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Em ‘O Gebo e a Sombra’, Manoel de Oliveira, 103, aborda a pobreza

Por Mariane Morisawa
7 nov 2012, 15h37

Manoel de Oliveira, o cineasta mais velho em atividade, não para, apesar de seus 103 anos – faz 104 em dezembro. Ele tem dirigido em média um longa-metragem – e às vezes aindas um curta – por ano. Suas obras normalmente têm forte base literária ou teatral, e não é diferente em O Gebo e a Sombra, adaptação da peça de Raul Brandão selecionada para a programação da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e para a repescagem do evento, com reexibição marcada para a próxima quarta, dia 7, às 21h, no CineSesc.

Uma casa soturna e simples habitada por Gebo (Michael Lonsdale), sua mulher Doroteia (Claudia Cardinale) e a nora do casal, Sofia (Leonor Silveira), é assombrada pelo filho João (Ricardo Trêpa, neto do cineasta), sumido há oito anos. Gebo orgulha-se de sua pobreza – no Festival de Veneza, onde o filme estreou, o ator Luis Miguel Cintra contou que o projeto nasceu de um desejo de Manoel de Oliveira de abordar o assunto, o que faz sentido num país devastado pela crise como Portugal. O protagonista diz que é possível ser honesto e honrado ou então “tentar enriquecer”. Apesar das instalações modestas, Gebo e Doroteia recebem amigos em pior condição para o jantar: o artista Chamiço (Luis Miguel Cintra) e Candidinha (Jeanne Moreau). Quando finalmente reaparece, João, que foi embora por não se conformar à pobreza, mostra ser o oposto de seu pai.

O Gebo e a Sombra já seria uma delícia por reunir numa sala de jantar tantos monstros sagrados do cinema, o que pode ser interpretado também como um comentário sobre o estado geral da arte em tempos de financiamento curto. A velha geração contrapõe-se à nova em tudo. Em termos formais, Manoel de Oliveira aplica o rigor de sempre e é impressionante o que consegue extrair de sua câmera fixa em espaço tão exíguo e tão escuro, num trabalho meticuloso do diretor de fotografia Renato Berta.

A ação parece se passar num universo paralelo, um refúgio isolado apenas parcialmente da crueldade lá de fora. No filme anterior, O Estranho Caso de Angélica, em que um fotógrafo (Ricardo Trêpa) escapava de seu mundo ao se encantar por uma moça morta, havia um quê da magia das obras de Georges Méliès. Aqui a realidade se impõe mais. Como sempre, com seu andamento lento e pausas para respiro, Manoel de Oliveira faz pensar até onde é eticamente válido ir na busca de dinheiro.

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