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Filme ‘Django’ abre Festival de Berlim em tom sombrio

Longa do estreante Étienne Comar fala do despertar da resistência do músico de origem cigana perseguido pelos nazistas

Por Mariane Morisawa, de Berlim
Atualizado em 9 fev 2017, 18h15 - Publicado em 9 fev 2017, 18h13

É meio tradição abrir um festival de cinema com um filme mais para cima, de preferência com toques cômicos como Ave, César!, de Joel e Ethan Coen, ou O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, ou divertidos, de gênero, como O Grande Mestre, produção de Wong Kar-wai sobre kung fu – todos longas de abertura em Berlim nos últimos anos. Sinal dos tempos, este não é o caso de Django, do francês Étienne Comar, que abriu o 67º Festival de Berlim na noite da quinta-feira (9) num tom sombrio.

O filme é uma cinebiografia de Django Reinhardt (Reda Kateb), músico conhecido por misturar o swing e o jazz com um toque cigano nos anos 1930 e 1940 – e que inspirou o nome do herói no western spaghetti de Sergio Corbucci, por sua vez homenageado por Quentin Tarantino em Django Livre. Comar, roteirista de filmes como Meu Rei, de Maïwenn, e estreante na direção de longas, decidiu, porém, focar num período específico, de 1943 a 1945.

Famosíssimo na época, Django, de origem cigana, só quer tocar sua música vibrante, sem se preocupar com o que acontece à sua volta, mesmo que, no caso, a França esteja ocupada pelos nazistas, que têm no povo também conhecido como roma um de seus principais alvos – a quantidade precisa de ciganos mortos no Holocausto é desconhecida, com estimativas variando entre 220.000 a 1 milhão. “Eu era fã de sua música, que costumava escutar na minha infância”, disse Comar na coletiva que se seguiu à sessão de imprensa. “Mas, ao focar nesse período especificamente, não tive como ignorar os paralelos com o mundo de hoje, os refugiados, o posicionamento do artista, as diversas formas de restrição de movimento.”

Django evita o sentimentalismo ao destrinchar de maneira gradual os horrores implementados com gosto por muitos franceses a mando dos nazistas. As ameaças chegam aos poucos, e a conscientização do músico sobre o que realmente está acontecendo, também. Por ser famoso, Django se via como imune à ira nazista, mesmo sendo cigano. No começo, há uma pressão comercial para tocar na Alemanha, para Goebbels, e, pouco tempo depois, os músicos estão recebendo ordens específicas sobre o que podem ou não tocar e de que maneira.

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“Sistemas terroristas frequentemente atacam a música”, disse Coman. “Não à toa a propaganda nazista tentou colocar regras no jazz, porque eles viam ali uma mistura de culturas que não era desejável em sua visão.” Até que, numa das cenas mais impressionantes, Django é levado para a cadeia, onde passa por um exame físico que mede seu crânio e tenta definir a queimadura em uma de suas mãos como um defeito genético próprio dos ciganos e seus casamentos consanguíneos. A situação fica insustentável, e Django, sua mãe (a excelente BimBam Merstein) e sua mulher (Beata Palya) fogem de Paris depois de receber um aviso da amante do músico (a personagem fictícia Louise de Clerk, interpretada por Cécile de France).

O filme parece replicar o passo-a-passo da perseguição, permanecendo em banho-maria por muito tempo e finalmente ganhando força no final. Tradicional no formato, é um longa que se encaixa no festival mais por lembrar que o totalitarismo costuma ter início com medidas suaves e até aparentemente bobas – como tem sido frequente ouvir nos últimos meses, o Holocausto que matou 6 milhões de judeus e de 25% a 50% da população cigana na Europa na época não começou com as câmaras de gás. Ou seja, o longa acaba falando que é preciso estar atento desde o princípio. No fim, Django vale mais pelo que diz do que por como diz.

Cena do filme Django
Beata Palya, Bim Bam Merstein e Reda Kateb no filme ‘Django’ (Berlinale/)
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