: arte é significado incorporado. Em outras palavras: objetos requerem daqueles que os contemplam uma interpretação, a formulação de significados. Agora, sua tese vem ampliada: a incorporação desses significados é, para Danto, um processo “onírico”. A arte é como um “sonho acordado”, que guarda relação com a realidade, mas a permeia de inventividade e significados próprios.

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A própria ideia de que a arte hoje aceita tudo que se reivindique como tal, porém, deixa margem para acusações de mero engodo — o tubarão em formol, de Damien Hirst, ou as obras com esterco de elefante, de Chris Ofili, são exemplos. Acusações essas que não se resumem a conservadorismo de gosto ou incompreensão: a ausência de preocupações com o belo e com a estética tem provocado interessantes avaliações da arte contemporânea. O que importa, contudo, é que Danto deu um sentido profundo a uma investigação que está longe de esgotar-se.

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Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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