‘Faça menos coisas, mas dê o melhor de si’, diz autor de ‘Essencialismo’
Em entrevista a VEJA, Greg McKeown explica a filosofia essencialista da obra de autoajuda em meio ao lançamento da sequência 'Sem Esforço'
Semana sim, na outra semana também, o livro de autoajuda Essencialismo integra a lista de livros mais vendidos de VEJA. O motivo para tanto sucesso entre os brasileiros é simples: em meio a rotinas atribuladas, em que tudo parece ser prioridade, a filosofia do autor Greg McKeown ensina a estabelecer o que é, de fato, essencial. Desde que a obra foi lançada em 2015, no entanto, McKeown encontrou lacunas no modo de vida – preenchidas, agora, pela sequência Sem Esforço, que acaba de chegar às livrarias. Nas palavras dele, “Essencialismo é sobre fazer as coisas certas; Sem Esforço é sobre fazê-las do jeito certo”. Em entrevista a VEJA, o autor explica como as filosofias funcionam e se complementam, além de dar dicas para uma vida mais leve no mundo do trabalho. Confira abaixo:
O que é o essencialismo, em resumo? É uma forma de pensar em que se determina o que é essencial e elimina o que não é, principalmente no mundo do trabalho. Ao invés de fazer tudo por todos, e se sentir sobrecarregado e improdutivo, é melhor se questionar: Qual é a coisa mais importante que eu preciso fazer hoje? Onde serei mais útil? O que vai ser melhor para mim a curto, médio ou longo prazo? É bem provável que você não saiba as respostas imediatamente, mas, quanto mais se perguntar, mais perto você vai estar delas.
Como o lema “menos, mas melhor” funciona na prática? Fazer menos coisas, mas dar o melhor de si para que elas sejam feitas com uma qualidade extraordinária. Nós temos uma reserva limitada de energia e esgotá-la em milhões de tarefas simultâneas é não fazer bom uso dela; é, inclusive, um caminho para piorar seu desempenho. Quando você começa a falar ‘não’ mais frequentemente, você valoriza o que é de fato essencial.
Não é tão simples falar ‘não’ para o chefe. Como fazer isso sem arriscar o próprio pescoço? Muitas pessoas erroneamente acreditam que só existem duas respostas possíveis para o pedido de um chefe: um ‘sim’ educado ou um ‘não’ grosseiro. O caminho do ‘sim’ é mais popular, porque o ‘não’ pode limitar a carreira – ou acabar com ela de vez. O essencialismo defende a negociação: invés da negativa, ir pelo caminho das perguntas afáveis. “Em que você quer que eu trabalhe hoje?”, “Devo investir meu tempo nisso ou naquilo?”, “O que é mais importante para você?”. Quando essas conversas desconfortáveis, mas necessárias, acontecem, você valoriza seu tempo, energia, família, saúde e até desempenho profissional.
Já teve de passar por situações que te fizeram questionar essa filosofia pessoal? Quando o livro saiu, minha vida virou do avesso e me vi pai de quatro filhos: três biológicos e o Essencialismo como caçula. Eram conferências, reuniões, entrevistas. Eu já tinha removido o que não era essencial da minha vida, mas não tinha mais espaço para nada – e o que fazer, então? Tive esse estalo em uma viagem à trabalho, e recebi uma ligação quase ao mesmo tempo: minha filha estava tendo uma convulsão tônico-clônica, estágio inicial de uma doença neurológica debilitadora. Aprendi duas coisas a partir dessa situação, focos do meu novo livro: uma crise pessoal não te isenta de suas responsabilidades, e você pode estar fazendo as coisas certas pelos motivos certos, mas não do jeito certo.
E qual é o jeito certo? Como conciliar ambas as filosofias com as responsabilidades da vida adulta? É claro que emergências familiares são prioridade máxima, mas, quanto aos outros deveres, é preciso encontrar um ritmo diário e estável para desempenhá-los bem. Digamos que você esteja escrevendo uma dissertação. Tem dias em que você está inspirado e consegue escrever dezenas de páginas, mas fica exausto; tem dias em que mal consegue um parágrafo, continua exausto e, acima de tudo, frustrado. O que eu sugiro é estabelecer uma meta diária de, por exemplo, cinco páginas, e segui-la à risca. Não faça mais, nem menos, do que você se propôs. Isso vale para arrumação do lar, e-mails que você responde, lições de casa dos filhos. A consistência te leva mais longe e mais rápido do que dar tudo de si em todas as suas tarefas, todos os dias.