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Fabio Porchat, o humorista que não perdoa ninguém

Mesmo trabalhando na Globo, o criador do site 'Porta dos Fundos' tem na internet a sua plataforma preferida

Por Gabriele Jimenez
Atualizado em 25 mar 2021, 16h14 - Publicado em 20 jan 2013, 15h04

“Gosto de escrever sobre coisas que me irritam, e o tratamento que as empresas dispensam aos clientes me irrita muito”

O jovem político é maquiado, se prepara, olha para a câmera e começa o discurso. “Eleitor brasileiro: nesta eleição, vote em alguém que sabe o que está fazendo”. Começa a rir e recomeça: “Vote naquele que fará pela saúde, pela educação …”. Cai na gargalhada de novo. Assim faz várias vezes. No fim, sempre rindo, vira para a equipe de gravação e diz: “Este é o meu terceiro mandato. Eu não fiz nada até agora. Eu vou fazer o quê pela educação, gente?”.

A cena absurda já foi vista por 2 milhões de pessoas na internet. Trata-se de uma das muitas criações do carioca Fabio Porchat, que, aos 29 anos, espalha por todos os palcos a seu dispor o talento de um dos mais promissores – e ocupados – humoristas do país. O palco número 1 é a internet, onde escreve e atua nos vídeos do Porta dos Fundos, portal do Youtube que fundou com quatro sócios em agosto e que, na sua curta existência, já foi acessado 60 milhões de vezes. Em paralelo, está em cartaz há dois anos com seu show, Fora do Normal, sempre lotado; escreve e participa do dominical Esquenta, de Regina Casé; é integrante fixo do elenco de A Grande Família, interpretando o afeminado Júnior; e atua em Meu Passado me Condena, seriado do Multishow que deve virar filme em breve. A jornada começa por volta das 10h e, muitas vezes, segue até 3h ou 4h da madrugada. “Ele está sempre atolado de projetos, mas no trabalho é muito tranquilo. E mostra talento para tudo: escrever humor e dramaturgia, atuar e dirigir”, elogia Guel Arraes, diretor de núcleo da Globo.

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Aos 18 anos, Porchat abandonou São Paulo e a faculdade de administração em que acabara de entrar para estudar teatro no Rio de Janeiro. Durante cinco anos, morou de favor na casa de uma tia. Desde então, melhorou as acomodações: atualmente, ele e a mulher, a atriz Patricia Velazquez, vivem em um apartamento de 140 metros quadrados no bairro de Laranjeiras que no dia da entrevista mais parecia um cenário de guerra. “Desculpe a bagunça, é que mandei descupinizar”, anunciou um sorridente Porchat, vestindo uma camiseta de Che Guevara com nariz de palhaço, ao abrir a porta. Não é o estado normal do mundo à sua volta. “O Fabio tem mania de limpeza. Fazemos muitas noites de jogatina na casa dele, principalmente jogos de mímica. Ele adora receber, mas detesta louça suja. Às vezes levanta para lavar no meio do jogo”, conta Ian SBF, sócio no Porta dos Fundos e melhor amigo. Porchat nega: a mania não é de limpeza, é de organização. “Em casa, quem deixa a toalha molhada em cima da cama é a Patrícia”, garante. Este traço de personalidade ajuda na hora de definir sua atribulada rotina — costuma distribuir os compromissos durante o dia e escrever à noite. “Nessa hora eu digo para mim mesmo: agora vou ter uma ideia. Aí paro tudo, sento e escrevo”, diz. “Quem fica esperando a inspiração chegar não sai do lugar”.

Porchat é do tipo que fala muito, em alto e bom som, gesticula e não para quieto. Conta que o primeiro emprego, em 2006, foi de redator do programa Zorra Total. Foi ficando conhecido e ocupando espaços até que chegar à internet e decuplicar a audiência. “A internet não é o futuro. Ela é o presente, o totalmente agora”, diz. No Porta dos Fundos, 56 vídeos — por enquanto — de em média 3 minutos dissecam situações cotidianas com fina (às vezes, não muito fina) ironia. O mais popular, uma sátira ao atendimento de uma rede de fast food em que um balconista impaciente tortura a cliente indecisa, foi tão comentado que a empresa, em vez de brigar, uniu-se ao crítico. “Eles nos contrataram para fazer duas continuações”, diz Porchat. Não revela o valor do contrato, mas deu para cobrir os custos de oito novos vídeos. “Foi a primeira vez que realmente ganhamos dinheiro com o site. O mais comum é tirarmos do nosso bolso para bancar o projeto”, conta.

As corporações não costumam deixar passar as brincadeiras do Porta dos Fundos. As latinhas de Coca-Cola com nomes são o alvo mais recente do humorista, que, vestido de funcionário de um supermercado, desanca uma cliente que procura por “Kellen” na prateleira. O funcionário é Uelerson. Brincadeira feita, problema resolvido: a Coca-Cola soltou em sua página oficial no Facebook as imagens de novas latas para o que chamou de “nomes caprichados”.

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Outro roteiro que, por pouco, não saiu do papel, contaria com a participação do prefeito do Rio, Eduardo Paes, em pessoa. No vídeo, Paes escutaria, atônito, as ideias de Porchat, no papel de um publicitário organizando a festa do fim do mundo no Rio. Uma delas: “A gente bota a Daniela Mercury cantando em Copacabana e o maremoto levando a multidão”. A ideia não vingou, mas o convite ao prefeito foi bem aceito e continua em aberto.

O dinheiro que ainda falta ganhar com a popularidade na internet ele compensa com os gordos honorários pagos por empresas que o contratam para festas e comemorações variadas, sem ligar para o fato de que espinafrar corporações é um dos esportes favoritos de Porchat. Além da rede de restaurantes, uma operadora de celular e uma companhia aérea já estiveram na mira da fúria cômica dos vídeos do portal. “Não é que eu fique pensando de qual empresa vou falar mal hoje. Eu gosto de escrever sobre coisas que me irritam, e o tratamento que elas dispensam aos clientes me irrita muito”, explica. Também fala muito sobre “minha mulher” nos textos humorísticos, incorporando em Patricia os defeitos de todas as mulheres, mas ela diz que não liga. Incomoda mais, ressalta, a mania dele de cair na risada toda vez que ela lhe dá uma bronca. “Acho minha mulher brava uma coisa divertidíssima”, confirma Porchat. Afinal, alguém escapa das piadas dele? “O sogro. Perto do meu pai, o Fabio fica todo sério, todo formalzinho”, entrega Patricia. Um bom tema para um vídeo no Porta dos Fundos.

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