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Entrevista Faith No More: ‘O rock não morreu, só ficou estranho’

Billy Gould, baixista e produtor da banda, atração do Rock in Rio nesta sexta, e no Espaço das Américas, nesta quinta, em SP, fala ao site de VEJA sobre o retorno aos palcos, o novo disco e a atual indústria musical

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 set 2015, 16h41

Enérgico, criativo e instigante, o Faith No More fez história entre os anos 1980 e 90 com uma mistura de referências que acabou apelidada de metal alternativo, subgênero do heavy metal. A banda, contudo, tinha muito mais a oferecer do que o rótulo permitia. Era um experimento musical que mostrava sua força nos palcos, em shows furiosos e divertidos. Pena que o entrosamento ao vivo dos cinco integrantes não era o mesmo no cotidiano. O climão entre os roqueiros era tanto que culminou no fim da banda após o lançamento do disco Album of the Year, em 1997.

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Foi necessária mais de uma década para que Mike Patton (vocal), Billy Gould (baixo), Mike Bordin (bateria), Roddy Bottum (teclado) e Jon Hudson (guitarra) decidissem retomar a amizade e, por que não, a vida de estrelas do rock. “É difícil reconstruir a confiança entre as pessoas”, diz Gould em entrevista ao site de VEJA. “Tem sido um processo bem estranho. Não sei dizer se realmente entendo como tudo isso aconteceu.”

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A volta aos palcos ocorreu em 2009, que serviu como um período de experiência para testar a banda e levar ao próximo passo, a produção de um disco de inéditas depois de 18 anos sem lançamentos. “Quando o Faith No More acabou, ainda não tínhamos dito tudo que havia para dizer. Sempre senti que existiam mais músicas a serem feitas. Fiquei frustrado que essas canções não teriam a chance de serem ouvidas”, conta Gould.

Sol Invictus, o novo disco, sétimo da carreira, foi lançado em maio deste ano. A expectativa é que faixas do trabalho sejam apresentadas no Rock in Rio 2015, onde o grupo sobe ao palco Mundo no dia 25, sexta-feira, às 22h30, antes dos mascarados do Slipknot. Confira abaixo a entrevista completa com Billy Gould, baixista e produtor da banda:

Hoje os senhores estão na faixa dos 50 anos de idade. Como se compara com a banda de 20 anos atrás? Com certeza estamos mais maduros, o que nos torna músicos melhores. Não dá pra ter um sem o outro. Quando você amadurece, olha para seu trabalho de forma diferente. É mais firme e efetivo. Eu fiz parte do Faith No More por 17 anos, e depois, por mais 15, trabalhei sozinho como produtor. De todo esse tempo eu percebi que nada na verdade importa. As pessoas gostam de algo hoje, e amanhã podem não gostar mais. A única coisa que importa é a qualidade do seu trabalho como um indivíduo. Por isso sou viciado na qualidade do que eu faço. Tem que estar 100%, pois, no fim, é a única coisa que vale a pena.

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A indústria musical passou por muitas mudanças durante o hiato do Faith No More. O senhor acredita que foi mais difícil voltar em um período como o atual? Na verdade não. O retorno para gente não foi ruim porque as pessoas já sabiam quem éramos, conheciam o nome da banda. Mas acho que se fosse uma banda nova, em começo de carreira, hoje seria muito mais difícil emplacar.

Entre os muitos atributos do grupo, alguns que se destacam são a criatividade e o humor. Como enxerga estas características no cenário musical de hoje? Acho que falta criatividade na indústria musical. Isso apesar da crise que o setor vive. Sempre pensei que quando um negócio vai mal, a criatividade volta à tona. Pois faz as pessoas trabalharem mais e tentarem coisas novas. Mas o que eu tenho visto é que os músicos ficaram cada vez mais conservadores.

Na entrevista que vocês deram para a Rolling Stones americana, quando decidiram voltar, o processo do retorno pareceu natural, mas receoso. Sim, foi isso mesmo, é difícil reconstruir a confiança entre as pessoas. Tem sido um processo bem estranho. Não sei dizer que entendo como tudo isso aconteceu. O que posso afirmar é que, para mim, foi um momento para ser paciente e deixar o curso natural das coisas seguir adiante.

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Conseguiram reconstruir essa confiança entre os membros da banda? Ainda somos as mesmas pessoas que sempre fomos. Então existe a preocupação de o relacionamento voltar a dar errado. Mas eu acho que agora, como banda, estamos trabalhando muito bem juntos. Dá para ver no palco como estamos entrosados, fortes, consistentes. Talvez mais consistentes que antes. Então, agora, creio que superamos os problemas de verdade.

Ficaram nervosos com o retorno? Quando voltamos a fazer shows, na verdade, eu senti um pouco de nervosismo. Não nos víamos há muito tempo e fiquei imaginando se os shows teriam a mesma energia que costumavam ter, pois nossas apresentações ao vivo sempre foram muito boas. Mas esse receio foi embora logo no começo da agenda que fizemos, pois os shows foram fantásticos. Toda preocupação que eu tinha se dissipou.

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Lembra-se de algum momento que foi importante e inspirou o reencontro do grupo? Nosso tecladista se casou e todos fomos à festa. Estávamos há tanto tempo sem nos ver. Aquilo nos conectou em uma condição pessoal. Foi um momento importante, que fez com que nos enxergássemos novamente como pessoas.

O novo disco foi feito de forma totalmente independente. Qual a importância de lançar um trabalho de inéditas depois de tanto tempo dessa forma? Para mim, quando o Faith No More acabou, ainda não tínhamos dito tudo que havia para dizer. Sempre senti que existiam mais músicas a serem feitas. Fiquei frustrado que essas canções não teriam a chance de serem ouvidas. Por isso, esse álbum foi muito importante e precisou ser feito dessa maneira. O que acontece é que quando uma banda fica famosa, as pessoas passam a ter muitas opiniões sobre o que você é. Os fãs têm uma ideia, a imprensa tem outra, a gravadora tem outra. Então é fácil perder a conexão entre os músicos como indivíduos. Então fazer nosso próprio álbum, no nosso canto, foi uma maneira de nos conectarmos de novo sem interferências. Foi a melhor maneira, pois é completamente nosso. Ficou 100% como queríamos. Era importante pra gente fazer isso.

Seu primeiro contato com o rock foi durante a cena punk. Como você vê a evolução do estilo? Faz parte do clube que acredita que o rock morreu? Eu já concordei muitas vezes que o rock estava morto. Eu tenho 52 anos, então eu pensei que o rock tinha morrido quando eu tinha 18, e depois aos 25, depois ao 30. Passei por muitos períodos que achei que era o fim. Mas sempre percebo que eu gosto tanto do estilo e que sinto falta se não estou ouvindo algo novo. Eu costumava olhar o rock em uma linha reta. Teve o rock ‘n’ roll, o heavy metal, o rock progressivo, o punk, o pós-punk, tudo em uma sequência. Mas como o mundo é hoje, não vejo mais uma linearidade. Acho que é tudo bem diferente. Não vejo uma conexão entre uma era e outra. Então realmente acho que o rock não morreu, mas está um tanto estranho.

Quais são os planos para o futuro da banda? Isso é algo que discutiremos em outubro. Por enquanto, não existem planos.

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