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Está em curso uma demonização da cultura, diz organizador do Trem do Samba

Evento que reunia 100 mil pessoas na Zona Norte do Rio não conseguiu patrocínio

Por Leandro Resende, do Rio de Janeiro
28 nov 2019, 19h56

No começo do século XX, Paulo da Portela encontrou uma maneira original de driblar a repressão policial ao samba. Saía de trem, da velha Central do Brasil, na direção da Zona Norte carioca. Nos velhos vagões, serpenteando pelos trilhos, tinha uma espécie de “sede móvel” da sua Portela, criada naqueles tempos, e alicerçava ali as bases do gênero musical que mudou a história do Rio de Janeiro e do Brasil. Nos anos 1990, o sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz retomou a tradição, transformou o Trem do Samba em um evento para 100 mil pessoas e levou bambas como Dona Ivone Lara, Wilson Moreira e Nelson Sargento aos palcos do subúrbio do Rio. Neste 2019, pela primeira vez em 24 anos, a locomotiva não sairá: sem patrocínio, Marquinhos não conseguiu apoio para organizar o evento.

À VEJA, Marquinhos afirmou que está em curso uma “demonização da cultura” e que isso afetou o Trem do Samba na busca por patrocínios. “Tentei um milagre até ontem, mas o desrespeito é muito grande com o samba. Fui em várias cervejarias e botaram eu e minha equipe para negociar com garotos. Sugeriram da gente vender cerveja para bancar o evento. É muita falta de respeito”, afirmou.

Até 2016, relata Marquinhos que a prefeitura do Rio bancava toda a estrutura do evento, do cachê dos músicos aos banheiros químicos, além dos palcos que se espalhavam por Oswaldo Cruz. No primeiro ano do mandato do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), em 2017, uma cervejaria bancou o evento. No ano passado, os músicos aceitaram tocar sem receber cachê. Em 2019, apesar das secretarias de cultura municipal e estadual terem tentado, não apareceram parceiros dispostos a investir. “Isso não é certo. O samba tem que se valorizar, o sambista precisa receber pela sua arte, não pode ser tratado de qualquer jeito”, disse Marquinhos. Segundo ele, um único dia de Trem do Samba gerava 1500 empregos diretos, sendo 700 apenas de pessoas envolvidas na montagem da estrutura da festa.

O sambista acredita que a recusa das empresas em patrocinar o Trem do Samba é, também, reflexo da polarização ideológica no Rio e no Brasil. “Demonizaram as leis de incentivo para cultura, então as empresas ficam receosas, além do preconceito contra o samba. O evento que organizo não é qualquer coisa, não é algo que tira dinheiro de saúde e educação. Gerar cultura, exaltar a luta dos antigos para fazer samba, isso gera retorno cultural e financeiro para cidade”, afirmou Marquinhos de Oswaldo Cruz.

A prefeitura do Rio anunciou o evento “BRT do Samba”, que será realizado neste sábado 30. Ônibus articulados com sambistas sairão de Madureira para Barra da Tijuca, Zona Oeste da Cidade. Inconformados com o cancelamento do tradicional Trem do Samba, os cariocas prometem dar a resposta no dia 7 de dezembro, cinco dias depois do Dia Nacional do Samba. Nas redes sociais, grupos de sambistas se organizam para partir da Central do Brasil “no gogó e na raça”. Marquinhos de Oswaldo Cruz elogiou a iniciativa. “É legal esse movimento, de irreverência e de resistência. O Trem do Samba era um evento grandioso. É uma marca na cultura do Rio de Janeiro, arrisco que é o maior evento de música tradicional do Brasil. Oswaldo Cruz é um museu do Louvre a céu aberto, mas que está perdendo sua cor”, afirmou ele, que garantiu a realização do Trem do Samba em 2020. “A gente do samba merece mais do que migalhas. No ano que vem o trem sai”, prometeu.

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