“Eles querem salvar o planeta”, diz Cao Hamburger, de ‘As Five’
Em sua estreia no streaming, o cineasta de 58 anos desbrava na série o universo dos jovens entre 18 e 30 anos, uma geração que demonstra imensa vitalidade
O que concluiu sobre a juventude brasileira no vasto mergulho que fez para a série As Five? Entendi a encrenca que a chamada Geração Z está vivendo. São seres hiperconectados, superinformados, conscientes, solidários, que nutrem a ideia de que vão consertar tudo, salvando a humanidade e o planeta. Mas aí se tornam adultos e esbarram em crises políticas, na radicalização e no lado menos glamoroso do mundo digital. Apesar das dificuldades, tenho muita confiança neles. Formam uma geração especial, uma turma mais ou menos entre 18 e 30 anos, capaz de nos tirar do buraco.
Depois de tantas obras para o público infantil, entre elas o célebre Castelo Rá-Tim-Bum, como foi a conversão para uma plateia mais velha? Fiz uma pesquisa cuidadosa, em tempo integral, à base de muitos encontros e conversas com jovens, só ouvindo, ouvindo. Ajudou também o fato de a equipe ser talentosa e de ter diferentes backgrounds, com um olhar essencial para a diversidade.
As Five é protagonizada por cinco personagens saídas de sua última trama de Malhação, da Rede Globo. O que explica o interesse por elas? Primeiro, são cinco amigas de carne e osso, que brigam e se apoiam em uma amizade para valer, real e não virtual. Outro ponto é que esse grupo de mulheres se ampara justamente na valorização da diversidade cultural, étnica, religiosa e de orientação sexual. Os brasileiros se identificam imediatamente. Evitei maniqueísmos e julgamentos.
A cena de uma das personagens se masturbando causou barulho. Esperava essa reação? Sim. Essa talvez tenha sido a primeira cena de masturbação feminina na TV brasileira e foi muito bem interpretada e dirigida, de maneira sensível e sem apelação.
Como foi a experiência nesta sua primeira produção para uma plataforma de streaming (Globoplay)? Adorei. O espectador decide quando, como e a que assistir, e isso traz uma maior concentração e mais envolvimento. Temos no streaming mais liberdade para experimentar linguagens e formatos e aprofundar assuntos que podem ser delicados na televisão aberta.
A TV aberta tende a acabar? Acho que ela e o streaming vão conviver ainda por muito tempo, cada qual com suas características e atrativos. Aliás, eu continuo a gostar muito da TV aberta.
O que planeja para a segunda temporada da série? Posso adiantar que o grande desafio será conversar com um Brasil e um mundo transformados pela pandemia.
Publicado em VEJA de 10 de fevereiro de 2021, edição nº 2724