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‘Em determinado momento eu me tornei uma boa ideia’, diz Matthew Mcconaughey

Protagonista do filme 'Clube de Compras de Dallas', o ator perdeu 19 quilos para viver o papel de um caubói homofóbico e HIV positivo. O esforço valeu a pena: ele é o favorito para levar o Oscar 2014

Por Pedro Caiado, de Londres
22 fev 2014, 14h41

Este é o ano de Matthew Mcconaughey. O ator de 44 anos, conhecido no passado por protagonizar filmes leves, geralmente envolvendo comédias românticas, mudou o rumo de sua carreira com papéis mais densos nos últimos anos. Em Clube de Compras de Dallas, um filme de orçamento reduzido (apenas 5,5 milhões de dólares), ele perdeu 19 quilos para viver o personagem Ron Woodroof.

Ron é um homem que contrai HIV durante os anos 80. Após o diagnóstico, os médicos dão apenas 30 dias de vida. A sentença de morte, no entanto, é o início de sua luta contra a doença. Ele sai à procura de novas drogas e abre um clube para distribuir medicamentos negados pelos hospitais na época. A transformação de Matthew em Ron é extrema.

O ator e músico Jared Leto vive um travesti com a mesma doença. O filme recebeu seis indicações para o Oscar e se Mcconaughey é favorito para levar a estatueta de melhor ator, muita gente aposta também em Leto para o prêmio de melhor coadjuvante.

Em entrevista coletiva concedida em Londres, Matthew conversou sobre a mudança de rumo em sua carreira, sobre a como encontrou energia para atuar estando tão magro e ainda explicou de onde surgiu a ideia de fazer a cena com a batida no peito no filme O Lobo de Wall Street.

Como aconteceu essa mudança de rumo na sua carreira? Eu diria que estou no mesmo livro, mas em um capítulo diferente. Eu mudei de marcha. É um novo tempo na minha vida e eu queria redirecionar a minha carreira. isso não quer dizer que eu não tenha gostado do que fiz antes. Algumas comédias românticas que eu fiz eram ótimas. Eu gostei dos últimos 22 anos, mas não queria continuar me repetindo. Eu não sou arrogante suficiente para vaiar qualquer coisa que eu tenha feito no passado. Eu não estaria sentado aqui se eu não tivesse feito o que eu fiz. Quando eu comecei a negar as ofertas, foram seis meses sem novas ofertas e um ano e meio nas sombras. Eu me tornei anônimo, pois as pessoas não me viam em comedias românticas e perguntavam por onde eu andava. Após esse período de seca, eu comecei a me tornar uma boa ideia para pessoas como o Steve Soderbergh (que o chamou para Magic Mike). E esses papéis mais densos começaram a vir na minha direção. Eles só vieram porque eu comecei a dizer não para outro tipo de trabalho.

Quando esse papel apareceu na sua mesa, você conhecia essa história? Não. Eu não tinha ideia. Esse roteiro estava rodando há 20 anos. Eu não sabia nada sobre esse clube. Mas eu queria fazer. Eu falei para meu agente; “Tenha certeza de que eu não perca esse papel”. Na época, eu estava entre um projeto e outro com Magic Mike e Killer Joe. As pessoas diziam que não havia possibilidade financeira de fazer. Quando finalmente estávamos filmando, não sabíamos se conseguiríamos terminar – o dinheiro acabou antes do fim das filmagens. O orçamento era tão baixo que eu posso dizer que há mais luzes nessa sala do que haviam no set do filme.

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O que você sentiu quando se viu no filme pela primeira vez? A primeira cena, eu lembro, eu pensei: “Meu Deus, você parece com um réptil”. Mas, daí eu entrei na história e não me lembrei mais que era eu. Eu confesso que não há garantias de que isso aconteça quando um ator assiste a seus filmes, mas posso dizer que nesse caso aconteceu comigo. E, no fim, eu pensei como aquele cara era selvagem.

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Com todas essas dificuldades financeiras de orçamento, você teve dúvidas quando filmava? Todos tinham aquela sensação de que estavam fazendo algo que não iria dar certo. Era um projeto para o qual muita gente havia dito não e levou vinte anos para ser feito. Nós estávamos sozinhos. A sensação era: “Não vamos fazer isso”.

Qual o momento mais difícil Provavelmente foi uma cena em que eu dizia para o médico: “Estou morrendo aqui”. Entender o significado da palavra “morte” e da mortalidade foi um choque pessoal para mim. Mas, em nossas vidas, por tantas vezes, temos de lidar com situações de estar entre a vida e a morte. E olhando para o meu passado, percebo que uma das situações mais importantes, a que me fez tornar um homem, foi a morte do meu pai.

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Você vai estar em uma série da HBO este ano. Há diferenças entre TV e cinema hoje? Esse tabu, de TV e cinema, não existe mais. Existia talvez há 15 anos, mas hoje, há qualidade na TV. Alguns dos melhores trabalhos atualmente estão na televisão. Eu não hesitei em aceitar esse trabalho pelo fato de que seria TV, mas por receio de que a rede talvez quisesse fazer mais episódios e eu tivesse que retornar. Não foi o caso. Essa é uma série baseada em um roteiro de 450 páginas. E a qualidade era tão boa que eu não tive dúvidas.

Você teve medo que seu personagem em Clube de Dallas não fosse aceito pelo público? O desafio desde o inicio foi manter o jeito dele. Ele era uma cara que não dava desculpas. Essencialmente ele é o mesmo sujeito – o mesmo filho da mãe – antes e depois da doença. E foi o que o manteve vivo por mais sete anos após o diagnóstico de Aids. Nós decidimos não fazê-lo como um salvador. Isso viria naturalmente. Não queríamos também amarrar o filme de uma maneira que mostrasse a moral da história. E eu acho que foi o que ajudou. Muita gente nem suporta ver esse cara. Eu não estou preocupado se as pessoas vão compreendê-lo. Ele era um cara normal. O coração da história aparece naturalmente.

Você disse que leu o diário do Ron, seu personagem. Foi importante? Sim. Foi minha arma secreta. Foi ali que eu consegui ter o monólogo do Ron. Ele dialogava com si mesmo. E era muito entrelinhas. A maneira com que ele escrevia era meticulosa. No domingo à noite, ele programava a semana, onde precisava ir, quanto ele tinha de dinheiro, etc. Eram muitos detalhes. No próximo dia ele dizia: “Eu perdi o trabalho que tanto precisava” e durante a semana ele começava a ficar mais positivo, até o final de semana, em que ele escrevia poesias. Na segunda-feira ele voltava a ser meticuloso de novo, até o próximo final de semana em que sempre falava de encontros amorosos. Tudo que eu li era heterossexual. E tudo que estava lá, era sobre seu relacionamento com mulheres.

Você perdeu quase 20 quilos para o papel. De onde você tirou energia estando tão magro? A quantidade de energia que eu perdi no corpo, ganhei do pescoço para cima. Eu vi pessoas morrendo de Aids e câncer, que apesar de estarem magérrimas, mostravam em seus rostos muita força. Eu só dormia três horas por noite. Só quando alguém disse: “Parabéns, as filmagens terminaram”, foi que a ficha caiu e eu me dei conta de tudo que havia feito.

Sobre seu papel em O Lobo de Wall Street, é verdade que foi sua a ideia da cena em que bate no peito? Sim. Antes de cada cena minha, eu fazia esse “aquecimento” de bater no peito. Mas fora de cena. Até que o Leonardo DiCaprio me perguntou; “Peraí, e se você fizer isso na cena?”. Foi assim. Aliás, eu fiz O Lobo de Wall Street enquanto eu estava perdendo peso para esse filme. O Martin Scorcese pediu para que eu parasse um pouco minha perda de peso enquanto filmava.

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